O
ensino da história e da cultura afro-brasileira e africana no Brasil celebra
bodas desde a data de sua publicação no Diário Oficial da União, em 10 de
janeiro de 2003. Lá se vão 15 anos, e a Lei 10.639 simboliza um marco histórico
da luta antirracista no Brasil e transformação da política educacional e social
brasileira.
A
Lei que estabelece diretrizes e bases para a educação nacional, ressalta a
importância do ensino da cultura negra direcionado às escolas, espaço onde o
negro sempre foi apontado nas aulas de História como escravo. Nunca é demais
esclarecer que o negro africano trazido à força para o Brasil e seus
descendentes não eram escravos como uma condição natural, submissa,
preconceituosa e depreciativa, mas sim escravizados.
Sigamos
sempre em frente lutando por uma questão de fundamental importância para o
fortalecimento das identidades étnicas afro-brasileiras, para além do efeito
histórico afirmativo junto à população brasileira e valorização da contribuição
econômica, cultural e social dos negros no processo de formação nacional, essa
lei deve ser vista como parte estrutural do complexo de políticas que visam o
direito à educação de qualidade para mais de 56% da população brasileira.
Uma
conquista do Movimento Negro, hoje a Lei 10.639 ainda não é efetivamente
cumprida em função de um conjunto de intolerâncias e discriminações enraizadas
na sociedade brasileira. O não cumprimento dessa lei corrobora a história da
África não contada no Brasil, que faz com que não tenhamos referências negras
nas ciências; nas artes; na política e em tantas outras áreas do conhecimento
registradas nos livros didáticos utilizados nas escolas de ensino fundamental e
médio. A dificuldade também se encontra no campo de formação da maioria dos
educadores, que não reconhecem a importância da história e da cultura africana
para a compreensão da verdadeira história do Brasil.
A
ausência de referências da história não contada sobre os negros mostra um país
que entende que o negro só nasceu a partir da época da escravatura, mas sempre
estivemos aqui para buscar as boas práticas que sirvam para que a lei seja
efetiva e permanentemente executada.
Nosso
trabalho é diminuir essa lacuna por meio de politicas públicas, de ações
afirmativas, para que ela nasça com a pele escura e no menor tempo possível se
torne negra. É um desafio, mas nós temos que fazer com que sejam cumpridas.
Mas
ainda há muito o que fazer e transformar! Contamos com alguns importantes
avanços no que se refere ao sistema de reserva de vagas oferecidas nos
concursos públicos (Lei 12.990/2014) e o ingresso nas universidades públicas
federais do país (Lei 12.711/2012).
Diante
do expressivo e recorrente aumento dos casos de fraudes, em parceria com a
sociedade civil e demais órgãos ministeriais que trabalham a transversalidade
da pauta de promoção da igualdade racial, temos empenhado nossos esforços no
monitoramento dessas ações afirmativas e na construção de um instrumento legal
que determine que as universidades implementem suas próprias comissões de
verificação.
As
cotas são necessárias e deram certo. Agora o que precisamos é que as
universidades e órgãos públicos possam juntos atuar para garantir o acesso do
negro nos espaços acadêmicos e corporativos.
O
sistema de cotas foi implantado no Brasil objetivamente para que pudéssemos
colocar um negro e um não negro em um mesmo ambiente escolar e mostrar o óbvio,
que o intelecto e a capacidade independem da sua cor de pele. O nosso desafio é
mostrar para a sociedade que o racismo existe e que, primeiro tem que ser
reconhecido para que possamos então, com a execução das políticas públicas
existentes, ser o remédio para que as desigualdades realmente sejam superadas.
Jamais
venceremos as desigualdades e o racismo latente no Brasil se não tivermos o
recorte racial, mas não adianta falar de enfrentamento ao racismo se o
Legislativo, Executivo e o Judiciário não se comprometerem com a política de
promoção da igualdade racial. Precisamos conscientizar os gestores de que a
política de promoção da igualdade racial não é uma despesa, pelo contrário, a
criação de órgãos e conselhos de igualdade racial fomentará a movimentação
positiva de recursos.
Importante
trabalhar de forma justa e igualitária, exigindo que a valorização da
diversidade, das relações sociais e identidades, seja muito mais do que um
discurso. (Por Juvenal Araújo, no Geledés).
*Juvenal
Araújo – É Secretário Nacional de Politicas de Promoção da Igualdade Racial
(Seppir).
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Cultura afro-brasileira debatida em sala de aula. (Foto: Reprodução do Kit 'A Cor da Cultura'). |
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