A
reunião da comissão geral no plenário da Câmara, que ocorre na manhã de hoje
(14) para discutir violência contra mulheres e meninas, teve seu início marcado
por tumulto e bate-boca.
Em
um dos discursos mais polêmicos da manhã, a presidente do coletivo de lésbicas
Coturno de Vênus, Cláudia Macedo, provocou tumulto ao afirmar “que nesta Casa
há pelo menos um deputado acusado de apologia ao estupro” e defender que o
Parlamento o afaste, para sinalizar empenho em acabar com este crime. Ela não
citou nomes.
Entre
os presentes, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), um dos primeiros a chegar à
sessão e se inscrever para falar, reagiu imediatamente e cobrou que ela
revelasse quem era o deputado que estava acusando. Bolsonaro gritava
"palhaça” fora dos microfones que estavam desligados. A tensão aumentou.
A
deputada Maria do Rosário (PT-RS), que preside o debate, pediu para que a
oradora continuasse seu discurso tentando ignorar Bolsonaro que, em sua frente,
com dedo em riste, acusava a parlamentar de “defensora de estuprador”. Sem
conseguir a palavra, Bolsonaro chegou a levantar o pedestal dos microfones do
plenário e provocando a movimentação de seguranças, mas acabou voltando para
sua cadeira pouco depois. Ela chamou diversos convidados para se manifestar,
protelando os discursos dos políticos inscritos.
Ao
obter a palavra, Bolsonaro lembrou que tem desavenças com Maria do Rosário
desde 2003 e rebateu as acusações feitas por movimentos sociais presentes na
sessão. Segundo ele, enquanto Maria do Rosário defendia Champinha (menor de
idade que matou Liana Friedenbach e Felipe Caffé, em 2003 anos) ele estava na
defesa das vítimas.
Tumulto
O
clima estava tenso desde os primeiros momentos da sessão, quando Bolsonaro e
seu filho Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) – adversários ideológicos da petista –
sentaram frente a frente com a parlamentar que foi a primeira a discursar. Ao
reassumir a presidência da sessão, Eduardo Bolsonaro deu início às provocações
questionando o tempo que oradores teriam para falar.
Maria
do Rosário, visivelmente irritada, informou que responderia posteriormente e
chamou a primeira oradora a falar. Bolsonaro lembrou que há previsão de Ordem
do Dia às 13h de hoje e que uma sessão longa poderia prejudicar parlamentares
que pretendem participar dessa segunda reunião da Câmara. Rosário respondeu
citando o Regimento e o deputado começou a gritar ao ter tido o microfone
fechado.
A
deputada o ignorou, chamando outra convidada a falar na tribuna. Jair Bolsonaro
então questionou falas de pessoas que não estavam na lista da sessão. “A
senhora não manda aqui não. Segue o regimento”, gritou.
Jair
Bolsonaro não conseguiu mudar a sessão, mas conseguiu tumultuar o clima ao ser
abordado por um grupo de simpatizantes, principalmente estudantes, que se
concentrou no meio do espaço gravando vídeos e tirando fotos ao lado do
parlamentar.
Carla
Zambelli Salgado, do Movimento Nas Ruas, convidada à tribuna, aumentou a
temperatura do debate quando atacou partidos de esquerda na luta contra a
violência contra a mulher e questionou que “espécie de proteção” legendas como
PT e PCdoB defendem quando ignoram “um
projeto verdadeiro. Por que não apoiam o projeto de castração química? Só
porque foi apresentado por Jair Bolsonaro (PSC-RJ)?”, provocou. “É um projeto que pode acabar efetivamente
com a violência contra a mulher e contra a cultura do estupro", disse.
A
parlamentar não reagiu e Thiago André Pierobom de Ávila, promotor de Justiça do
Ministério Público no Distrito Federal, respondeu: “Nós não promovemos a defesa de direitos humanos através da violação de
outros direitos humanos”, disse sendo aplaudido pelos convidados.
Projetos de lei
Antes
da confusão, Maria do Rosário já tinha se manifestado e defendeu mudança na
legislação que trata de procedimentos policiais em casos de violência contra
mulheres e meninas. Ela fez um apelo para que a Câmara conclua o Projeto de Lei
(PL) 3.792, em tramitação desde o ano passado. Durante a comissão geral
realizada no plenário da Câmara para discutir a violência contra mulheres e
meninas, a deputada destacou que a proposta cria um sistema integral de
proteção às vítimas.
“O
projeto prevê vários passos para que uma criança seja protegida quando chega a
uma instituição. Prevê que a oitiva da criança seja gravada, que tenha o apoio
de profissionais da psicologia atentos às necessidades da criança e que seja um
depoimento único”, detalhou.
“As
memórias vão se confundindo. Outras podem aparecer depois. Se ela for ouvida e
gravada uma vez, não passara pela revitimização de tantas oitivas”, disse.
Uma
das autoras do pedido para que a sessão fosse realizada hoje, Maria do Rosário
lembrou que, em seu primeiro mandato na Câmara, participou da Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre violência contra mulheres, adolescentes e
crianças que resultou em novas leis que agravaram penas aplicadas nos casos de
crimes sexuais.
“Todas
as vezes que os senhores escutam no noticiário ou leem nos jornais a expressão
'estupro de vulnerável' ela é fruto do trabalho das mulheres e homens deste
Parlamento. Não é mais possível pela lei uma criança e uma mulher ser julgada
pela roupa que usa, pela festa a que compareceu”, exemplificou.
 |
O deputado Jair Bolsonaro discute com a deputada Maria do Rosário durante comissão geral, no plenário da Câmara dos Deputados, que discute a violência contra as mulheres e meninas, a cultura do estupro, o enfrentamento à impunidade e políticas públicas de prevenção, proteção e atendimento às vítimas no Brasil. (Marcelo Camargo/Agência Brasil). |