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Zelma Madeira. (FOTO/ Reprodução/ Diário do Nordeste). |
Para entender por que a população negra experimenta um padrão de vida precário no campo do trabalho, da educação, da saúde e outros, precisamos parar de negar a existência do racismo e propor intervenção via políticas públicas universais e especificas de enfrentamento às desigualdades raciais.
Há
mais de quarenta anos, os movimentos sociais negros construíram o consenso em
torno das ações afirmativas para superar os impactos do racismo no acesso à
educação superior e no mercado de trabalho.
Embora
tenham apostado nas cotas raciais como forma de correção das discriminações
históricas, isso não se deu sem conflito, provocando debates acalorados,
resultado de um país que exaltou a miscigenação e o mito da democracia racial
como símbolos de harmonia entre os grupos raciais, e desprezou o debate sério e
propositivo sobre a questão racial.
O
Estado do Ceará avançou ao incorporar essas reivindicações do movimento negro,
adotando política de ação afirmativa nos dois campos. Porém esse processo foi
moroso, pois, desde 2005, professore/as da UECE e ativistas do movimento negro
já reivindicavam essa modalidade. Somente em 2015 essa universidade aderiu ao
ENEM, SISU e Cotas e, em 2017, foi aprovada a lei 16.197 que instituiu o
sistema de cotas na UECE, UVA e URCA.
Após
essa conquista, surgiu o desconforto das denúncias de fraudes no sistema de
cotas raciais. Isso fez com que o Conselho Superior da Uece aprovasse a
Resolução nº 1.657/2021, que institui as instâncias e os procedimentos de
heteroidentificação.
Essa iniciativa reafirma o propósito de uma gestão democrática aberta ao diálogo com os movimentos sociais na garantia do controle social e público e no cumprimento do direito.
E
recentemente foi sancionada a lei 17.432 de 25 de março 2021, que institui a
política pública afirmativa de reserva de vagas para candidatos negros em
concursos públicos do Poder Executivo estadual. O que permitirá o recrutamento
de profissionais detentores de experiências diversificadas e a ampliação da
representatividade negra no serviço público.
Com
tais avanços, temos o desafio inadiável de monitorar e qualificar essas
políticas, durante sua vigência, como forma de gerar informações necessárias ao
alcance da equidade racial e ampliação do exercício de cidadania.
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Texto
de Zelma Madeira, doutora em Sociologia, estudiosa de questões como gênero,
religião de matriz africana e relações étnico-raciais
Fonte: Diário do Nordeste.
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