3 de agosto de 2025

Reconhecer sua identidade negra em uma sociedade racista é um ato político

 

Imagem mostra três jovens negras sorrindo. (FOTO | Paulo Pinto | Agência Brasil).


Em um país como o Brasil, onde o racismo se manifesta de forma velada, mas profundamente enraizada, muitas pessoas negras, especialmente as de pele mais clara, não se reconhecem como negras. Essa negação da identidade racial é resultado direto do colorismo, da ausência de letramento racial e do histórico processo de desvalorização da negritude.

O colorismo é a discriminação que ocorre dentro do próprio grupo racial, baseada na tonalidade da pele. Quanto mais clara a pele, maior o acesso a determinados privilégios sociais, afetivos e profissionais. Essa vantagem relativa, muitas vezes percebida como “normalidade”, leva pessoas negras de pele clara a não se perceberem como parte de um grupo historicamente oprimido. Assim, termos como “moreno”, “pardo”, “cor de jambo” ou simplesmente “não negro” passam a ser usados como escudos contra a rejeição social que a palavra “negro” ainda carrega.

Esse comportamento é potencializado pela falta de letramento racial, um processo de educação e consciência crítica sobre questões raciais. O letramento racial permite que indivíduos compreendam como o racismo opera, como ele se manifesta em estruturas sociais, na mídia, nas relações interpessoais e, sobretudo, na construção da identidade. Pessoas não letradas racialmente tendem a reproduzir discursos que perpetuam o racismo, mesmo sem intenção direta.

Sem esse letramento, muitos não entendem que ser negro vai além do tom de pele: envolve vivências, ancestralidade, exclusões históricas e a construção de uma identidade coletiva. Quando um indivíduo se recusa a se reconhecer como negro, isso não apenas enfraquece sua própria compreensão de si, mas também enfraquece as lutas do movimento negro por reconhecimento, justiça e reparação.

Reconhecer-se como negro em uma sociedade que insiste em embranquecer corpos e histórias é, portanto, um ato político. E o letramento racial é o caminho para que cada vez mais pessoas entendam a importância desse reconhecimento, não apenas individual, mas coletivo. Sem essa consciência, seguimos repetindo os ciclos de apagamento, negação e distanciamento que o racismo tanto deseja manter.

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Por Felipe Ruffino, na Alma Preta Jornalismo.

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