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Para Temer, participação da mulher na sociedade é relacionada aos afazeres do lar, criação de filhos e orçamento doméstico



RBA - Em rápido discurso no Palácio do Planalto em comemoração pelo Dia Internacional da Mulher, o presidente Michel Temer destacou a importância das mulheres na sociedade, com ênfase às atividades como mãe e responsável pelo dia a dia da casa. Mesmo quando falou da economia, enfatizou o papel delas no orçamento doméstico, nas contas de supermercados.

"Eu tenho absoluta convicção, até por formação familiar e por estar ao lado da Marcela (sua mulher, Marcela Temer), do quanto a mulher faz pela casa, pelo lar. Do que faz pelos filhos. E, se a sociedade de alguma maneira vai bem e os filhos crescem, é porque tiveram uma adequada formação em suas casas  e, seguramente, isso quem faz não é o homem, é a mulher", disse o presidente.

No trecho mais político de sua fala, ele citou a conquista do direito ao voto pelas mulheres, nos anos 1930, e a criação da primeira Delegacia da Mulher, em 1985, quando Temer era secretário da Segurança Pública em São Paulo. Citou também a Constituição de 1988, que em seu artigo 5º estabeleceu que "homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações". Segundo ele, o recente Plano Nacional de Segurança Pública tem entre suas preocupações o combate ao "feminicídio" e à violência contra a mulher.

Em seguida, Temer falou sobre a "grande participação" feminina na economia. "Ninguém mais é capaz de indicar os desajustes, por exemplo, de preços em supermercados do que a mulher. Ninguém é capaz de melhor detectar as eventuais flutuações econômicas do que a mulher, pelo orçamento doméstico, maior ou menor."

Ao repetir que o país está saindo da recessão, o presidente disse que, "sem embargo das dificuldades", as mulheres "têm uma possibilidade de empregabilidade que não tinham no passado". E que, "além de cuidar dos afazeres domésticos", elas têm um campo "cada vez mais largo" de emprego. Homens e mulheres, segundo ele, estão "igualmente empregados", embora com algumas restrições.

Temer: "Ninguém é mais capaz de indicar os desajustes, por exemplo, de preços em supermercados. 

Alunas e Alunos da Escola Wellington Belém de Figueiredo refletem sobre as lutas das mulheres


Contrariando a grande maioria dos espaços de poder que se arvoram do dia internacional da mulher para reforçar preconceitos e estereótipos, além tecerem falsas homenagens apenas neste momento, as alunas e alunos da Escola Estadual de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda-Ce, rasgaram o verbo e aproveitaram a oportunidade para reivindicar direitos.

Alunas da Escola Estadual de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo promovem reflexão acerca do dia internacional da mulher. Foto: Prof. Nicolau Neto.

Com a liderança do Grêmio Estudantil, a escola trouxe para o debate temas que afligem as mulheres. A violência física e psicológica contra a mulher é real, é cotidiana. Está nas cidades, nas zonas rurais, nas empresas, nas residências, nas vitrines de lojas e nas redes sociais.

As condições de trabalhos e o desemprego também foram frisados. As estudantes afirmaram que a classe feminina são as que recebem os salários mais baixos, mesmo exercendo, em muitos casos, os mesmos trabalhos que os homens. Segundo elas, o Brasil atingiu índices alarmantes de desemprego e ele vem impactando principalmente as mulheres. Pois são as primeiras a serem alvos de demissão. Discursos preconceituosos e machistas foram lembrado, como por exemplo, aquele que afirmar serem elas as causadoras de onerar os setores de trabalhos ao engravidarem.

As reformas feitas e as em andamento pelo governo federal também foram alvos do debate entre os estudantes. A reforma do ensino médio, o escola sem partido e a reforma da previdência foram trazidas para a conversa, tendo como recorte a questão de gênero. Se a gente não discutir as desigualdades sociais que alimentam a sociedade na escola, ela perde o sentido. Precisamos nos posicionar contra essas atrocidades que estão tentando nos impor. Não queremos morrer trabalhando e não chegar a aposentadoria, realçaram. O assédio moral, sexual, a cultura do estupro está em todos os lugares, por isso há necessidade de estarmos hoje clamando por justiça social, por igualdade de oportunidade e contra a retirada de direitos, disseram.

