As
mulheres estudam por mais anos que os homens. Entre as pessoas de 25 a 44 anos
de idade, o percentual de homens que completou a graduação é de 15,6%, enquanto
o de mulheres atingiu 21,5%, indicador 37,9% superior ao dos homens. No
entanto, o porcentual de mulheres brancas com ensino superior completo (23,5%)
é 2,3 vezes maior do que o de mulheres pretas ou pardas (10,4%) e é mais do que
o triplo daquele encontrado para os homens pretos ou pardos (7%). Os dados
fazem parte da pesquisa "Estatísticas de gênero", divulgada na
quarta-feira 7 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O
estudo comprova, ainda, que embora as mulheres avancem mais nos estudos, elas
seguem ganhando menos que os homens. As mulheres trabalham, em média, três
horas por semana a mais do que os homens, combinando trabalhos remunerados,
afazeres domésticos e cuidados de pessoas. Mesmo assim elas ganham, em média,
76,5% do rendimento dos homens.
Segundo
o IBGE, vários fatores contribuem para as diferenças entre homens e mulheres no
mercado de trabalho. Por exemplo, em 2016, as mulheres dedicavam, em média, 18
horas semanais a cuidados de pessoas ou afazeres domésticos, 73% a mais do que
os homens (10,5 horas).
Essa
diferença chegava a 80% no Nordeste (19 contra 10,5). Isso explica, em parte, a
proporção de mulheres ocupadas em trabalhos por tempo parcial, de até 30 horas
semanais, ser o dobro da de homens (28,2% das mulheres ocupadas, contra 14,1%
dos homens).
“Em função da carga de afazeres e cuidados, muitas mulheres se sentem compelidas a buscar ocupações que precisam de uma jornada de trabalho mais flexível”, explica a coordenadora de População e Indicadores Sociais do IBGE, Bárbara Cobo, complementando que “mesmo com trabalhos em tempo parcial, a mulher ainda trabalha mais. Combinando-se as horas de trabalhos remunerados com as de cuidados e afazeres, a mulher trabalha, em média, 54,4 horas semanais, contra 51,4 dos homens”.
Mesmo
trabalhando mais horas, a mulher segue ganhando menos. Apesar da diferença
entre os rendimentos de homens e mulheres ter diminuído nos últimos anos, em
2016 elas ainda recebiam o equivalente a 76,5% dos rendimentos dos homens. Uma
combinação de fatores pode explicar essa diferença. Por exemplo, apenas 37,8%
dos cargos gerenciais eram ocupados por mulheres; essa diferença aumentava com
a faixa etária, indo de 43,4% de mulheres em cargos de chefia no grupo até 29
anos de idade até 31,3% no grupo de 60 anos ou mais.
Outros
aspectos, como a segregação ocupacional e a discriminação salarial das mulheres
no mercado de trabalho, podem contribuir para a diferença de rendimentos.
“Observamos o que se chama de teto de vidro, ou glass ceiling”, explica Bárbara
Cobo: “A mulher tem a escolarização necessária ao exercício da função, consegue
enxergar até onde poderia ir na carreira, mas se depara com uma ‘barreira
invisível’ que a impede de alcançar seu potencial máximo”. Na categoria de
ocupação com nível superior completo ou maior, a diferença era ainda mais
evidente: as mulheres recebiam 63,4% do rendimento dos homens em 2016.
A
diferença entre homens e mulheres começa na infância e se aprofunda ao longo da
vida escolar. Em 2016, as mulheres de 15 a 17 anos de idade tinham frequência
escolar líquida (proporção de pessoas que frequentam escola no nível de ensino
adequado a sua faixa etária) de 73,5% para o ensino médio, contra 63,2% dos
homens.
Isso
significa que 36,8% dos homens estavam em situação de atraso escolar. Na
desagregação por cor ou raça, 30,7% das pretas ou pardas de 15 a 17 anos de
idade apresentaram atraso escolar em relação ao ensino médio, ante 19,9% das
mulheres brancas. Comparando-se gênero e cor ou raça, o atraso escolar das
mulheres brancas estava mais distante do registrado entre os homens pretos ou
pardos (42,7%).
Saúde das mulheres
A
pesquisa do IBGE traz também dados da saúde reprodutiva das mulheres. Do total
de mulheres de 18 a 49 anos de idade, 97,4% tinham sido atendidas pelo menos
uma vez em uma consulta pré-natal com profissional de saúde especializado na
última gravidez. As mulheres nessa faixa etária que chegaram a ser atendidas em
pelo menos quatro consultas foram 93,9%.
Na
desagregação por cor ou raça, ambos os indicadores sobre atendimento em
consulta pré-natal apresentam desigualdade: enquanto 98,6% das mulheres brancas
foram atendidas em no mínimo uma consulta com profissional de saúde
especializado na última gravidez, entre as pretas ou pardas esse percentual foi
menor: 96,6%.
Quando
o parâmetro é ter frequentado no mínimo quatro consultas, o percentual foi de
95,4% para as mulheres brancas e 92,8% para as mulheres pretas ou pardas. Essas
desigualdades se acentuam regionalmente: na região Norte, por exemplo, o
percentual de mulheres brancas que foram atendidas em no mínimo quatro
consultas (98,5%) superou o de mulheres pretas ou pardas (87,9%) em mais de dez
pontos percentuais.
Ainda
segundo a pesquisa, 72,3% das mulheres de 18 a 49 anos em uniões sexualmente
ativas e que não estavam na menopausa utilizavam algum método para evitar a
gravidez, ou seja: mais de 1/4 das mulheres nesse grupo não utilizavam qualquer
método contraceptivo. No Norte (68,4%) e Nordeste (71,5%) os percentuais
estavam abaixo da média nacional.
Com
isso, a taxa de fecundidade adolescente era de 56 nascimentos a cada mil
mulheres na faixa dos 15 aos 19 anos de idade.
Entre
as regiões, as menores taxas estavam no Sul (45,4 por mil) e Sudeste (45,6); no
outro extremo, a região Norte registrou 85,1 nascimentos para cada mil mulheres
de 15 a 19 anos. A menor taxa entre as unidades da Federação foi do Distrito
Federal, 38,6. O Acre apresentou a maior taxa de fecundidade, 97,8 nascimentos
por mil mulheres de 15 a 19 anos, ou cerca de um nascimento para cada dez
mulheres adolescentes.
A pesquisa
Para
chegar aos dados divulgados hoje o IBGE compilou informações de suas pesquisas
e de fontes externas para elaborar as Estatísticas de gênero: indicadores
sociais das mulheres no Brasil. Esses indicadores estão agrupados em cinco
temas: estruturas econômicas, participação em atividades produtivas e acesso a
recursos; educação; saúde e serviços relacionados; vida pública e tomada de
decisão; e direitos humanos das mulheres e meninas.
As
informações são das pesquisas do IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD e PNAD Contínua), Projeções da População, Estatísticas do Registro Civil,
Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) e Pesquisa de Informações Básicas Estaduais
(Estadic), além do Ministério da Saúde, Presidência da República, Congresso
Nacional, Tribunal Superior Eleitoral e Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP.
(Com informações de Carta Capital).
![]() |
Cotas aumentam a inserção de negros na universidade, mas mostram que o caminho da igualdade ainda é longo. (Foto: Victória Damasceno). |