![]() |
Mídia atua em peso para ajudar governo a convencer o povo que sem implodir direitos garantidos pela Previdência, o país irá à falência. (FOTO/Pixabay). |
Nem
nos golpes contra Getúlio Vargas, em 1954, e Jango, em 1964, vimos a mídia tão
unida como agora. E desta vez não é para depor um presidente, mas para arruinar
um país. Trato da destruição da previdência social, assumida como projeto
prioritário do atual governo e encampada sem restrições pelos meios de
comunicação.
Chegam
a ser constrangedores os raros momentos em que um convidado de um programa de
TV foge da linha oficial da emissora. As expressões dos apresentadores beiram o
pânico, a contenção imposta ao entrevistado é evidente e seu nome, com toda
certeza, retirado da lista da produção. No entanto esses momentos são raros.
A
regra é de que todos rezem pela mesma cartilha. O objetivo é inculcar na
população a ideia de que sem implodir os direitos dos trabalhadores, garantidos
pela atual Previdência, o país irá à falência. O sucesso dessa estratégia pode
ser visto em depoimentos de pessoas, futuras vítimas dessa política, defendendo
as pretensas “reformas”. Sou testemunha disso.
Se
nos chamados programas de debates, que de debates não têm nada, ainda ocorrem
descuidos dos produtores, no noticiário a linha oficial é rigorosamente
cumprida. Discordâncias podem resultar em demissões. Seria ingênuo admitir a
possibilidade de que esses funcionários das emissoras, sem dúvida
escolarizados, não conheçam os inúmeros trabalhos existentes mostrando a
falácia da tal reforma. Só que uma referência a eles pode representar o fim do
emprego. E isso não ocorre só com a TV. Vale para o rádio e para os meios
impressos.
Outro
exemplo notável do pensamento único veiculado pela mídia brasileira é a
cobertura a respeito da situação da Venezuela. Apesar das sucessivas eleições
realizadas nos últimos anos, a mídia brasileira decidiu que lá vigora um regime
ditatorial e o presidente da República, eleito democraticamente, é chamado de
ditador. Inúmeras horas de transmissão de rádio e TV, páginas e mais páginas de
jornais e revistas são usadas para desqualificar o governo e exaltar golpistas
que surgem periodicamente, impulsionados por interesses externos.
Há
casos extravagantes. Correspondentes baseados em Buenos Aires ou Nova York
falam sobre acontecimentos ocorridos em Caracas. Revelam muito mais as suas
opiniões e as de seus patrões sobre o que ocorre na Venezuela do que informam.
Outro dia foi possível saber o que ocorre naquele país, não através desses
correspondentes, mas de uma jornalista entrevistada pela FoxNews. Ela
surpreendeu o apresentador revelando fatos até então escamoteados pela emissora
estadounidense. Vozes como essa passam longe da mídia brasileira.
Apologia
ao crime
Mas
o pensamento único não se restringe a esses fatos evidentes. Há questões mais
sutis como a da violência, tratada hoje como programa de governo. Na mídia ela
aparece como algo intrínseco à sociedade brasileira, quase sempre desvinculada
de suas causas estruturais, pobreza, abandono, desigualdade. Na televisão
assume ares de espetáculo mórbido capaz de alavancar índices elevados de
audiência. Explorada por apresentadores histriônicos incentivadores de mais
violência. Não por acaso gestos simulando armas na última campanha eleitoral
foram recebidos com naturalidade por parcela considerável da população.
A
possibilidade aberta pelo governo ao permitir o porte legal de armas para quase
20 milhões de pessoas decorre desse longo processo de embrutecimento da sociedade
através da mídia. Não se trata de um fenômeno recente. Nos primórdios da
televisão, O Homem do Sapato Branco, interpretado por Jacinto Figueira Junior,
já apelava para o grotesco no trato de supostos pequenos contraventores.
Nas
últimas décadas esse tipo de programa espalhou-se pelo país alçando ao
estrelato figuras como Ratinho ou Wagner Montes. Personagens semelhantes
apareceram em inúmeras cidades brasileiras enraizando a ideia de que a
violência necessita de valentões para combatê-la e, claro, de muitas armas.
Se
dessa forma a apologia ao crime disfarçada de informação já era um incentivo à
barbárie, com o aval do governo os limites da decência se ampliaram. A Rede
Bandeirantes deixou de lado qualquer prurido de sensatez e colocou no ar um
editorial apoiando o decreto que praticamente libera o porte de armas no país.
Fez isso com dupla motivação: adular um governo do qual depende financeiramente
para sobrevier e fortalecer o uso da violência para defender os seus próprios
interesses, especialmente no campo.
Para
reverter o embrutecimento existente na sociedade brasileira, gerado pelo
secular processo de escravização de pessoas sequestradas na África, seria
necessário um longo programa civilizatório de cunho político-cultural. Nesse
sentido a Constituição de 1988 foi um alento. Apontava-se para uma sociedade
mais justa e humanizada. Indicava-se um futuro um pouco mais promissor que
passou a ser sistematicamente destruído a partir do golpe de 2016. Com o apoio
aberto e incondicional da mídia unificada. (Com informações da RBA).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!