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Cintia Santos Cunha, estudante de Medicina em Cuba fala sobre preconceito racial no Brasil. |
Reproduzimos
abaixo palavras de uma estudante de medicina em Cuba que traduz um sentimento
cultural vergonhoso da grande maioria do povo brasileiro sobre o negro, sobre a
negra. O artigo foi publicado em primeiro mão no Blog Negro Belchior.
Republicado no Carta Maior e, agora, ganha espaço neste blog, o Informações em
Foco.
“Eu já desde muito nova queria fazer
Medicina… só que Medicina é um curso impensável para as pessoas de onde eu
venho, para as pessoas como eu sou, negra, mulher, pobre, Capão Redondo.
Ninguém sonha ser médico lá. Eu insisti que queria fazer medicina.” – Cintia
Santos Cunha.
Em
seu texto sobre a polêmica dos médicos cubanos no Brasil e a reação de uma
jornalista potiguar que escandalizou as redes sociais ao dizer que médicos
cubanos pareciam “empregadas domésticas”,
e que precisariam ter “postura de médico”,
o que não acontecia com os profissionais cubanos, o professor Dennis de
Oliveira sintetizou:
“(…) ela
expressou claramente o que pensa parte significativa dos segmentos sociais
dominantes e médios do Brasil: para eles, negros e negras são tolerados desde
que em serviços subalternos. Esta é a “tolerância”
racial brasileira.” (Grifo do Informações em Foco).
Essa mentalidade racista que sempre pressupôs
o lugar do negro em nossa sociedade, contaminou milhares de jovens estudantes
nas últimas muitas gerações. Isso somado ao descaso com a qualidade da educação
pública faz com que, em sua grande maioria, jovens negros e/ou pobres sequer
sonhem com universidades ou profissões “diferentes” daquelas nas quais percebem
seus iguais.
HERDEIROS
DE NINA RODRIGUES
A
classe médica (e média) que hoje não se constrange em manifestar seu
preconceito racial é herdeira de Nina Rodrigues. Racista confesso, o renomado
médico baiano tentava dar cientificidade à sua tese sobre as raças inferiores.
Acreditava ele que os negros tinham capacidade
mental limitada e uma tendência natural à criminalidade.
No
final do século XIX, Nina Rodrigues combatia a miscigenação por acreditar que
qualquer mistura poderia degenerar a raça superior branca. Mais ainda, defendia
a existência de dois códigos penais: uma para os brancos e outro para as raças
inferiores. Esses e outros absurdos podem ser observados em seu livro “As Raças Humanas e a Responsabilidade Penal
no Brasil’.
A
população negra perfaz mais de 50% da população brasileira, mas entre os
formados em medicina o percentual foi de 2,66% em 2010. Na USP, por exemplo,
são comuns listas de aprovados nos vestibulares mais concorridos sem sequer um
único auto-declarado negro, como foi o caso deste ano de 2013. Isso se repete
na Bahia, onde mais 70% da população é negra. Simbólica e triste a foto ao
lado,que traz a turma de 2011 da Universidade Federal da Bahia.
A
DECLARAÇÃO DE CÍNTIA, DO CAPÃO
Cintia
Santos Cunha foi uma exceção. E ao a ouvi-la falar, ao perceber a postura de
dignidade que todo ser humano pode – se quiser, carregar, independente de sua
profissão, é possível entender o porquê de tanta oposição por parte das classes
dominantes em relação à presença dos doutores de pele preta: a descoberta de
sua mediocridade.
Médicos,
imprensa e Conselho Federal de Medicina corporativistas, reacionários, cínicos
e racistas, é para vocês a grande lição deixada pela estudante de medicina em
CUBA, Cíntia Santos Cunha, que retornou a Ilha para concluir o curso em
Fevereiro de 2014.
É
do povo que vocês tem medo! E devem mesmo ter medo! Toda sua riqueza não é
suficiente para compensar os mais de 500 anos de opressão.
Assistam
e assustem-se!
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