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Culto da Igreja Mundial reúne grande quantidade de fiéis na Páscoa. (Imagem/ Reprodução/ YouTubube). |
Mesmo que a decisão do ministro Kassio Nunes Marques de liberar missas e cultos presenciais em meio à escalada de mortes da pandemia seja revertida pelo plenário do Supremo Tribunal Federal em breve, ela já cumpriu o papel de ajudar o presidente da República a reforçar o apoio junto ao naco religioso de sua base no momento em que cai sua aprovação.
Para
além do dízimo, há líderes evangélicos e católicos conservadores que precisam
manter igrejas e templos abertos nesta fase crítica para mostrar que a teologia
que vendem não é uma ilusão e, portanto, quem vier a eles estará seguro. O
discurso conforta muita gente que está em desespero.
O
mais irônico é que a bíblia não pede para os cristãos confiarem apenas na fé,
mas que se cuidem também. São famosas algumas orientações sanitárias e de
higiene pessoal no livro de Levítico - que sugere até isolamento social, como
no capítulo 14, versículo 8. E o que é o aviso, no livro do Êxodo, para que
todos fiquem em casa durante a décima e última das pragas do Egito, a morte dos
primogênitos, se não um lockdown?
Como
resultado do ato irresponsável de Nunes Marques, a fatura de mortes de quem se
aglomerou em igrejas e templos no feriado prolongado de Páscoa chegará em
algumas semanas. Ou, pior: mortes de seus familiares, colegas de trabalho,
empregados - que apesar de terem tomado todos os cuidados, serão infectados indiretamente.
Pragmático,
o bolsonarismo não está preocupado com a contagem de óbitos, mas com as
pesquisas de opinião.
Com
a popularidade em queda por conta da falta de vacinas em número suficiente (o
que atrasou o fim da doença) e da demora no retorno do auxílio emergencial (o
que gerou mais fome), Jair Bolsonaro precisa estreitar laços com os grupos
simpáticos a ele para manter um colchão de proteção. Vem fazendo isso, por
exemplo, com os policiais militares, jogando-os contra governadores que adotam
medidas de isolamento social.
O
acordo de leasing com o centrão, no Congresso Nacional, será mantido desde que
a aprovação do presidente não derreta. Deputados e senadores não arriscariam
sua sobrevivência eleitoral, em 2022, sacrificando-se pelo negacionismo dele.
Com
a sinalização de que os aliados de Bolsonaro, como o ministro Nunes Marques, o
procurador-geral da República, Augusto Aras, e o advogado-geral da União, André
Mendonça, tentam garantir o funcionamento presencial de missas e cultos,
Bolsonaro se vende como alguém que luta por esses grupos religiosos. Para que
não haja dúvidas, reforça isso em lives e nas redes sociais.
Por
conta da certa revisão da decisão pelo plenário do STF, a abertura terá vida
curta - tal como parte daqueles que aproveitaram para procurar Deus em locais
consagrados nesta Páscoa quando ele, na verdade, já estava na casa de cada um.
___________
Por Leonardo Sakamoto, em sua coluna no Uol.
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