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Com reforma de Bolsonaro, país trocaria modelo de Seguridade de inspiração europeia por mero "assistencialismo". (Foto: ANPR/Fotos Públicas). |
Caso
a reforma da Previdência do governo Bolsonaro seja aprovada, dificilmente os
trabalhadores conseguirão o valor integral das aposentadorias, pois precisarão
comprovar 40 anos de contribuição. Somada aos impactos da reforma trabalhista,
que instituiu modalidades como o trabalho temporário e intermitente, até mesmo
os 20 anos de contribuição necessários para garantir o piso de 60% da média
salarial é uma aposta arriscada, segundo o economista Eduardo Fagnani.
"Estamos caminhando para um país que daqui 20
anos vai ter 70% da população que não consegue ter acesso à Previdência,"
afirma Fagnani, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria
na Rádio Brasil Atual nesta quinta-feira (21). Com o crescimento da
informalidade e da precarização do emprego, a esse segmento restará apenas o
Benefício de Prestação Continuada (BCP) como alternativa. Passaríamos, então,
de um modelo de seguridade social para um mero "assistencialismo".
Hoje,
o BCP paga um salário mínimo a pessoas com deficiência e idosos a partir dos 65
anos que não conseguiram contribuir. Pelo novo texto, esse valor só será
alcançado aos 70 anos, no caso dos idosos. Aos 60, ficará restrito a apenas R$
400, o que faz com que o Fagnani preveja um cenário obscuro: "Vamos ser um país de velhos pedindo esmola
na rua. Essa é a decisão que os congressistas e a sociedade vão ter que tomar.
É isso que nós queremos?", questiona o economista.
Ele
diz que a proposta de Bolsonaro representa o inverso do modelo pretendido pela
Constituição de 1988 – com alto grau de solidariedade intergeracional, de
inspiração europeia – que hoje garante, por meio das aposentadorias ou do BCP,
rendimento de pelo menos um salário mínimo a 88% dos idosos.
O
economista também diz que as novas regras de transição, principalmente a que
define a elevação da idade mínima, de 62 anos para mulheres e 65 anos para
homens, sempre que subir a expectativa de sobrevida da população, com reajuste
automático, praticamente impedirá o acesso às aposentadorias nas próximas
décadas.
Falso milagre
Segundo
o governo, essa proposta garantirá "economia" de R$ 1,165 trilhão, em
10 anos, uma média de pouco mais de R$ 100 bilhões por ano, o que seria a chave
para destravar o crescimento do país. Fagnani contesta esse argumento e diz que
as perdas com desonerações fiscais, sonegação e pagamento de juros da dívida
pública somam cerca de R$ 1,3 trilhão ao ano, o que a dita reforma
"economizaria" em uma década.
"Como
o grande problema do país pode ser a Previdência, se todo ano o governo federal
deixa de arrecadar cerca de R$ 400 bi com isenções fiscais? Se todo ano pagam
cerca de 400 bi de juros?", indaga o economista. Já as sonegações seriam
da ordem de R$ 500 bi anuais, que poderiam ser combatidas com sistemas
informatizados de informação. Em vez disso,
"premiam" as empregas sonegadores com seguidos programas de
refinanciamento.
"Se
o problema fiscal é tão grave, o governo poderia buscar ao menos 30% desse
montante, o que somaria mais de 400 bi por ano", o que equivaleria a mais
de três vezes a suposta economia alegada com a reforma da Previdência, provoca
o economista. (Com informações da RBA).
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