Graças
ao Valor, ficamos sabendo que Marina Silva, a campeã da transparência, teve um
encontro privado (secreto seria melhor, porque nem sequer foi informado que
haveria a reunião, da qual só se soube por uma nota na coluna de Sonia Racy, no
Estadão) com a “turma da bufunfa” reunida pelo Banco Credit Suisse.
Conversar,
com quem quer que seja, não é um problema – antes, é um dever – de qualquer
candidato, como está evidente que Marina é, mas chama atenção o que foi dito.
Transcrevo:
“A
ex-senadora defendeu a volta do tripé macroeconômico baseado na adoção de metas
de inflação, câmbio flutuante e política fiscal geradora de superávits
primários. Conforme relato de investidores que estiveram no encontro, ela disse
que o tripé “ficou comprometido e é preciso restaurá-lo”.
Bem,
como se sabe que esse colar cervical implantado sobre a economia brasileira –
para que ela não deixe de estar voltada para os interesses do “mercado” – jamais foi retirado, mesmo pelos governos
Lula e Dilma, mas simplesmente afrouxado, o que Marina propõe pode ser resumido
em uma palavra: arrochá-lo.
E
como é “arrochar” esta coleira?
Primeiro,
cortar gastos e investimentos. Nada de inventar ampliação de programas sociais,
expandir investimentos e nada que tire nossos olhos de gerar superávits primários “expressivos, sem
manobras contábeis”.
Manobras
contábeis de que tipo? A de tirar os investimentos do PAC das contas do
superávit que o “mercado” nos exige?
O
que propõe a líder da nova política, quase sem rebuços, a líder da nova
política é voltarmos aos tempos de Fernando Henrique. Com muito boa vontade,
talvez, aos primeiros anos do Governo Lula, quando este ainda teve de manter o
tal colarzinho neoliberal apertado, até que a água tivesse baixado do pescoço e
permitisse a ele se mover.
Dia
ainda o jornal:
“Na
avaliação dela, o combate à inflação foi relegado (sic)pelo governo. Para
recuperar a credibilidade, afirmou, é preciso dar ao mercado sinais claros,
“quase teatrais”, de que a inflação será levada ao centro da meta.”
Como
seria este relegar (supõe-se que a uma posição secundária) o combate a
inflação? Aumentar mais as taxas de juros? Impedir aumentos salariais,
especialmente na administração pública? Cortar financiamentos e subsídios
públicos? Travar os programas de transferências de renda?
Seriam
perguntas interessantes a fazer para a candidata que “arrendou” o PSB para seus
apetites eleitorais, se a imprensa brasileira, em relação a Marina Silva
buscasse alguma objetividade, fora das expressões pernósticas e vazias.
Quanto
aos “gestos teatrais” de que a inflação será levada ao centro da meta, de tão
ridículo, é algo que me poupo de comentar. A ideia de aterrorizar o país em
relação a aumentos de salários, de preços e de falta de recursos para ações sociais
é tão velha e inútil quanto os “fiscais do Sarney”.
Nenhuma
palavra sobre os desafios sociais que o Brasil precisa enfrentar, apenas sobre
o regresso a práticas que só aumentaram este passivo do país para com o povo
brasileiro.
Marina
vai completando sua anti metamorfose e se oferece como a possibilidade de dar
uma cara nova ao que, nos últimos anos, tem sido a forma de dominação deste
país: ser governado para a moeda, não para o povo.
Não
é à toa que os endinheirados da plateia tenham adorado:
“Com
um discurso marcado por questões caras ao mercado financeiro, a ex-senadora foi
descrita como “impressionante” e “cativante” por fontes que assistiram à
palestra”.
Marina
absorveu a ideologia das elites. Já pode ser seu instrumento.
PS.
Alguém aí sabe o que pensa Eduardo Campos? Ou será que o contrato de
arrendamento do PSB impõe silêncio?
PS 2. Troquei o título, que melindrou
leitores. É evidente que não falei de doença, até porque tenho algumas
pretéritas e outras futuras passagens por hospitais.
Via
Tijolaço