Há
mais de 200 anos, um navio português que transportava mais de 500 escravos,
naufragou junto à Cidade do Cabo. Os restos desse navio foram agora encontrados
num esforço dirigido pelo museu norte-americano Smithsonian e pelo museu
sul-africano Iziko. Morreram 212 pessoas, na sua totalidade escravos, neste
naufrágio.
“Esta descoberta é significativa porque nunca
houve documentação arqueológica de um navio que se afundou e se perdeu enquanto
transportava uma carga de pessoas escravizadas”, disse Lonnie G. Bunch,
diretor-fundador do Museu Nacional Smithsonian de História e Cultura
Africana-Americana, de acordo com a Agência Lusa.
O
navio português foi encontrado ao largo da cidade onde naufragou. Os caçadores
de tesouros que o localizaram pensaram tratar-se de outra embarcação
contemporânea. No entanto, segundo indica o New York Times, o facto de terem
sido localizadas várias barras de ferro e pormenores de cobre – que mostravam
que a embarcação só poderia datar do final do século XVIII e não era afinal o
esperado navio mercante holandês – apontaram para o São José, que deixou
Moçambique com destino ao Maranhão em dezembro de 1794, mas acabou por
naufragar na África do Sul apenas 24 dias depois de ter zarpado.
“A identificação deste navio torna-se ainda
mais importante por representar uma das primeiras tentativas para transportar
escravos da África oriental [banhada pelo Índico] para o comércio de escravos
transatlântico, que desempenhou uma importante função no prolongamento por décadas
desde trágico comércio”, acrescentou Bunch.
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Vista da cidade do Cabo, onde o navio naufragou. |
A tripulação, assim como metade
dos escravos a bordo terão conseguido salvar-se – os escravos eram
considerados mercadoria valiosa e por isso, o comandante tentava acautelar a
sua sobrevivência -, mas morreram mais de 200 pessoas neste naufrágio. Tanto o
Smithsonian como o Iziko vão organizar uma cerimónia fúnebre na Cidade do Cabo
para homenagear os escravos falecidos no acidente.
Calcula-se que mais de 400.000 nativos
da África oriental foram transportados como escravos de Moçambique para o
Brasil entre 1800 e 1865.
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