Segundo Lucélia a
homenagem se dará durante o mês março “sob a ótica dos homens onde os mesmos
vão dá sua contribuição acerca da importância do papel da mulher na sociedade”.
Para tanto, vários personagens responderam a muitas perguntas que perpassavam por
uma infinidade de temas acerca dos desafios, lutas e conquistas da classe
feminina.
O primeiro entrevistado
foi o micro empresário Charles Neto que reside em Porta Alegre, estado do Rio
Grande Sul. Este signatário foi o segundo da lista. Em 2015 a série foi
intitulada “Mulheres que Inspiram”.
Confira abaixo a entrevista cedida por este blogueiro:
Entrevista
nº 02
Reflexões
de Lucélia Muniz - Dentro do contexto atual, na sua opinião,
quais as principais conquistas alcançadas pelas mulheres?
Nicolau
Neto
- Falar das conquistas das mulheres nos leva a nos referir a um universo de
outrora que foi muito perverso para com elas. A trajetória de submissão,
exploração faz parte da vida de muitas mulheres. Na antiguidade, elas não
podiam exercer sua cidadania, aliás, se quer eram consideradas cidadãs. Durante
a idade média, passou-se a percebê-las como objetos e, ou moedas de trocas,
especificadas muito bem nos casamentos arranjados com colaboração da
instituição religiosa de cunho católico que, diante do poder emanado, mandavam
e desmandavam na sociedade do período. Veio a modernidade e, poucas mudanças
foram efetivadas.
A luta do feminismo por
igualdade em todos os espaços ganha corpo somente na contemporaneidade. Em
1848, quando teve início o movimento feminista, na convenção dos direitos da
mulher em Nova York (E.U.A), as reivindicações emergiram em virtude das grandes
revoluções. É importante lembrar que as conquistas oriundas da Revolução
Francesa, que tinha como lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade, foram
reivindicações das feministas porque elas acreditavam que os direitos sociais e
políticos adquiridos a partir das revoluções deveriam se estender a elas
enquanto cidadãs. Algumas conquistas podem ser registradas como consequência da
participação da mulher nesta neste processo, um exemplo é o divórcio.
Notadamente que, muitas
conquistas foram sendo efetivadas de forma lenta, gradativa e com muita luta. Porém,
hoje se pode perceber resquícios dos pensamentos de outrora como, por exemplo,
o velho e péssimo clichê: “lugar de mulher é em casa, cuidando dos filhos”. Ao
passo que muitas mudanças positivas aconteceram e continuam, a passos lentos,
acontecendo. O voto universal também se faz necessário citar.
RLM
- Em
pleno século XXI, quais situações ainda são enfrentadas pelas mulheres? Seja na
questão de gênero, na falta de políticas públicas e/ou no contexto
socioeconômico.
Nicolau
- Às vezes, ou quase sempre fico a me perguntar se se tem realmente o que se
comemorar no dia internacional da mulher. Porque?. Ora, nos últimos três anos
houve um retrocesso tão grande que só se compara com aqueles em que as mulheres
eram taxadas como o “sexo frágil”. Em 2013, por exemplo, o conservadorismo em
diversos setores da sociedade foi marcante, tanto que foi necessário a
mobilização de movimentos que lutam em defesa da visibilidade feminina para que
direitos e conquistas já editados na Constituição Federal de 1988 não fossem
jogados pelo ralo. 2014 seguiu o mesmo passo e 2015 foi ainda mais desastroso
para todos, principalmente para a classe feminina, comprometendo o ano que
acaba de começar. Falo da eleição de deputados e senadores mais conservadores de
todos os tempos, mais até do que em 1964, pois nesse período o Brasil vivia sob
o julgo da ditadura, mas hoje o regime é democrático e sendo uma democracia é
inconcebível certas atitudes parlamentares.
Foi desse congresso por
exemplo que saiu o argumento de que as mulheres teriam que ter provas mais
consistente para o estupro, pois o simples relato ou marcas no seu corpo não
mais seria suficientes. Acredito que para o congresso (falo em nome de pessoas
como Jair Bolsonaro, Marco Feliciano e Eduardo Cunha) só uma selfies (com a
legenda – Olha ai eu sendo estuprada! Prenda-o!) das mulheres registrando o ato
serviria como prova.