Por tanto, o dia internacional da mulher não é para recebermos flores simplesmente. É apenas mais um momento, mais um dentre os 365 dias que temos para nos levantar contra o machismo, o feminicídio, o racismo e todas as formas de crime que nos inferiorize, afirmaram. Ao mesmo tempo serve para nos inspirarmos nas lutas de tantas mulheres que perderam a vida na luta por igualdade de oportunidade, ressaltaram.

Todo o debate teve a contribuição de alunos que demonstraram maturidade para se posicionarem sobre temas considerados polêmicos, como a descriminalização do aborto.





Mulheres do Cariri marcharão unidas em um mês de luta


O Conselho Municipal do Direitos da Mulher Cratense (CMDMC) e a Frente de Mulheres dos Movimentos de Mulheres afirmaram ao Blog Negro Nicolau que dedicarão todo o mês de março para refletir acerca das condições feministas no cariri cearense em uma alusão ao dia internacional de luta das mulheres.

Este movimento, que envolve diversos atores da sociedade civil, movimentos sociais negros e alguns setores do poder público tem como tema “Mulheres: Reforma da Previdência e Retirada de Direitos” e atuará em diversos espaços, lutando contra a desigualdade salarial, a violência doméstica, a misoginia, a LBTfobia, a xenofobia, o feminicídio, devendo ainda se unificar no combate ao machismo e ao racismo.

Segundo Verônica Neves, integrante do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), há a possibilidade de uma greve geral marcada para o dia 15 enfocando a temática central, haja vista ser esse público um dos mais prejudicados pelas mudanças na legislação brasileiras propostas pelo presidente Michel Temer (PMDB).

Os atos estão marcados para acontecer em pontos diversificados conforme a programação discriminada abaixo:

Neste dia 07, na REFSA, a FOCAES-FASOL (ACB-UFCA), promoverá Feira da Rede FASOL-Cariri a partir das 09h00. Na quarta-feira, 08, haverá um Ato de rua: Mulheres na rua contra a reforma da previdência e retirada de direitos com Concentração na praça da prefeitura do Crato. Ainda no mesmo dia está marcada uma palestra acerca da reforma da previdência e terá como ministrante Marcelo Lettieri, Fiscal da Receita. A fala ocorrerá no Salão de Atos da URCA, campus Pimenta. Leda Mendes e Célia Rodrigues discutirão sobre a temática "conversa de mulher e coisa séria" em uma roda de conversa na OAB Mulher - Lagoa Seca (Juazeiro do Norte). Um Cine Negra e roda de conversa, A Cova da Negra está programado para o dia 09 às 09h00, na sala do Grunec. O Poder Legislativo de Juazeiro do Norte receberá no dia 10, às 09h00 uma Audiência Pública com o movimento de mulheres organizado pela Frente, GRUNEC e Pretas Simoa. No mesmo dia a URCA, no campus pimenta, receberá uma roda de conversa que versará sobre "ser mulher na univesidade". O momento será realizado pelo SINDURCA a partir das 08h00. "Um piquenique feminista: gênero e educação" será desenvolvido por Maria Almeida a partir das 15h00 na Praça do Memorial Padre Cícero, em Juazeiro do Norte no dia 11. Dia 18 será promovido pelo MAIS um "café com elas: mulheres que resistem - o feminismo em Clara Zetkin", com a professora Cláudia Rejane. 

Entre os dias 27 e 28, Verônica Neves desenvolverá a temática "feminismo como forma de resistência" em Salgueiro (PE). Ainda no dia 28, Francy ministrará um Seminário Regional com as Trabalhadoras Rurais na sede da FETRAECE às 08h00. Dois dias depois, no auditório da URCA, haverá o desenvolvimento do seminário "mulher: contra a reforma da previdência e retirada de direitos" às 08h00. A programação será encerrada no último dia do mês com um seminário sobre "orçamento participativo da defensoria pública do Estado" no centro de Convenções. 


Mulheres do Cariri marcharão unidas em mês de luta. Foto: Divulgação.




O que é ser mulher?, por Daiane Santos


Contrariando todas as regras da grande maioria das pessoas e de instituições públicas e privadas quando da passagem do dia internacional da mulher, onde a entrega de flores e mensagens que repetem clichês do tipo a mulher é obra do divino e como tal gera vidas, a jovem aluna do ensino médio integrado a educação profissional, Daiane Santos usou a rede social facebook para reforçar a luta por mais direitos, representatividade e igualdade.

Na mensagem postada na noite desta terça-feira, 08 de março, Daiane frisou:

Hoje é Dia das Mulheres.

