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Nelson Mandela: do cárcere ao triunfo. (FOTO/Reprodução). |
Arrisco-me
a dizer que Nelson Mandela foi uma quimera que passou em nossas vidas deixando
lições de resistência, perseverança e humanidade. Um homem que sacrificou a
própria existência em busca de justiça onde a segregação racial vitimava
milhões de sul-africanos negros.
Em
reconhecimento da sua contribuição, a Assembleia Geral da ONU, em 2009,
declarou o dia 18 de julho como Dia Internacional de Nelson Mandela. Portanto,
somos convocados a rememorar a experiência desse herói, sem perdermos de vista
que qualquer espaço é insuficiente para descrever sua extensa trajetória.
Nelson
Rolihlahla Mandela, apelidado Madiba, nasceu em 18 de julho de 1918, na aldeia
de Mvezo no Transkei, África do Sul. Ainda muito jovem presenciou uma doença
pulmonar que levou o pai à morte. Em seguida, a mãe o entregou a um tutor para
que cuidasse da sua educação, conforme desejo expressado em outros tempos pelo
falecido marido.
No
ano de 1939, Mandela conseguiu uma bolsa de estudos para cursar Direito na
Universidade de Fort Hare, situada em Johanesburgo. Considerada excelência no
ensino, esta instituição atendia a minúscula classe média negra da África do
Sul, e devido às injustiças que presenciou, nesta fase de estudante, Madiba
resolveu assumir a luta em favor do povo negro.
Entrou
para o Conselho Nacional Africano (CNA), organização não combativa que
centralizava as atividades em formulação de petições, mas algumas questões
políticas externas e internas conformaram a mudança de atuação do CNA: a
escolha de Mandela para a executiva e a vitória do Partido Nacional Purificado,
em 1948. A África do Sul não seria mais a mesma nessa convergência temporal de
situações. Em 1951, Mandela se transforma no primeiro advogado negro de
Johanesburgo.
O
Partido Nacional Purificado tinha como plano de governo a instauração do
apartheid: sistema que definia a raça branca como superior e validava a
segregação racial a partir de leis. A atuação do governo passou a ter um
caráter repressor onde qualquer manifestação era respondida com brutal
violência.
As
atividades do CNA também começaram a ser mais aguerridas sob a liderança de
Mandela. Em 1956, foram colocados no banco dos réus 156 manifestantes sob
alegação de que faziam atividades contra o governo. Este episódio ficou
conhecido como Julgamento por Traição e demorou cinco anos para a absolvição
dos acusados, incluindo Mandela.
A
política repressora alcançou o ápice no chamado Massacre de Shaperville,
momento em que 69 manifestantes que lutavam contra a segregação foram
assassinados e 186 ficaram feridos. Com essa atmosfera repressora, Mandela não
viu outra saída que não fosse assumir a luta armada; partiu para a ilegalidade
lançando mão de disfarces, reuniões clandestinas e nomes fictícios. O objetivo
era a organização de protestos de massa tencionando a derrubada das leis
segregacionistas.
Mandela
foi preso, em 5 de agosto de 1962, acusado de incitar o povo à greve, e por
sair do país sem passaporte válido. Ainda preso, sofreu acusações de sabotagem
e conspiração junto com outros líderes da resistência armada. Conhecida como
Julgamento de Rivonia, em 1964, Madiba fez um discurso memorável em sua própria
defesa, e a conclusão demonstra qual o limite colocado para alcançar a
libertação do povo.
A
prisão perpétua, recebida como sentença nesse julgamento, não foi levada à
cabo. O prisioneiro número 46664 na Robben Island, demonstrou muito mais força
do que seus algozes poderiam imaginar. No cárcere, apesar de sujeito a tamanho
sofrimento, promoveu uma visão mais humana e organizou movimentos em busca de
melhores condições aos presos.
Tão
logo nos primeiros dias questionou o porquê dos uniformes dos africanos serem
diferentes dos outros presos, na sua concepção caracterizava imensa falta de
respeito. Durante esse tempo, aconteciam diversos protestos reivindicando a liberdade
de Mandela, deixando o governo constrangido e encurralado no que se refere às
negociações para contenção da convulsão nas ruas da África do Sul.
Nelson
Mandela recebeu proposta de liberdade, em 1985, pelo presidente Pieter Willen
Botha, caso se comprometesse a renunciar à luta armada. Sem hesitação, recusou.
Mesmo assim, em 11 de fevereiro de 1990, foi colocado em liberdade e, meses
depois, as últimas leis do apartheid foram abolidas.
Winnie
Madikizela, ativista pelo fim da segregação racial e casada com Madiba, no
período de 1958 a 1996, também foi fundamental para manter viva a memória do
marido. Em 1993, Mandela recebeu o prêmio Nobel da Paz e, em 1997, foi eleito
presidente da África do Sul. No dia 5 de dezembro de 2013, aos 95 anos,
faleceu.
Considero
que uma das maiores vitórias de Madiba não se resume em prêmios e cargos, mas
conseguir sair do cárcere despido de ódio e, além disso, ter derrotado a
segregação racial. Precisamos reconhecer que um homem ao colocar a vida em nome
de uma causa para salvar milhões de seres humanos tem a estatura moral perdida
no infinito.
_______________________________________
Por
Ricardo Corrêa, no Alma Preta.
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