Do
Me Explica
É
um projeto de lei que tramita (está sendo analisado) na Câmara dos Deputados. O
texto desse projeto tenta definir o que pode ser considerado uma família no
Brasil. Ou seja, estabelece (cria) regras jurídicas para que tipo de grupo de
pessoas pode ser chamado de família.
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Comissão aprovou definição de família como união entre homem e mulher. |
Não entendi: Por que um texto desses
é necessário?
A
Constituição de 1988 já tem uma definição do que é uma família. Ela diz uma
família é o resultado da união entre um homem e uma mulher ou um dos pais e
seus filhos. O tal projeto de lei serviria para criar regras mais claras para
isso.
Certo. Então está tudo bem. Por que
tem gente tão preocupada com isso?
Porque
em 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que pessoas do mesmo sexo
também podem se unir juridicamente, com os mesmos direitos e deveres dos outros
casais. Na prática, os casais homossexuais agora podem se casar no cartório por
causa dessa decisão. O Estatuto da Família é, na verdade, uma tentativa de
reagir a isso e definir em lei que tipo de família poderá ter acesso a direitos
como pensão, INSS e licença-maternidade.
Agora fiquei confuso: se está na
nossa lei, então o STF não está errado?
O
STF serve justamente para interpretar questões difíceis, que não têm solução
óbvia e tomar uma decisão respeitando os princípios da nossa Constituição.
Nesse caso, mesmo que o texto da Constituição diga que a família é formada por
homem e mulher, o que vale é a decisão do STF dizendo que casais de pessoas do
mesmo sexo podem se casar.
Mas então o que vai acontecer se o
Estatuto da Família for aprovado? A decisão do STF deixa de valer?
É
justamente essa dúvida que está causando confusão. Teoricamente, mesmo que esse
projeto de lei seja aprovado, a decisão do Supremo Tribunal Federal continua a
valer. Mas vai acontecer uma briga política para questionar essa decisão do STF
e tentar validar a lei da Câmara.
O que falta para o Estatuto da
Família ser aprovado?
Ainda
faltam muitos passos. Ele acabou de ser aprovado na Comissão de Constituição e
Justiça, o que significa que ele ainda tem que ser votado por todos os
deputados e os senadores. Depois disso, tem de ser sancionado (aprovado) pela
presidenta Dilma. Esse processo todo pode durar meses (ou até anos). E ainda há
a possibilidade de que ele não seja aprovado.
Fiquei
com uma dúvida ainda. Se já existe decisão sobre o que é o casamento, por que
tem gente querendo debater isso de novo?
Essa
é uma pergunta complicada. Acho que a gente pode dizer que existem grupos na
nossa sociedade que não gostaram dessa história de pessoas do mesmo sexo
poderem se casar. Elas são contra isso e decidiram tentar fazer uma batalha
política para ver se, de alguma maneira, conseguem reverter isso. Um bom jeito
de fazer isso é com um projeto de lei no Congresso. E é por isso que estamos
conversando sobre esse assunto.
Bom, mas se o povo brasileiro não
gosta de casamento de pessoas do mesmo sexo, então não é justo que ele seja
proibido?
Justo
não é. Primeiro, porque a orientação sexual e amorosa das pessoas não deveria
ser uma questão na qual as leis interferem. E te explico o porquê: ser
homossexual não é ilegal. E o casamento é um contrato entre duas pessoas. O
Brasil é um país que separa a religião do estado, das leis. Ou seja, somos um
país laico. Portanto, não há motivo para que o casamento entre pessoas do mesmo
sexo não possa existir. Mesmo que 99% dos brasileiros seja contra a união
homossexual, isso não torna justo proibir o casamento entre essas pessoas,
porque as leis devem tratar todo mundo da mesma maneira.
Então quer dizer que as igrejas agora
são obrigadas a casar homossexuais?
Não,
isso não é verdade. As igrejas têm autonomia para decidir que tipo de pessoas
pode casar segundo suas regras. Os casamentos civil e religioso são duas coisas
separadas. O civil é um contrato legal, o religioso uma união baseada na fé e
nos costumes daquela religião. O Estado (as leis) não se metem no casamento
religioso. E, agora, a religião não pode mais determinar quem tem a
possibilidade de casar no civil.
O que vai acontecer se o Estatuto da Família
for aprovado?
Não
se sabe com certeza. Mas imaginamos que vai começar uma batalha política e
jurídica para definir se o projeto de lei vai contra a decisão do STF.
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