E o que tenho a dizer é que hoje é o dia de sair nas ruas, lutar, manifestar e mostrar ao mundo o que é ser mulher. Que definitivamente, ser mulher não é se calar ao ver a outra passar por uma situação de agressão ou repressão. Ser mulher é ir para a luta... mesmo que essa luta seja atravessar uma rua sozinha à noite.

Enfim, Feliz dia da mulher!”.

Daiane é aluna do curso técnico em Redes de Computadores na EEEP Wellington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda-Ce, e já está no terceiro ano. Às vésperas do estágio, a criticidade continua sendo um dos seus fortes e o feminismo uma das suas bandeiras de luta. 

Mulheres lutam por igualdade, mas problemas históricos persistem



O feminismo tem ganhado cada vez mais força na sociedade brasileira. Na internet e nas ruas, mais brasileiras estão se manifestando em defesa da igualdade de gênero e do fim da violência. No ano passado, a Marcha das Margaridas e a das Mulheres Negras levaram milhares de militantes a Brasília para pedir melhorias para a vida de 51,4% da população brasileira.

Na internet e nas ruas, mais brasileiras estão se manifestando em defesa da igualdade de gênero e do fim da violência. Foto: Marcello Casal Jr./Arquivo Agência Brasil.
A secretária de Autonomia Feminina da Secretaria de Política para as Mulheres, Tatau Godinho, avalia o que o fenômeno é muito positivo para o combate ao machismo do dia a dia. “Estamos assistindo a uma camada imensa de mulheres jovens darem um novo impulso à ideia de que a igualdade entre mulheres e homens é uma coisa legal, fundamental para se ter uma sociedade moderna, e que o feminismo não é uma pauta antiga, está nas questões cotidianas”, disse.

Apesar da popularização do debate, as brasileiras ainda precisam encarar problemas como as desigualdades salariais, a pouca representatividade política e a violência.

Tatau Godinho destaca que um dos principais obstáculos a ser superado é a desigualdade no mercado de trabalho. “As mulheres têm mais dificuldade de entrar e de chegar a cargos de chefia, e ganham menos que homens cumprindo a mesma função. O machismo faz com que mulheres sejam discriminadas no acesso aos melhores cargos”, avalia.

Apesar de estudarem mais que os homens, elas encontram uma série de barreiras no ambiente profissional. “Elas têm mais dificuldade de ingressar no mercado. Em torno de 50% das brasileiras estão ocupadas ou procurando emprego, enquanto a taxa de participação dos homens é de 80%. É uma distância muito grande. Não combina com o século 21, não parece ser do nosso tempo essa informação. E tem mais, as que conseguem entrar, têm empregos mais precários”, avalia a técnica de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Natália de Oliveira Fontoura.

Segundo estudo da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), o salário médio de uma mulher brasileira com educação superior representa 62% do de um homem com a mesma escolaridade.

De acordo com o Ipea, a renda média dos homens brasileiros, em 2014, chegava a R$ 1.831,30. Entre as mulheres brancas, a renda média correspondia a 70,4% do salário deles: R$ 1.288,50. Já entre as mulheres negras, a média salarial era R$ 945,90.
Segundo a especialista do Ipea, um dos componentes que explica a diferença de rendimentos entre homens e mulheres é o fato de elas ocuparem espaços menos valorizados. “Os cursos em que as mulheres são mais de 90% dos alunos, como pedagogia, se traduzem em salários mais baixos no mercado. E os cursos em que eles são a maioria, como as engenharias e ciências exatas, têm os salários mais altos. Há uma divisão sexual do conhecimento”, explica.

Especialista no assunto, Natália ressalta que não é possível entender a dificuldade das mulheres de entrar no mercado de trabalho sem pensar que, via de regra, no Brasil, recai sobre elas toda a atribuição do trabalho reprodutivo, que inclui os afazeres domésticos não remunerados e os cuidados com a família, uma sobrecarga que dificulta a evolução nos ambientes profissionais.

A responsabilização feminina sobre o trabalho reprodutivo explica a inserção de mulheres de forma mais precária no mercado de trabalho, por exemplo com jornadas menores, empregos informais e renda menor.”

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2014, 90,7% das mulheres ocupadas realizavam afazeres domésticos e de cuidados – entre os homens, esse percentual era 51,3%.

