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(FOTO/ Reprodução). |
Desde
2014, o Brasil celebra, no dia 25 de julho, o Dia Nacional de Tereza de
Benguela e da Mulher Negra. Conhecida também como Rainha Tereza, a líder
quilombola representa um símbolo na luta contra o racismo e o patriarcado do
século 18.
Assim
como parte do apagamento da contribuição dos povos africanos no Brasil, há
poucos dados históricos sobre a vida de Tereza. Historiadores acreditam que ela
tenha nascido na Angola, outros apontam o Brasil como o seu local de
nascimento. O que se sabe é que Tereza foi uma mulher escravizada que, junto
com o marido José Piolho, eram os representantes do Quilombo do Quariterê,
(1730-1795), no Vale do Guaporé, atual estado do Mato Grosso.
Há
quem acredite que ela só comandou o quilombo após a morte do marido, que foi
assassinado por colonizadores. O fato é que Tereza foi uma revolucionária e
adotou um sistema de organização responsável por manter o quilombo, que abrigou
negros e indígenas por duas décadas. Informações do Anal de Vila Bela, de 1770,
indica que o Quilombo do Quariterê funcionava em modo de Parlamento, tendo uma
divisão política destinada para a administração, manutenção e segurança dos
mais de três mil moradores da comunidade.
“Governava esse quilombo a modo de parlamento, tendo para o conselho uma casa destinada, para a qual, em dias assinalados de todas as semanas, entrava os deputados, sendo o de maior autoridade, tipo por conselheiro, José Piolho, escravo da herança do defunto Antônio Pacheco de Morais, Isso faziam, tanto que eram chamados pela rainha, que era a que presidia e que naquele negral Senado se assentava, e se executava à risca, sem apelação nem agravo", diz um trecho do documento.
Sob
o comando da Rainha Tereza, o sustento dos quilombolas vinha da agricultura. A
comunidade também produzia algodão para a confecção de tecidos, que eram
trocados em feiras por armas e equipamentos utilizados na proteção da
comunidade contra os invasores colonizadores.
Visionária,
Tereza sabia que essa estrutura seria responsável por manter o Quilombo, que
resistiu sob a sua liderança até 1770, quando ela foi presa e morta pelos
colonizadores Bandeirantes. Uma outra versão é de que ela teria se matado após
a prisão. O que não muda é que o final trágico marca a trajetória de uma mulher
que morreu sob as terras do Brasil Colônia com um único objetivo: proteger os
seus na busca pela liberdade.
O
legado de Tereza de Benguela mostra como a organização de uma mulher preta é
capaz de inverter toda uma estrutura sociopolítica. A história dessa mulher
negra, líder e guerreira, se traduz na fala da filósofa norte-americana Angela
Davis, que diz: "Quando a mulher
negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela".
A
vida e morte da Rainha reverbera até os dias atuais, tanto que, em 1992, mulheres
negras latinas e caribenhas se reuniram, pela primeira vez, na República
Dominicana como um levante contra todo tipo de opressão e racismo que atingem a
comunidade negra. O Brasil, local da vida e morte de Tereza de Benguela, só
incluiu o dia 25 de julho, data da celebração de Tereza, na agenda nacional em
junho de 2014, durante o governo da presidenta Dilma Rousseff.
Em 1994, a escola de samba Unidos do Viradouro fez uma homenagem a Tereza de Benguela durante o desfile de Carnaval, que teve como tema: "Tereza de Benguela: Uma Rainha Negra no Pantanal". No ano passado, a Barroca Zona Sul fez um volta triunfal após 15 anos com a história da líder quilombola no enredo "Benguela… A Barroca Clama a ti,Tereza". Escute abaixo:
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Por Dindara Ribeiro, no Alma Preta.