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Qual a importância do ensino da história africana nas escolas? (FOTO/ Reprodução). |
O entendimento e a consciência sobre quem somos e de onde viemos é extremamente importante para o nosso desenvolvimento individual, assim como para o nosso desenvolvimento enquanto cidadãos. Pensando nisso, em 2003, foi promulgada a lei 10.639/03, um documento que obriga todas as escolas da educação básica a desenvolverem com seus alunos a temática da história e cultura africana e afro-brasileira.
A
emergência de uma legislação voltada para o assunto contempla uma série de
reivindicações históricas dos movimentos negros. Ela é fruto de uma série de
lutas, resistências e pautas apresentadas ao poder público durante anos e,
apesar de oficial, ainda não é efetivada em sua plenitude; entre o
reconhecimento do documento e a aplicação concreta do mesmo em sala de aula,
existe um abismo enorme.
Importância do ensino da história
africana nas escolas
Ao
longo das experiências de vida é normal nos encontrarmos frente a pessoas que
não se reconhecem como negras. A causa disso está na falta de espaço social e
político para esses sujeitos. Está também nos vários casos de violência
espalhados pelo Brasil e do racismo velado, estrutural e institucional, o que
faz com que nós, negros, ainda que inconscientemente, procuremos maneiras de
sobreviver em meio a esse caos. Uma consequência disso é a manutenção do
sistema opressor das “minorias”, que passa a ter ainda mais poder e controle
sobre os diversos segmentos da nossa sociedade.
É
possível observar um crescimento na preocupação da abordagem desse tema, à
medida em que vemos uma maior quantidade de cursos de formação sobre o assunto
e uma ampla produção de material didático e literatura da temática.
Entretanto,
algumas vezes, falhas são encontradas nesses meios, falhas que, muitas vezes,
continuam a propagar o estereótipo do negro escravo, retratando a história da
África a partir, somente, do processo de escravidão, sem reconhecer toda a
riqueza dos Impérios medievais, como o Império Mali, ou se esquecendo da
própria cultura e costumes brasileiros, que em grande parte tem heranças no
continente africano.
Nas
escolas de ensino fundamental, vê-se, constantemente, o que Raquel Bakke chama
de “pedagogia do evento”, em que comemoram nas escolas datas específicas, como
20 de novembro e 13 de maio, sem uma preparação teórica prévia ou um
aprofundamento das temáticas.
A
preocupação com o tema da religiosidade é recorrente nas fases do ensino
básico, e se mostra polêmico quando algumas pessoas veem um confronto com sua
própria religiosidade, pois não enxergam como cultura e formação da base da
sociedade brasileira, mas, sim, como algo diabólico.
Influências e impactos do estudo
O
modo como a história negra é retratada, em muitos casos, reflete o tipo de
sociedade e parâmetros sociais que vivemos, em que o negro se mostra em
situação de minoria, processo agravado pelas teorias eugenistas e ideologia do
branqueamento dos séculos XIX e XX.
Por
isso, o conhecimento sobre aspectos negativos da África pré-moderna, como a
escravidão doméstica, assim como os positivos como sua cultura, processo
histórico e aspectos políticos, sociais e econômicos são de vital importância
para o processo de aprendizagem e de desenvolvimento crítico sobre a sociedade
brasileira.
No
contexto escolar, é inevitável observar a subjugação dos estudantes negros,
sofrendo com o racismo de todas as formas. Isso interfere diretamente na
autoestima e na sociabilidade desses estudantes, na medida em que não se sentem
pertencentes ao grupo escolar e social.
O
estudo da cultura africana ajuda a aumentar a autoestima desses indivíduos, a
reconhecerem a si mesmos enquanto cidadãos negros e a contemplar toda sua
história e tradição. O conhecimento sobre a grandeza dos povos africanos e suas
relações externas e internas, cultura, e outros, também ajuda estudantes não
negros a não propagar comportamentos racistas, participando da luta
antirracista e contribuindo para a efetivação de políticas públicas que
funcionem completamente. E esse conhecimento pode ser passado de várias formas:
através de jogos, músicas, vídeos, brincadeiras, apresentações culturais e
outras.
Diferente
do que Gilberto Freyre diz, nós não vivemos em uma democracia racial. O descaso
com a população negra ainda se mostra gritante. Sendo assim, é de vital
importância que estudemos a história e cultura africana nas escolas, na
esperança de termos um Brasil mais igualitário no futuro.
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