A pesquisadora defende que não dá para pensar na solução para o problema como um arranjo privado. “Hoje no Brasil a gente entende que as famílias têm que se virar e, dentro das famílias, são as mulheres que geralmente se responsabilizam. Isso é uma sobrecarga para as mulheres e vai impedir que participem da vida social, tenham mais bem-estar, participem da vida política e sindical, é um impeditivo para que mulheres ocupem uma série de espaços sociais.”
Para que a sociedade se reproduza e toda a população tenha bem-estar, alguém tem que garantir o cuidado a crianças e idosos. A quem cabe?”.

Ela analisa que é importante que haja uma mudança cultural para que o trabalho não remunerado seja visto como obrigação de todos e que haja divisão das tarefas com os homens e com os filhos. Ela ressalta, entretanto, que não se pode ficar esperando.

O Estado precisa assumir esse papel e oferecer serviços – tem que ter creche, educação integral, transporte escolar, mais de uma refeição nas escolas, instituição para atendimento de idosos, visitas domiciliares –, é um leque de políticas públicas de cuidado que só estamos engatinhando. Não é uma agenda do Brasil hoje.”

A iniciativa privada também pode colaborar. “A gente ouve casos bem-sucedidos de maior flexibilização [de carga horária], promoção da igualdade, co-responsabilização das empresas. Mas, se não houver uma legislação para que as empresas sejam chamadas e obrigadas a compartilhar essa responsabilidade, não vai acontecer.”

Segundo Tatau Godinhho, a SPM trabalha com iniciativas que contribuem para a melhoria das condições da mulher no mercado trabalho. “As mudanças na legislação das trabalhadoras domésticas, por exemplo, significou uma melhoria do rendimento e das condições de trabalho dessas mulheres. Por outro lado, trabalhamos muito com as políticas que o governo vem desenvolvendo para o aumento de formalização do trabalho feminino. Quanto mais formal, melhor pago e estruturado. A informalidade é um elemento extremamente forte na desvalorização do trabalho feminino e na perda de rendimentos.”

O poder ainda é deles

Apesar de o Brasil ter escolhido uma mulher para Presidência da República, os cargos eletivos e os partidos políticos ainda são dominados por homens. O Brasil está na posição 154 em um ranking da União Inter Parlamentar (Inter-Parliament Union (IPU)) que avaliou a participação das mulheres nas casas legislativas de 191 países.

A socióloga Carmen Silva, da organização SOS Corpo e da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), avalia que vários fatores incidem para a baixa representatividade de mulheres na política. “A primeira coisa é a estrutura de desigualdade entre homens e mulheres na sociedade, no mercado de trabalho. Existe uma imagem sobre o que é uma mulher na sociedade, e elas ainda não são vistas como alguém de decisão, que resolve, e a ideia da política é ligado a isso”, disse.

Carmen defende que o fato de elas serem minoria também é explicado pelo sistema político brasileiro, a base legal que rege o processo eleitoral e de formação dos partidos. “O tipo de estrutura que temos no Brasil inviabiliza a participação de setores que são minorias políticas na sociedade, apesar de serem maioria numérica. As mulheres são mais de metade da população, mas são menos de 10% nos cargos políticos, o mesmo acontece com os negros. As pessoas em situação de pobreza não conseguem nem se candidatar.”

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, 6.337 mulheres e 15.653 homens se candidataram às eleições de 2014. Em 2010, 3.757 mulheres e 14.807 homens estavam aptos a concorrer às eleições. Apesar do aumento da participação feminina de um pleito para o outro, a proporção ficou abaixo dos 30% estipulado como mínimo pela legislação eleitoral. “A sociedade ainda considera a representação política como um espaço pouco adequado para mulheres”, avalia Tatau.

A ativista explica que a AMB defende uma cota de eleitas, e não de candidatas. “Defendemos uma reserva de vagas no Congresso. A forma que temos proposto é que a eleição seja por partido, e não por pessoa. Votaríamos nos partidos e as listas seriam compostas metade por mulheres, metade por homens, e as vagas seriam divididas igualmente. Claro que isso tem que ser associado à formação política, campanhas culturais e melhores condições de vida para as mulheres”, diz.

Para Carmen, outro ponto crucial e que tem impacto sobre as mulheres é o financiamento das campanhas, que deveria ser público, tornando a ação política um direito republicano, mesmo que a pessoa não tenha dinheiro. Ela explicou que há projetos apresentados pela Frente pela Reforma do Sistema Político na Câmara dos Deputados, “mas que não têm avançado como a AMB julga necessário”.

