![]() |
Bolsonaro não quis comentar o tema e disse querer falar do seu novo partido, que terá o número 38: "Eu falo de AI-38. Quer falar de AI-38?" / Mauro Pimentel/AFP. |
“Não se
assustem se alguém pedir o AI-5”, afirmou o ministro da Economia Paulo
Guedes a jornalistas em Washington, nos Estados Unidos, nesta segunda-feira
(25).
No
dia seguinte, ele voltou à polêmica e disse que a edição de um novo Ato
Institucional seria necessária em caso de radicalização de manifestações de rua
– que classificou como “bagunça” e “convulsão social”. O ministro ainda pediu
uma "democracia responsável" no país.
Escalada autoritária
As
declarações, somadas às últimas movimentações do governo federal, apontam para
uma escalada autoritária que mira, principalmente, os movimentos populares.
Na
semana passada o presidente Jair Bolsonaro enviou ao Congresso Nacional um
projeto de lei (PL) com regras sobre o chamado excludente de ilicitude.
O
texto isenta de punições militares das Forças Armadas e integrantes de forças
de segurança, que atuam em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
“Ladrão de celular tem que ir para o pau. E
quando falo em ir para o pau, foi protocolado há poucos minutos na Câmara dos
Deputados um projeto nosso que fala do excludente de ilicitude”, afirmou o
presidente.
Nesta
semana Bolsonaro foi além e afirmou que estuda enviar ao Congresso Nacional um
projeto prevendo a aplicação de ações da GLO em processo de reintegração de
posse no campo.
Nas
palavras dele o mecanismo "para
chegar e tirar o cara da propriedade", processo que, segundo o capitão
reformado, vem sendo protelado por governadores.
O
representante da coordenação nacional do Movimento dos Sem Terra (MST),
Alexandre Conceição, afirma que a utilização da GLO para reprimir movimentos
sociais é uma atitude ditatorial e que o governo brasileiro constrói um
arcabouço jurídico de criminalização dos movimentos sociais.
“Essa tentativa de GLO do campo é mais uma
tentativa de Jair Bolsonaro de resolver um problema social, que por
incompetência dele o governo não tem condições de resolver do ponto de vista
econômico e do ponto de vista de amenizar a crise social que atravessa o Brasil.”
Rubens
Siqueira, da Coordenação Nacional Executiva da Comissão Pastoral da Terra
(CPT), avalia que as afirmações do presidente acirram a violência no campo e
são centralizadoras. Ele aponta os riscos de se tirar dos governos estaduais a
função de negociar reintegrações de posse e substituir esse processo pelo uso
das forças armadas.
“Existe hoje um padrão de reintegração de
posse, dialogada, com preocupação explícita com as famílias e as pessoas. Não é
que esteja sempre sendo cumprido, mas existe, principalmente por parte de
governos dos estados do Norte e do Nordeste. Querem deixar de lado isso para
facilitar o uso da força e a violência legalizada contra os pobres do campo.”
Recorrência
Há
menos de um mês, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) também sugeriu a
reedição do AI-5 ao falar de uma possível "radicalização da esquerda". Mais tarde, o filho do presidente
Jair Bolsonaro (PSL) se retratou e disse que “talvez tenha sido infeliz” na declaração.
Após
as repercussões negativas, a equipe de Guedes também tentou reparar a fala do
ministro.
Segundo
os assessores, além de “infeliz”, a declaração não reflete o que o ministro
pensa. Ele mesmo, logo depois, se corrigiu e disse que a democracia brasileira não
admitiria um ato de repressão.
O
quinto decreto dos anos de chumbo resultou no fechamento do Congresso Nacional
e reforçou o autoritarismo do presidente para decretar estado de sítio por
tempo indeterminado, demitir pessoas do serviço público, cassar mandatos,
suspender direitos políticos, confiscar bens privados e intervir em todos os
estados e municípios.
Repercussão negativa
A
declaração de Guedes foi duramente reprovada pelos presidentes da Câmara dos
Deputados, Rodrigo Maia (DEM), e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro
Dias Toffoli. Para eles, os comentários de Guedes não condizem com a
democracia.
“O AI-5 é incompatível com a democracia. Não
se constrói o futuro com experiências fracassadas do passado”, afirmou o
presidente do STF, ministro Dias Toffoli.
Maia
disse que o uso recorrente dessas ameaças por integrantes da gestão de Jair
Bolsonaro gera insegurança sobre o intuito do governo. "Tem que tomar cuidado, porque se está usando
um argumento que não faz sentido do ponto de vista do discurso, e como não faz
sentido, acaba gerando insegurança em todos nós sobre qual é o intuito por trás
da utilização de forma recorrente dessa palavra."
Bolsonaro,
por sua vez, não comentou as declarações do ministro da Economia. Ele disse que
preferia falar sobre o seu novo partido, o Aliança pelo Brasil. Caso o partido
seja criado, o número da legenda na urna eletrônica deve ser o 38.
"Eu falo de AI-38. Quer falar de AI-38? Eu
falo agora contigo. Quer o AI-38? Eu falo agora. Esse é meu número. Outra
pergunta aí", disse o presidente.
______________________________
Com
informações do Brasil de Fato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!