Clap,
clap, clap.
Aplaudo
de pé uma frase de Lula de hoje: “Não leio FHC”.
É
um aplauso apartidário e apolítico. Quero com isso dizer o seguinte: aplaudiria
também FHC se ele dissesse que não lê Lula.
![]() |
Ex-presidente Lula (Heinrich Aikawa/Instituto Lula). |
Lula
disse o que disse quando jornalistas lhe perguntaram o que achara de um artigo
de FHC em que este acusava Lula de tergiversar quando o assunto é o Mensalão.
A
sabedoria da resposta reside no seguinte: você não deve ler quem aborrece você.
Já
escrevi sobre isso. Falei do “BIM”, o Brasileiro Indignado com a Mídia. É
alguém de esquerda, homem ou mulher, e que gasta o seu dia lendo os blogueiros
da Veja, ouvindo os comentaristas da CBN e vendo, à noite, os telejornais da
Globo.
No
dia seguinte a esse massacre jornalístico, ele posta sua raiva nas redes
sociais.
Não
se dá conta de que está alimentando o inimigo com seu consumo indigesto de
notícias, e fazendo mal a si próprio.
Reinaldo
Azevedo sempre tripudia sobre os “petralhas” que o lêem. (Azevedo parece mais
orgulhoso por ter criado a palavra “petralha” do que Balzac por ter criado A
Comédia Humana.)
Vejo
alguns BINS alegarem que é importante conhecer o pensamento dos adversários.
Ora, há maneiras menos penosas de fazer isso.
Há
uma triagem natural que faz com que os textos ou vídeos importantes cheguem a
você na internet.
Eu,
por exemplo. Não tive que ouvir Jabor todo dia para, em determinado momento,
saber que ele, na CBN, avisou em maio que o Brasil daria um vexame mundial na
organização da Copa.
Penso
em Gandhi, e vejo nele uma ação que deveria inspirar o BIM. Num determinado
momento de sua vida, Gandhi comandou um boicote de produtos dos imperialistas
ingleses.
Talvez
um boicote funcionasse melhor do que posts irados nas redes sociais, e o desgaste
físico e emocional dos indignados seria bem menor.
Lula
faz isso. Boicota os artigos de FHC. Não é a primeira vez que o vejo agir
assim. Ele já contou que, num certo momento de sua gestão, parou de acompanhar
a mídia, ou enlouqueceria.
É
o chamado manual de sobrevivência.
Na
minha carreira jornalística, deixei um dia de ler a Folha, que me fazia mal por
sua arrogância e negativismo. Também deixei de ver o Jornal Nacional, por achar
maçante e obcecado com más notícias.
Minha
carreira não sofreu prejuízo nenhum com tais decisões. O tempo ganho ao não ler
a Folha e não ver o JN acabou dedicado a coisas mais proveitosas para minha ascensão
pessoal e profissional.
Eventuais
– raras – coisas importantes da Folha ou JN sempre acabaram chegando até mim.
Não
ler o que enraivece você é um ato filosófico.
Aplaudi
Lula, e aplaudirei FHC se um dia ele disser: “Não leio o Lula”.
A análise
é de Por Paulo Nogueira e foi publicado originalmente no Diário do Centro do
Mundo