Se não bastasse isso,
elas ainda tem que enfrentar a violência física e psicológica. De acordo com
estatísticas, o Brasil ocupa por três anos consecutivos o 7º lugar entre
aqueles om maior número de homicídios femininos. Esses dados aumentam quando se
refere a mulher negra. As negras mulheres são as maiores vítimas desse caso. As
estatísticas do Mapa da Violência afirmaram que dos índices de assassinatos 60%
são negras. Para além desses pontos mencionados, o universo feminino ainda tem
que enfrentar o machismo que insiste em permanecer na mente fraca e doente de
muitos homens, o racismo – a maior praga já existente e causador de muitas
atrocidades (a maior delas o sistema escravocrata) e hoje define o lugar na
sociedade.
Não se pode esquecer
ainda que a estrutura partidária se configura com um dos maiores empecilho para
a representação da mulher nesse ambiente. Para se ter uma dimensão do que ora
se menciona, o Brasil é o país da América Latina que possui a menor quantidade
de mulheres na política. Dados divulgados pela Inter-Parlamentary Union (IPU),
órgão que reúne dados sobre o Legislativo em todo o mundo, mostram que apenas
13% das mulheres brasileiras estão no parlamento. Esses dados caem mais da
metade quanto a mulher negra.
RLM
- E
como a Educação pode ser usada como uma “arma” no combate a estas situações?
Nicolau - Em primeiro lugar
trabalhando bem o 08 de março de uma forma que se possa desmistificá-lo. Fazer
isso significa debater desde cedo que ele não é dia para e comemorar o dia
internacional das mulheres, simplesmente.
Mas um dia para se refletir sobre as condicionantes históricas que
ensejaram a organização da classe feminina em prol da luta visando à conquista
de seus direitos, da sua inserção no mundo sem serem submissas ao mundo
machista. Promover rodas de conversas acerca de ações que venham a se configurar
como mais uma oportunidade de rever as forças e a organização dessas guerreiras
que passaram anos e anos sob o julgo do exacerbado machismo.
Disciplinas como
História, Filosofia, Sociologia e Formação Cidadã são as ferramentas mais
fortes na promoção desse debate no seio escolar, afinal de contas, essa data
que as pessoas notadamente insistem apenas em comemorar sem refletir, surgiu em
1910, em Copenhague, durante a II Conferência Internacional das Mulheres
Socialistas. Trata-se, portanto, de demonstrar que é um dia dedicado à luta das
mulheres trabalhadoras, notadamente. É momento de reforçar o espírito de
solidariedade internacional, dia de rever a força e organização das mulheres
identificadas com a luta contra todas as formas de dominação, exploração e
opressão.
RLM- Neste
Dia Internacional da Mulher, no mês de março, qual Mulher você gostaria de
homenagear em nome de todas? Por que?
Nicolau - Quero homenagear duas
mulheres. A primeira delas é minha mãe – Neusa Lourenço da Silva (foto ao lado). Mulher negra que desde cedo soube fazer das dificuldades degraus para alcançar as vitórias. Descrever
uma mulher é difícil e quando essa mulher é sua mãe, torna-se mais difícil
ainda. Não porque não tenho o que dizer, ao contrário. São tantos adjetivos que
nem sei por onde começar. Mas definirei em três palavras, a saber, FORTE,
GUERREIRA e IDEALISTA. Foi ela que me ensinou que se combate o racismo
denunciando e não fingindo não sofrer ou calando achando que se não falar ele
acaba.
A segunda é Valéria
Rodrigues (foto abaixo). No último dia 20 de novembro dia dedicado a mais um momento de
análise e reflexão crítica acerca das ações sobre a valorização da cultura
africana e afro-brasileira nos espaços de poder, completou-se um ano em que
Valéria Rodrigues nos oportunizou conhecê-la. Nesse curto período de tempo
convivi (e estou convivendo) com uma pessoa simplesmente maravilhosa que
tentarei - mesmo sabendo que o espaço não é suficiente para caracterizá-la -
externar alguns adjetivos que são inerentes a sua pessoa: Amiga, Companheira,
Dedicada, Compreensiva, SOLIDÁRIA, Inteligente (e sabe usá-la em todos os
momentos), Sábia, Meiga, Linda por dentro e por fora...... Com você aprendi e
muito. Aprendi a desenvolver outras habilidades que estavam adormecidas.
Aprendi a adentar em outros espaços que, mesmo respeitando a coletividade,
hesitava em entrar. Aprendi que desistir mesmo quanto tudo conspira contra, é
inaceitável, pois, como você mesmo diz - "há outras pessoas que, mesmo sendo poucas, se inspiram em nós e é a
elas(es) e por elas(es) que devemos continuar a ter esperança de um mundo
melhor". Aprendi que conviver não é tarefa fácil, mas necessário para
promovermos mudanças significativas na sociedade, tão carente de mentes
solidárias e com espírito de ALTERIDADE (como o dela).