Desde 1997 a legislação eleitoral determina que as mulheres devem representar 30% do total de candidatos, mas a eficácia da regra é questionada por especialistas por não prever nenhuma sanção aos partidos que não preenchem a cota mínima de mulheres. A lei diz que, nesse caso, as vagas que deveriam ser delas não podem ser ocupadas por homens, mas não garante a presença delas.

Em 2015, a Lei 13.165 criou mecanismos para incentivar mulheres no cenário político, ao determinar que 5% dos recursos do Fundo Partidário devem ser investidos na criação e manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres.

Tatau avalia que essas legislações trouxeram avanços, mas que, para mudar esse cenário, é necessária uma reforma política radical que garanta paridade entre homens e mulheres nas listas partidárias. “Isso também precisa ser feito com um processo de mudança na organização político-partidária e eleitoral. Não é só a legislação que precisa mudar”, avalia.

Ela argumenta que a popularização do feminismo é importante, mas será ainda mais relevante na medida em que se vincule a uma plataforma de organização das mulheres por maior representação política.

Em 2015, a Secretaria de Política para as Mulheres perdeu o status de ministério e, junto com a Secretaria de Igualdade Racial e de Direitos Humanos, passou a fazer parte do Ministério da Cidadania. O fato foi avaliado pelos movimentos feministas como um retrocesso para a luta pelos direitos das mulheres.

O governo federal está enfrentando um processo de pressão econômica e de pressão da sociedade muito forte. E foi nesse contexto que houve a junção das três secretarias. Então ainda que consideremos que um ministério específico é o ideal, porque foi isso que defendemos no processo de criação da SPM, temos certeza de que vamos fortalecer a pauta das mulheres e não perder com esse processo a necessidade de garantir que políticas para mulheres estejam presentes. É um desafio.”



Fundação Palmares organiza vasta programação visando o mês da mulher




Este ano, a Fundação Cultural Palmares (FCP) organizou uma farta programação para a comemoração do Mês da Mulher e convida a todas/os para participarem da celebração das histórias, das lutas, das conquistas e dos desafios superados pelas mulheres.

Embora em nossa sociedade as mulheres ainda sejam diariamente alvejadas pelo machismo e misoginia, é inegável também que o engajamento de milhões delas mundo a fora permitiu que as mulheres ocupassem espaços anteriormente a elas interditos, por serem vistas como incapazes e inferiores aos homens. Atualmente, elas não só ocupam todos os espaços existentes, seja na política, economia, mídia, esporte, gestão pública ou na cultura, como se destacam em cada um deles.

O Dia Internacional da Mulher, 8 de março, é celebrado para lembrarmos do quanto foi e é preciso que as mulheres mantenham-se atentas, para não terem nenhum direito conquistado ameaçado, e fortes, para continuarem se indignando e lutando contra situações e condições que as oprimam.


A programação da Palmares se estende por todo o mês. Nas terças e quintas, do dia 10 até o dia 29 de março, serão exibidos filmes de curta e média-metragem, quase todos eles dirigidos e protagonizados por mulheres negras, seguidos de palestras, que dialogam com o tema abordado pela película. No hall de entrada da sede da Fundação se encontrará, no mesmo período, a exposição fotográfica Mulheres Quilombolas em Marcha, da antropóloga Ana Carolina Fernandes.


Blogueira Lucélia Muniz lança série para homenagear as mulheres


A professora e blogueira Lucélia Muniz lançou em seu portal “Reflexões de Lucélia Muniz” a série “Elas por Eles” visando tecer homenagens as mulheres pela passagem do seu dia, 08 de março. 

Segundo Lucélia a homenagem se dará durante o mês março “sob a ótica dos homens onde os mesmos vão dá sua contribuição acerca da importância do papel da mulher na sociedade”. Para tanto, vários personagens responderam a muitas perguntas que perpassavam por uma infinidade de temas acerca dos desafios, lutas e conquistas da classe feminina. 

O primeiro entrevistado foi o micro empresário Charles Neto que reside em Porta Alegre, estado do Rio Grande Sul. Este signatário foi o segundo da lista. Em 2015 a série foi intitulada “Mulheres que Inspiram”.

Confira as contribuições supracitadas abaixo:


Dia Internacional da Mulher – A pergunta prevalece: comemorar o quê?



