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Sede da EEMTI Padre Luís Filgueiras. (FOTO | Professor Nicolau Neto). |
Por Nicolau Neto, editor
Em 9 de janeiro de 2025 a Lei 10.639, que tornou o ensino da História e Cultura afro-brasileira e africana em escolas públicas e particulares do Brasil, completou 22 anos. Esta mesma lei foi alterada em 2008 pela de nº 11.645, que versa acerca da obrigatoriedade da História e Cultura afro-brasileira e indígena e, ambas modificaram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDB/96). Apesar de tantos anos que entraram em vigor, elas ainda não são cumpridas em sua plenitude e, em alguns casos se limitam apenas ao artigo 79-B que foi inserido na LDB, tratando da inclusão no calendário escolar do “Dia 20 de novembro como o dia Nacional da Consciência Negra”, hoje feriado nacional.
Por
que, mesmo depois de duas décadas, ainda não conseguimos avançar como o
esperado? Por que o livro didático – sendo a principal ferramenta de
professores e professoras (embora não a única) -, ainda é carregado do
eurocentrísmo? Por que nossa juventude preta e indígena ainda não se veem nas
representações dos livros didáticos? Por que povos africanos e indígenas
continuam sem retratados apenas nos períodos da colonização e do império? Por
que ainda há o apagamento das contribuições do continente africano (inclusive
como berço da filosofia e dos saberes matemáticos) dos livros didáticos?
A oficina – parte teórica
Parece
até indagações feitas antes do surgimento das referidas leis. Mas não são.
Infelizmente. Foi pensando nisso que nos propomos a realizar uma oficina junto
a estudantes da EEMTI Padre Luís Filgueiras, em Nova Olinda, no interior do
Ceará. A temática central é “Os saberes afro-indígenas e o ensino de Sociologia
no livro didático", que já está na III edição. Dentre os objetivos,
destaque para três: analisar como os povos africanos e indígenas aparecem nos
livros didáticos de CHSA e refletir sobre a prática do ensino de sociologia, um
dos componentes sob nossa responsabilidade, além de colaborar para a efetivação
de um currículo voltado para as relações étnico-raciais no ambiente escolar.
Para
nos subsidiar nessas finalidades, estamos discutindo os marcos legais que
orientam a construção de uma educação antirracista, onde levaremos para o
debate as leis 10.639/03 e 11.645/08, as Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura
Afro-brasileira e Africana, a própria LDB/96, além do Projeto Político
Pedagógico (PPP) da escola e o como tudo isso precisa estar interligado com os
livros escolhidos por meio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).
Nesse
sentido, nossos estudantes e eu ao longo da oficina, precisamos refletir e
responder a várias perguntas. Além das que já levantamos, também questionamos:
o que os livros didáticos de CHSA têm apresentado sobre as questões
socioculturais e os saberes dos povos africanos e indígenas na formação do
Brasil?
Iniciada
esta semana nas turmas dos terceiros anos, trouxemos para a roda do diálogo
dois intelectuais negros para nos subsidiar nas discussões. Um foi Abdias do
Nascimento, ex-senador, escritor, artista plástico, professor universitário,
dramaturgo e ativistas das causas negras. Lélia Gonzales, filósofa e
antropóloga, além de ter sido a primeira mulher negra a escrever e falar sobre
raça e gênero no país. Ambos nos trazem que o racismo foi e continua sendo o
principal gargalo para a construção de uma educação que de fato respeite,
valorize e propague os multisaberes, desarranjando toda forma de preconceito,
discriminação e racismo. Afinal, Não há democracia plena onde o racismo ainda
define lugares que pretos, pretas e indígenas devam ou não ocupar. Nesse
sentido, a escola, como o mais importante espaço de promoção e divulgação de
saberes sistematizados, precisa tomar essas questões como prioridades.
No
primeiro contato ainda levamos outras indagações que tentaremos ao longo da
oficina responder, mas sem a pretensão de esgotar o assunto. Quais sejam: por
que é necessário insistir na afirmação de que a África é o berço da humanidade,
das civilizações? Como essa afirmação pode contribuir na luta contra uma
educação ainda arraigada nos moldes europeus e colonizadora e impactar no
sentimento de pertencimento da juventude preta e indígena? Como os livros
didáticos tem trazido essa questão? Como nós, professores e professoras, levamos
essa assertiva para as aulas?
Parte prática da oficina
Após
conhecerem os principais marcos legais da educação para as relações
étnico-raciais e os/ principais autores/as dessas discussões, nossos estudantes
analisarão os livros didáticos tendo como referências essas e outras
legislações.
A
ideia é contribuir para que os alunos e alunas sejam compartícipe da
transformação do ambiente escolar, inclusive a partir de novas práticas de
ensino, fazendo com que percebam que a equidade racial no Brasil só se tornará
real se cada espaço fizer sua parte.
Ao
fim da oficina, eles/as produzirão textos relatando a experiência e
apresentando um diagnóstico do que foi constatado acompanhado de imagens.
Referências Bibliográficas:
CEARÁ,
Secretaria da Educação. Documento Curricular Referencial do Ceará: Ensino
Médio. Fortaleza, CE. 2021.
Ciências
Sociais Hoje, Anpocs. 1984.
Gonzales,
Lélia. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira.1984.
BRASIL,
Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. (2018).
__________________________.Lei
10.639 de 9 de janeiro de 2003.
__________________________. Lei 11.645 de 10
de março de 2008.
Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o
Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. 2004.
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