Mostrando postagens com marcador Coluna do Alexandre Lucas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Coluna do Alexandre Lucas. Mostrar todas as postagens

O sorriso de Neruda

 

Alexandre Lucas. (FOTO |Reprodução)

Por Alexandre Lucas, Colunista 

As palavras tropeçavam entre as tuas mãos trêmulas. O medo e o desejo disputavam espaço. Chá de erva doce, muito açúcar e quente de queimar lábios. Entre um gole e outro, redescobria teu sorriso, guardado numa caixa de mistério e de delicadeza, jogada entre as estrelas.

Conjugamos a noite inteira o verbo relembrar, o aconchego e o companheirismo iluminaram o tabuleiro que não mostraram os caminhos do presente e do futuro. Tentamos decifrar a música cantada de silêncios, ainda assim dançamos, na sintonia do que foi possível. Talvez não fosse o tempo dos furacões e das pimentas.

Mas ainda é tempo de apimentar as estradas, temperar diálogos, incentivar o verso, desvendar outros entendimentos, tocar nas nuvens e cultivar a magia da simplicidade.

Já temos alguns cabelos brancos e marcas na face, vidas postas no mundo, alguns livros a mais e calos na paciência. Hoje não matarei os teus sorrisos, porque estou lendo Neruda e refazendo os caminhos que nos fizeram.

Pedagogo e artista/educador

A máquina de fotografar poesia

 

Alexandre Lucas, Colunista. (FOTO/ Reprodução/Facebook).

 

Por Alexandre Lucas, Colunista

A lente permanece suja. A máquina fotografa com manchas a realidade e o fotógrafo se ilude, acreditando que elas realmente estão impregnadas na paisagem. É quente para um café. Melhor seria um banho frio e rever as fotos do tempo em que não saia sozinho na rua, por não ter noção e nem tamanho suficiente para encarar os perigos que assombram a vida dos adultos.

A máquina quebra de tanto insistir em olhar. O fotógrafo agora é poeta, escreve com danação. Cria imagens, suja o texto, destrói as lentes, grita, faz mistério, arrota porque não quer incômodos presos, liberta os seus desejos.  Escreve sobre as fotografias queimadas e as verdadeiramente mentirosas. Finge que não é com ele  a história que  conta e mente sobre a história que quer.

O poeta triturou a máquina em versos e fotografou a dor banhada de poesia.

Passaram mais que cinco estrelas

 

Alexandre Lucas. (FOTO | Arquivo Pessoal).


Por Alexandre Lucas, Colunista 

Falou absurdos prazeres. Era uma tarde mais quente, pouco vento, o sol atirando. O jornal noticiava o desaparecimento do homem que saiu para comprar pão. As senhoras tricotavam na calçada sobre os últimos acontecimentos.

Enquanto isso, a moça sobe as escadas. Aguarda um instante, abre a porta, senta num sofá, meio cama, na sua frente um quadro com formas orgânicas não definidas, algo que lembrava corpos e rostos, alguma coisa do tipo. Acanhada, tira da bolsa seu bloco de anotações, saca uma caneta e começa rabiscar os seus questionamentos. Seus olhos se dirigiam em direção ao quadro e o seu bloco. Aos poucos foi falando baixinho, com cortes, gaguejos e uma respiração oscilante.

Um pouco de água, secou a garrafa quase toda. A sala estava abafada, sua testa suava. Escrevia com rapidez para não perder as lembranças. Tocava os brincos e mordia levemente os lábios tentando resgatar algumas histórias. Lembrou quando escreveu com batom vermelho um poema extenso para um amor efêmero. Detalhou a cena, preenchida de poesia, calma e alvoroço, forte, firme e ritmado. Chegou a cruzar as pernas, tentando disfarçar o prazer que escorria.

Sessenta minutos. Desceu as escadas. O homem continuava desaparecido, as senhoras tricotavam. O calor continuava, saiu rabiscando estrelas no pensamento.