Eu gostaria que nós, mulheres, tivéssemos bons motivos para comemorar o Dia Internacional da Mulher. Gostaria mesmo! Mas o fato é que há ainda tanta coisa a avançar, tanta, que fica realmente difícil qualquer comemoração.

E, se em março de 2014, eu iniciei meu texto dizendo que não tínhamos o que comemorar neste dia,“porque o ano de 2013 foi marcado pelo conservadorismo, e vários setores que representam as minorias tiveram que se mobilizar muito, mas muito mesmo, para não perder direitos que já estavam garantidos na constituição”. O ano de 2014 não foi diferente e o de 2015 também não promete mudanças. Ao contrário!

Na verdade, tenho a impressão que a luta por respeito e igualdade tende até a aumentar nos próximos anos, tendo em vista que nas últimas eleições o povo brasileiro elegeu o congresso mais conservador desde 1964!
E, se o ano de 2013 também foi marcado pela divulgação de estatísticas assustadoras: “segundo apontamentos, há três anos, o Brasil ocupa a 7ª posição na listagem dos países com maior número de homicídios femininos”. Em 2014, a coisa não foi nada diferente. Apesar de não ter estatística mais recente em mãos para confirmar essa informação, é perceptível, a qualquer um que queira ver, que a violência contra a mulher está aumentando significativamente, sobretudo a violência psicológica.

Vejam os diversos casos de mulheres que sofreram ameaças de estupro “corretivo” e morte ao defender o empoderamento e direito da mulher nas redes sociais. É simplesmente AS-SUS-TA-DOR!!

E não, não é nenhum exagero dizer que o machismo, a misoginia têm crescido nas redes sociais. Tem sim. E muito. Conforme a matéria ‘Misoginia na internet’, no ano passado a misoginia online entrou na roda com o chamado ”GamerGate”, quando diversas mulheres na indústria dos jogos, principalmente as desenvolvedoras Zoe Quinn e Brianna Wu, além da blogueira Anita Sarkeesian, foram alvo de uma onda de ataques machistas. No Twitter, no Reddit e em imageboards como o 4chan, as mulheres receberam ameaças de estupro e morte. Há também o caso da jornalista australiana Alanah Pierce, que ficou famosa por enviar printscreens das ameaças que recebia para as mães de seus assediadores, em sua maioria adolescentes.

Há algumas semanas, a jornalista Ana Freitas publicou um texto sobre misoginia em chans e imageboards brasileiros. Nos comentários da página, as manifestações de algumas pessoas — principalmente homens, mas não só — confirmaram perfeitamente as críticas expostas no texto. Para esses comentaristas, pedir respeito é “mimimi” e as mulheres seriam aceitas nesses espaços desde que não se identificassem publicamente como mulheres. Nada contraditório vindo de quem, por exemplo, se refere a mulheres como “depósito de esperma”.

Em relação ao mercado de trabalho, tudo continua notoriamente sem qualquer mudança. A mulher permanece ganhando um salário menor que o homem, “continua sendo uma mão de obra barata, ‘dócil’, instruída (já que conforme pesquisas, mulheres têm mais anos de estudos que os homens) e de autoestima reduzida por uma cultura misógina, que lucra muito pregando inseguranças às mulheres (a ‘ditadura da beleza’ instituiu dois grandes medos para dominar o público feminino: o medo de envelhecer e de engordar, e isso gera altos lucros às ‘indústrias da beleza’)”. E continuamos com a dupla ou tripla jornada de trabalho, tendo em vista que a maioria das mulheres trabalha fora e em casa.

Há ainda a necessidade cada vez mais premente de questionar velhos mitos que nos infligiram ao longo do tempo e que em nada nos engradecem ou privilegiam, ao contrário, nos colocam em uma posição que nos torna subordinadas a tradições patriarcais. É costume ver nas redes, em datas como essa, uma enxurrada de mensagens com fotos de flores e asneiras que parecem “elogiar” as mulheres, mas que, infelizmente, só ressaltam expectativas machistas.

Enfim, ratifico que temos uma batalha muito grande pela frente nas mudanças dessas e de outras tantas situações e também na desconstrução desses mitos que nos abatem diariamente, nos inferiorizam, nos tiram a autonomia e nos limitam a papéis de dependência dentro da sociedade.

