O
protagonismo do "partidão" até o início dos anos 1960 foi o centro de
um dos debates do Simpósio Internacional Esquerda na América Latina, que
acontece na USP. Segundo o cientista político Milton Pinheiro, no eixo central
que direcionou os comunistas no século 20 figuravam a questão nacional, o
combate às mazelas sociais, a luta pela democracia política e o
internacionalismo.
São Paulo
– A atuação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) até o início dos anos 1960
foi o centro do debate “O comunismo na história do Brasil”, que integra o
Simpósio Internacional Esquerda na América Latina: História, Presente e
Perspectivas, que acontece até esta quinta-feira (13) na Universidade de São
Paulo (USP). A mesa, realizada na terça-feira (11), foi formada por Milton Pinheiro,
professor de Ciência Política da Universidade do Estado da Bahia, Apoena
Cosenza, mestrando em História Econômica, Frederico Falcão, doutor em Serviço
Social, e Marly Vianna, professora-doutora em História Social pela USP.
Apenas
Marly não se prendeu ao protagonismo do PCB. Ela enfatizou que não houve
qualquer situação política, econômica ou social importante na história do país
em que os comunistas não desempenharam papel de vanguarda: estiveram à frente
em episódios como a luta pela paz, contra o imperialismo, em defesa da
democracia e a favor da conquista de direitos sociais. No entanto, a professora
questionou a “incrível capacidade de se dividir” da esquerda, propondo mais
discussão e menos segregação e inimizade.
Os
outros três palestrantes preferiram destacar que o PCB foi hegemônico na
presença do comunismo no Brasil até o fim dos anos 1950. Milton Pinheiro
ressaltou que tal presença surgiu entre o fim dos anos 1910 e o começo dos anos
1920, como uma necessidade histórica dos trabalhadores de elaborar um programa
político metodológico e romper com o anarcossindicalismo vigente na época.
Estimulado pela Revolução de Outubro de 1917 na Rússia, o PCB nasceu com a
noção de internacionalismo como característica fundamental. Segundo o
professor, no eixo central que direcionou os comunistas no século 20 figuravam
a questão nacional, o combate às mazelas sociais, a luta pela democracia
política e o internacionalismo.
Apoena
Cosenza focou sua apresentação na repressão governamental sofrida pelo PCB
entre 1922 e 1935. O mestrando em História Econômica lembrou o cerco à Coluna
Prestes e o estabelecimento de uma política nacional de repressão, que resultou
no fechamento de sedes do partido e sindicatos durante o governo de Washington
Luís e em delegacias espalhadas pelo país com a função quase exclusiva de
impedir manifestações operárias, durante o governo de Getúlio Vargas, entre
1933 e 1935.
Frederico
Falcão falou sobre as ações do PCB dos meados dos anos 1940 ao início dos anos 60,
mesmo período de que trata seu livro Os homens do passo certo, sobre as
escolhas políticas do partido antes e durante a ditadura militar. O autor
destacou principalmente o processo de radicalização pelo qual o PCB passou em
1948, muito em razão do Pacto de Varsóvia. A influência de Nikita Kruschev e a
busca pela revolução democrática burguesa por via pacífica, como etapa para a
sociedade comunista, geraram muitas críticas ao partido, fazendo com que novas
forças de esquerda surgissem a partir de 1960.
Após
as apresentações, as questões dirigidas aos palestrantes giraram em torno da
questão do “etapismo” como estratégia política do PCB e das perspectivas para o
comunismo nos dias atuais.
Com informações do Carta Maior