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Para religioso, a figura de Donald Trump é sómbolo de colapso ético e geopolítico. (FOTO | Fabiana Reinholz | Brasil de Fato RS). |
Nesta Sexta-feira Santa, o frade dominicano e escritor Frei Betto afirma que o mundo atravessa um período sombrio, marcado por guerras, retrocessos dos direitos humanos e a ascensão da extrema direita. “Estamos vivendo uma sexta-feira da Paixão da humanidade”, disse, em entrevista ao podcast Conversa Bem Viver, do Brasil de Fato. A reflexão, tradicionalmente ligada ao martírio de Cristo, é transportada pelo frade ao plano político e social, onde ele denuncia o papel dos Estados Unidos na manutenção de um sistema imperialista e desequilibrado.
Para Frei Betto, a figura do presidente dos EUA Donald Trump é um símbolo desse colapso ético e geopolítico. “Trump é o novo Nero [imperador romano lembrado por sua tirania e por ignorar o sofrimento do povo durante o grande incêndio de Roma, em 64 d.C.]”, comparou, mencionando a guerra comercial que o líder estadunidense causou com as recentes tarifas “malucas” impostas aos países. Ainda assim, o religioso enxerga sinais de resistência: o crescimento da China e o distanciamento progressivo da União Europeia em relação aos EUA são, segundo ele, fatores que indicam possíveis caminhos de ressurreição: “uma esperança de vitória, liberdade e justiça”.
Ao ser questionado sobre o cenário brasileiro, Frei Betto avalia que, caso o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tivesse sido reeleito, o país estaria completamente alinhado ao imperialismo estadunidense. Ele elogia a postura de soberania adotada pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em decisões como o estabelecimento da reciprocidade na exigência de vistos, e lembra que “temos muito potencial para resistir”. “O Brasil é um país privilegiado de todos os pontos de vista: da natureza, de produtos agrícolas e industriais. Podemos não ter a tecnologia de ponta, mas os Estados Unidos já não são mais o fornecedor exclusivo daqueles equipamentos que poderiam ser considerados de inovações tecnológicas”, considera.
‘Ausência de reforma agrária é grave omissão do Brasil’
Na entrevista, Frei Betto também falou sobre a coincidência de datas entre a Sexta-feira Santa e o 17 de abril, quando se completam 29 anos do massacre de Eldorado do Carajás. Para ele, a impunidade desse e de tantos outros crimes no campo revela uma ferida aberta: a ausência de uma reforma agrária no Brasil. “É uma das graves omissões da nossa história”, denuncia. “Isso é desde o Império, que quando libertou os escravizados, não permitiu a eles o acesso à terra e inclusive cometeu crime de indenizar os proprietários de terra, quando deveria ter feito o inverso.”
Segundo o frade, essa dívida histórica se arrasta até hoje. Ele cobra que o governo Lula rompa com os privilégios do latifúndio e enfrente a estrutura concentradora de terras, responsável por expulsar trabalhadores do campo e por transformar o agronegócio em um setor que opera à margem da lei. “É um absurdo o nível de isenção que o agronegócio recebe. Ele não só nega produtos à mesa do brasileiro, como sonega impostos.”
Frei Betto também faz uma autocrítica à esquerda brasileira, que, em sua avaliação, perdeu a capacidade de mobilização popular e ainda não aprendeu a se comunicar com eficiência nas redes digitais. Por isso, ele considera correta a postura do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que mantém as pressões por reforma agrária sem se colocar como oposição ao governo. “[A oposição] seria uma catástrofe”, avalia. Apesar de reconhecer algumas limitações, o religioso afirma que o governo atual é o único com alguma abertura para o diálogo com o MST.
Entre os sinais positivos, Frei Betto aponta o crescimento da mobilização em torno do fim da escala 6×1, que obriga trabalhadoras e trabalhadores a terem apenas um dia de descanso por semana. Ele vê nessa articulação uma oportunidade de reacender o engajamento social e transformar o Dia do Trabalhador, no dia 1° de maio deste ano, num marco da luta popular. “É preciso que o governo priorize isso”, defende.
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Com informações do Brasil de Fato.
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