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Míriam Leitão virou um perigo para o governo federal. (FOTO/Reprodução Globo). |
Pense
no que o presidente Jair Bolsonaro fez e falou de grotesco em 200 dias. Você só
conseguirá se lembrar de tudo se recorrer a uma pesquisa. São tantas
esquisitices diárias que a gente se esquece porque precisa cuidar da vida. O
presidente investiu contra radar, cadeira de criança, taxa cobrada em Noronha.
Defendeu o trabalho infantil, disse que, sim, beneficiará filho seu, postou
notícia falsa, deu visibilidade a uma cena escatológica no carnaval e tratou
com escárnio valores fundamentais. Qualquer lista que for feita aqui ficará
incompleta. O problema é que junto com atos e palavras sem noção há perigo real
contra pessoas e instituições.
Governar
um país não é comandar um programa humorístico. As palavras bizarro e tosco têm
sido usadas com frequência, mas talvez devamos pensar mais na palavra perigo.
Enquanto renova o estoque da “última de Bolsonaro”, a Presidência contrata o
desastre em inúmeras áreas.
Os
ataques ao meio ambiente são diários, a educação perdeu um semestre, o Brasil
se aproximou na ONU de países párias nos direitos da mulher, o governo
naturalizou a intolerância, suspendeu a fabricação de remédios essenciais,
escalou a liberação de agrotóxicos, estimulou o preconceito, encurralou a
cultura e esteve nas ruas com quem pediu fechamento do Congresso e do Supremo.
Enquanto
tudo isso acontecia, a economia continuou em crise, a queda da atividade se
aprofundou, o desemprego permaneceu alto, a confiança caiu. Há relação entre
uma coisa e outra. Até agora o que se tem é um governo sem rumo em todas as
áreas, inclusive na economia. Alguns integrantes da equipe econômica se dedicam
ao extremo a determinadas ações, mas o governo tem apresentado miragens como se
fossem projetos em andamento. A lista de não eventos está cheia. De concreto,
houve dois avanços em seis meses. A aprovação da reforma da Previdência em
primeiro turno na Câmara e o anúncio do acordo Mercosul-União Europeia. Na Previdência,
o parlamento avançou a despeito da balbúrdia do governo. No acordo comercial há
ainda uma longa estrada até virar realidade. Não se pode contar ainda como
conquista consolidada. A falta de fatos concretos na administração Bolsonaro
mantém nos agentes econômicos a desconfiança em relação à retomada do
crescimento. Os investidores da economia real precisam de sinais mais sólidos.
Há
perigos agudos. O ministro Ricardo Salles visitou madeireiros, foi aplaudido
por eles e os elogiou no mesmo local onde duas semanas antes madeireiros haviam
queimado um caminhão tanque do Ibama. Foi em Espigão D'Oeste, Rondônia. O
combustível abasteceria três helicópteros que seriam usados para fiscalizar a
retirada ilegal de madeira na Terra Indígena Zoró. Não houve a operação.
Criminosos queimaram patrimônio público, retiraram madeira de terra protegida,
ameaçaram um órgão do governo, abortaram uma ação de fiscalização. A extração
ilegal de madeira é a principal suspeita. O ministro do Meio Ambiente deveria
ter sido mais cauteloso ao ir ao local se solidarizar com os madeireiros.
A
lista dos perigos é tão extensa quanto a das tosquices. É importante ficar
atento. O governo Bolsonaro tem um padrão. Ele vai encurralando e
desmoralizando os órgãos públicos. O que há de comum entre defensoria pública,
Ibama, ICMbio, Itamaraty, Inpe, IBGE, Inep, Fiocruz, tantos outros, é que o
governo tem tentado impedir que eles façam o seu trabalho. De forma sutil ou
ostensiva funcionários são neutralizados. Os contribuintes pagam os salários
dos servidores para que eles exerçam funções específicas, e o governo tenta
paralisar as atividades. É desperdício de um recurso público valioso e caro: o
capital humano. Isso enfraquece o Estado nas funções que precisam ser
fortalecidas.
Há
áreas mais vulneráveis porque viraram os primeiros alvos, mas outros órgãos
estão na mira. Para legitimar seus atos, o governo dirá que a reação de
funcionários é corporativismo, quando é a saudável defesa da sua missão dentro
do Estado. Depois de 200 dias não há mais como se enganar. O governo não é
apenas incompetente. Ele está criando perigos reais para o país.
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Com
informações do O Globo.
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