Representantes
da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) empenhados na luta contra o racismo
criticaram o técnico Dunga por suas declarações de que ele parece afrodescendente
(negro), de ‘tanto que apanha e que gosta
de apanhar”. Para Humberto Adami, presidente da Comissão Nacional de
Escravidão Negra do Conselho Federal da OAB, o técnico brasileiro deveria ser
formalmente acusado e processado por injúria racial e racismo, já que ofendeu
não um indivíduo, mas toda a comunidade negra do país.
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Dunga associou os afrodescentes com o gosto pelo o apanhar. Foto: Divulgação. |
—
Dunga está totalmente errado e expressa preconceito, podendo ser enquadrado na
prática de injúria racial e racismo. Ele pode ser acusado de praticar um crime,
por ter exteriorizado que toda a população afrodescendente do Brasil gosta de
apanhar. Assim, ele está dizendo que toda a população afrodescendente do país
tem uma tendência ao masoquismo. Ele pode ser, sim, acusado de racismo, porque
não atingiu um indivíduo, mas toda uma população — declarou Adami. — Ele
deveria pensar melhor se deve continuar neste caro, porque a seleção representa
uma população cuja maioria de afrodescendentes. É uma população que não gosta
de apanhar nem no futebol, nem na vida, que trabalha de sol a sol, que paga
suas contas e anda na linha como aprendeu com seus pais, e não pode concordar
com isso.
Para
o advogado, o que está por trás das declarações de Dunga é resquício da
escravidão, ideias que ele deve ter aprendido na infância:
—
Dunga, a população afrodescendente não gosta de apanhar. Essa é uma ideia muito
errada, e você é ultrapassado como técnico e como ser humano. Você tem de
entender que suas palavras têm repercussão. Imagine um menino negro que quer se
espelhar nele e o ouve afirmar que negro gosta de apanhar, ou as mulheres
negras ouvirem-no dizer isso. Creio que qualquer pessoa pode apresentar uma
representação à ouvidoria da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial (Seppir, órgão da Presidência da República) e ao Ministério Público
Federal.
Já
o presidente da Comissão de Igualdade Racial-CIR/ OABRJ e coordenador nacional de
comunicação do Movimento Negro Unificado, o advogado Marcelo Dias, disse
concordar parcialmente com as declarações do treinador, embora considerando
ridícula uma parte do que ele afirmou.
—
O ridículo é dizer que a população negra gosta de apanhar. Pelo contrário. Até
porque temos uma história de luta e de resistência. Esta parte da fala dele
vamos rechaçar. No esporte, os responsáveis tentam, a todo momento, minimizar o
racismo e a chaga da escravidão no país. Não podemos permitir que o técnico da
seleção tome atitudes como esta. Ele merece que a OAB-Rio apresente uma
representação contra ele. Racismo é crime, e vamos oficiar sobre o assunto à
CBF na segunda-feira. Vamos reivindicar uma retratação pública por parte do
Dunga — antecipou.
Dias
reconheceu, porém, que há algo de verdadeiro no que o técnico da seleção
declarou.
—
É que a comunidade afrodescendente apanha muito no Brasil. Sofremos há mais de
500 anos o massacre da juventude negra — analisou Dias.
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