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Em
entrevista a Haddad, Boulos admite que parte da esquerda
não entende bem o que
está acontecendo por ter se distanciado
da realidade da população. (FOTO/Reprodução/YouTube).
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A
impunidade quanto ao conluio entre o ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan
Dallagnol representa a escalada do arbítrio no país, afirmou na noite desta
segunda-feira (22) o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem
Teto (MTST), Guilherme Boulos, ex-candidato à Presidência pelo Psol . “Em qualquer parte do mundo, o ex-juiz e
agora ministro da Justiça e Segurança Pública teria caído, enquanto o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso, já teria sido
libertado”, disse. “O grau de anomia
no país é impressionante, é sinal da crise democrática”, completou.
Boulos
foi entrevistado pelo ex-prefeito de São Paulo e ex-candidato à presidência
pelo PT, Fernando Haddad, que estreou programa de entrevistas pelas redes
sociais, veiculada pela produtora All TV.
Durante
a entrevista, o líder do MTST foi crítico com setores da esquerda. “Uma coisa que me incomoda um pouco é uma
tendência enorme de parte da esquerda de falar da realidade do povo, mas muitas
vezes não estar lá e viver e conferir essa realidade.” Mas enfatizou que a
“índole” do governo Bolsonaro
estimula um processo de criminalização dos movimentos sociais, citando o caso
das prisões, há quase um mês, de integrantes do Movimento dos Sem Teto do
Centro, de São Paulo, sem nada que a justifique, e baseadas em um processo que
nada tem a ver com a atuação desse movimento.
“A Preta Ferreira e a Cármem Silva são
pessoas sérias dentro do movimento e que são acusadas de praticar extorsão. O
inquérito foi aberto pela Polícia Civil de São Paulo a partir daquela tragédia
(anunciada), do Largo do Paissandu. Houve denúncias depois do desabamento do
prédio que havia um processo de extorsão das famílias. E nós sabemos muito bem
que oportunista tem em todo canto. Em não conheço nenhum lugar que não tenha”,
observa Boulos.
“De todo modo, a gente não pode aceitar o
flagelo do movimento de moradia, porque tem muito mais oportunista por metro
quadrado no Congresso Nacional do que em qualquer movimento social do Brasil.
Tem muito mais oportunistas no Judiciário, como o Intercept está mostrando, do
que no movimento social de moradia. Mas não é por isso que vamos ser contra a
instituição. Tem que saber separar o joio do trigo”, define, explicando que
o processo que persegue lideranças como Preta Ferreira é uma carona em uma caso
muito específico, o do prédio do Largo do Paissandu, no centro de São Paulo,
para criar uma imagem de que todas as lideranças de movimento de moradia são
oportunistas.
“O processo de criminalização desvirtua um
problema real que precisa ser combatido, acaba não separando o joio do trigo e
pegando pessoas respeitadas que não deveriam estar presas.”
Ao
ser perguntado por Haddad sobre o que explica esse processo de escalada do
arbítrio no país, Boulos diz que um dia antes do primeiro turno das eleições de
2018, no Campo Limpo, zona sul de São Paulo, onde ele mora, foi abordado por um
jovem que elogiou sua atuação na campanha, mas disse que votaria em Bolsonaro.
“Você é legal, você foi ao ponto, e se eu
não fosse votar no Bolsonaro, eu votava em você”, disse Boulos, citando a
frase que ouviu do jovem.
Segundo
Boulos, há vários fatores por trás desse fato, que podem ajudar a compreender a
conjuntura pela qual o país passa. Ele cita como primeiro fator a crise
econômica desde 2008, “quando o Castelo
caiu”, como disse. “O recado dessa
crise é que agora não tem lugar para todos no capitalismo”.
Ele
lembra também a crise política manifestada em junho de 2013, e a crise na
Espanha, na Itália, enfim, a crise nas democracias liberais por conta da
apropriação do Estado pelas corporações.
Boulos
disse ainda que a Operação Lava Jato, no caso do Brasil, potencializou o
sentimento de antipolítica para que aparecesse uma figura como Bolsonaro.
Além
disso, lembrou da crise da violência no país, concorrendo também entre todos os
fatores para criar um caldo de cultura favorável a um cidadão como o presidente
que hoje dirige o país. Segundo a análise de Boulos, Bolsonaro é resultado de
múltiplos fatores e não adianta gritar que os 57 milhões de pessoas que votaram
nele são fascistas. “Isso é não
compreender a questão que está se colocando”. Para Boulos, Bolsonaro
representa também o retorno a um passado nunca superado, já que ele carrega o
legado do autoritarismo tão presente na história do país.
O
coordenador do MTST destacou também como fator do caldo de cultura os 65 mil
homicídios registrados em 2017, segundo o Atlas da Violência, e a cantilena
cotidiana dos meios de comunicação, que pregam que para acabar a violência é
preciso mais polícia e mais prisões.
Sentido
da mobilização na educação
“No caso da educação eu acredito que tem duas
dimensões para a gente tratar. Uma é a questão dos cortes, que é séria. Tem
universidade em que se os cortes não forem revertidos totalmente, não vai ter
dinheiro para a conta de luz, para papel higiênico, para funcionar minimamente”,
disse Boulos.
“E não só as universidades, porque eles
construíram uma versão mentirosa para falar que estavam tirando do ensino
superior para dar para o básico. Mentira, os cortes foram no ensino básico, nos
institutos federais, aliás, se tivessem preocupação com o ensino básico
estariam debatendo o Fundeb, o principal fundo de financiamento do ensino
básico, com maior participação da União, que é a proposta de consenso, feita
pelo parlamento, pelos movimentos, com a sociedade civil, governadores,
prefeitos”.
“O que levou àquele verdadeiro levante no mês
de maio na educação foi uma disputa sobre o sentido da educação brasileira. Que
projeto de educação a gente quer? É uma educação que forme uma engrenagem para
o mercado de trabalho, ou uma educação que forme para a vida, para a cidadania,
com espírito crítico. Nós queremos Weintraub ou Paulo Freire? E foi eles que
colocaram, porque esse debate não estava colocado”.
Acompanhe
íntegra da entrevista de Boulos a Haddad:
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Com informações
da RBA.
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