A violência contra a mulher é REAL e diária. Está nas redes sociais, nas ruas das cidades e dentro de muitas empresas e inúmeras residências. Por isso é tão importante provocarmos o debate nesse dia 08 de março e estendermos para os demais dias do ano, para o dia a dia. Por isso é tão importante que homens e mulheres se unam na desconstrução de mitos e na conquista pela igualdade de direitos. Afinal, mudanças desse porte não ocorrem do dia para a noite e nem muito menos num único dia. Pensem nisso!

*Autora

Janethe Fontes é escritora e tem, atualmente, 4 livros publicados: Vítimas do Silêncio, Sentimento Fatal, Doce Perseguição e O Voo da Fênix.




Na semana da Mulher, um Pouco de Rosa Luxemburgo para inspirar



Rosa Luxemburgo, a líder de uma facção revolucionária do Partido Social-Democrata Alemão durante a Primeira Guerra Mundial, nasce em 5 de março de 1871, em Zamos, Polônia, região que à época estava sob controle russo.

A mais nova de cinco filhos de uma família judaica de classe média baixa, Luxemburgo passou a se interessar por política desde muito jovem. Em 1889, deixou a Polônia e o regime repressivo czarista de Alexander III, o predecessor do czar Nicolau II e foi para Zurique, Suíça, onde estudou ciências naturais e economia política.

Em 1898, Luxemburgo casou-se com um trabalhador alemão, Gustavo Lubeck, adquirindo então a cidadania alemã. Estabeleceu residência em Berlim, onde se filiou ao Partido Social-Democrata alemão, conhecido como SPD, na ocasião a mais importante organização do socialismo internacional de todo o planeta.

Nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial, Luxemburgo adotou crescentemente posições firmes e decididas em sua ideologia, defendendo uma greve geral como catalisadora que radicalizaria a ação dos trabalhadores e daria lugar a uma revolução socialista internacional.

Ela e seus companheiros da ala mais à esquerda do SPD opuseram-se duramente à participação da Alemanha na Guerra, vendo-a como um conflito imperialista que de modo algum iria beneficiar a população. Esta postura afastou-a da liderança do partido, que defendia o esforço de guerra na esperança de que a vitória germânica levaria a um conjunto de reformas.

Em dezembro de 1914, Luxemburgo e o socialista alemão Karl Liebknecht formaram a facção revolucionária do SPD chamada de Liga Spartaquista, em homenagem a Spartacus, escravo que, em 73 a.C., lidera uma rebelião de 78 escravos que escaparam da escola de gladiadores em Capua contra a classe dirigente da República Romana e que lutou durante dois anos no comando de 90 mil homens.

Como sua enérgica porta-voz, Luxemburgo publicou um livro em 1916, “A crise na Social-Democracia alemã” em que acusa a social-democracia de ter traído a classe operária alemã por endossar um esforço de guerra de cunho essencialmente capitalista e imperialista. A única solução para a crise, acreditava Luxemburgo, era uma revolução internacional de classe.

Após uma demonstração spartaquista em maio de 1916 contra a Guerra, Luxemburgo foi novamente presa, tendo permanecido na cadeia pelo restante da Primeira Guerra Mundial. Em seguida a sua libertação, em novembro de 1918, determinada pela decisão do chanceler germânico, Max von Baden, de libertar todos os prisioneiros políticos, Luxemburgo começou a transformar a Liga Spartaquista no Partido Comunista da Alemanha (KPD).

No mês de janeiro seguinte, os spartaquistas, reunidos em Berlim para desencadear uma rebelião contra o governo de coalizão de Von Baden e Friedrich Ebert, o líder do SPD, Luxemburgo juntou-se a eles relutantemente, instando seus seguidores a não tentar iniciar a insurreição antes de conseguir formar um suficiente apoio popular. Não teve condições de impedi-los e os rebeldes spartaquistas lançaram-se ao ataque em 10 de janeiro.

Ebert imediatamente ordenou que o exército alemão subjugasse a rebelião. No conflito que se seguiu, Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht foram capturados e assassinados. O corpo dela, atirado num canal de Berlim, só foi recuperado cinco meses mais tarde.

Mártir

Com sua morte, Luxemburgo tornou-se mártir da causa da revolução socialista internacional. Como sua companheira spartaquista, Clara Zetkin, escreveu: “Em Rosa Luxemburgo, o ideal socialista era uma paixão dominante e poderosa tanto da mente quanto do coração. Sacrificou-se pela causa, não somente no instante de sua eliminação e sim dia-a-dia, hora-a-hora, trabalhando e lutando durante muitos anos. Era a espada e a chama da revolução”.

São de Rosa Luxemburgo as famosas frases: “Há todo um velho mundo ainda por destruir e todo um novo mundo a construir. Mas nós conseguiremos, jovens amigos, não é verdade?”; “Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.”; e “Socialismo ou barbárie”.

Mulheres escravas, um drama cultural




A escravização de mulheres yazidis e outras práticas hediondas do grupo extremista Estado Islâmico – tais como estupro e mutilação genital para evitar a “expansão da libertinagem e da imoralidade” – são algumas das notícias que circularam recentemente, abalando consciências no mundo todo. Os relatos levam a uma reflexão sobre um cenário bem mais próximo, aqui do Brasil: por que, na raiz da violência, está o sentimento de “propriedade” sobre a mulher?

No Brasil, mulheres também são seviciadas e mortas pelo mesmo sentimento de posse e propriedade: 92,1 mil assassinatos entre 1980 e 2010 (Mapa da Violência 2012: homicídio de mulheres no Brasil). Atualmente, estima-se que ocorram 472 mortes por mês – são 15,52 por dia ou 1 a cada 90 minutos (Pesquisa do IPEA Violência contra a Mulher).

O aprendizado cultural e familiar ensina padrões de respeito ou violência. Até os “singelos” ditados populares, aparentemente inofensivos, perpetuam esse tipo de violência. Até quando aceitaremos essa situação passivamente?

A violência de gênero, prevista na Lei Maria da Penha, tem como alvo a mulher, simplesmente porque é mulher. Um comportamento aprendido e naturalizado. Masculino e feminino são conceitos construídos e incorporados ao longo da vida. Aprende-se a ser homem “com H” – gostar de futebol, ser másculo, viril – e a ser mulher “para casar” – recatada, boa mãe, esposa e fiel.

Essas diferenças não são naturais, mas construídas. “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”, já dizia Simone de Beauvoir no século passado. E uma das formas de perpetuar a diferença de gênero está em mensagens ocultas dos ditados populares. Seguem alguns exemplos:

Homem com fala de mulher, nem o diabo quer”. Significado: o homem é superior e a opinião da mulher não tem valor. Na verdade, há aproximadamente 80 anos, as mulheres conquistaram direitos de votar, trabalhar e estudar.

Em briga de marido e mulher não se mete a colher”. Significado: a violência é um problema privado e familiar. Na verdade, a violência atinge um terço das mulheres do mundo e ensina um padrão comportamental para os filhos: 64% dos jovens que praticaram violência, presenciaram atos violentos contra a sua mãe (Pesquisa Violência contra a mulher: o jovem está ligado?, Instituto Avon e Data Popular).

Ela gosta de apanhar”. Significado: a vítima está na relação violenta “porque gosta”. Na verdade, a vítima não consegue reagir. A repetição da violência diminui a possibilidade de resistência e de decisão. Essa vulnerabilidade ocorre no âmbito pessoal, independentemente da condição econômica ou intelectual da mulher.

Ele não sabe por que bate, ela sabe por que apanha”. Significado: a culpa da violência é da vítima. É um ditado perigoso, porque naturaliza a inversão da culpa nas relações violentas. O homem dominador seduz a vítima e depois a controla. Estabelece regras, submetendo-a aos poucos. Assim, justifica a agressão com base em um “deslize” da mulher ou fatores externos, como uso de álcool.

Um tapa não dói”. Significado: não é uma violência séria. Na verdade, o tapa dói no corpo e destrói a alma. Revela um padrão perigoso e não há como se antever a ocorrência de um fato mais grave.

Refletir sobre o sentido de ditados, frases e até brincadeiras já representa um primeiro passo no combate a esse tipo de crime que tanto nos choca. A principal causa desse mal reside no sentimento de “propriedade” da mulher pelo homem. Assim, não aceitar justificativas para a violência e não se omitir são bons começos para soltar as amarras das mulheres que vivem a escravidão de gênero, do distante Oriente Médio aos lares do Brasil.

*Valéria Diez Scarance Fernandes é Promotora de Justiça no Estado de São Paulo, Vice-Coordenadora da Comissão Permanente de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (Copevid), do Grupo Nacional de Direitos Humanos (GNDH), e Professora de Processo Penal da PUC-SP. Autora da tese de doutorado: “Lei Maria da Penha: o Processo Penal no caminho da efetividade”