Na
última quinta-feira (21), o portal UOL Eleições 2014 publicou uma matéria onde
lista “as mais belas candidatas” que disputam votos neste ano, gerando críticas
por parte de militantes feministas.
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Foto: Reprodução/Captura do site Uol Eleições 2014 |
O
texto, escrito pelo jornalista Vinícius Segalla, considera a presença dessas
candidatas uma forma de tornar o horário de propaganda eleitoral mais
“palatável”. Para Segalla, elas “mostram
que belos traços, sorrisos encantadores e sensualidade são características que
sobram, também, na política nacional”.
A
candidata a deputada estadual de São Paulo pelo PSOL Isa Penna, uma das
mulheres presentes na lista do portal, publicou em sua página do Facebook uma
nota onde exige que sua foto seja removida da matéria, que considera machista e
desrespeitosa. “Esse tipo de matéria só
demonstra mais uma vez como é essencial que, nós mulheres, ocupemos cada vez
mais os lugares públicos e políticos da nossa sociedade, para demonstrarmos
para este tipo de pessoas que podemos sim lutar pelos nossos direitos, que
temos que ter o protagonismo na tomada de decisões que envolvam toda nossa
comunidade e que nossas ideias devem ser levadas em conta. Nossa participação
na sociedade não pode ser resumida à de objeto sexual, e iremos enfrentar a
mídia e grandes interesses para provar isso”, declarou Penna.
Segundo
o professor universitário Moisés Saraiva, a exigência da candidata Isa Penna é
uma questão delicada no âmbito jurídico. “Há
dois grandes direitos em conflito: um que é o da liberdade de imprensa,
principalmente no caso de ser uma candidata a deputada estadual, e o direito a
honra e a imagem”, explica.
Saraiva,
que ensina Direitos Humanos no curso de Direito da Universidade Regional do
Cariri (URCA), considera que a matéria é sexista e reduz as mulheres à condição
de “objetos a serem degustados”, mas
a grande dificuldade do caso seria a superação dos valores machistas
naturalizados no próprio sistema judiciário. Na opinião de Saraiva, “ao solicitar que sua foto fosse retirada,
por se sentir ofendida, objetificada, entendo ser possível discutir, a nível
judicial, a retirada, principalmente após o decurso de prazo razoável do pedido
feito pela candidata ao site”. Mas adiciona: “dentro de um contexto de uma sociedade machista, homofóbica,
preconceituosa em sentido amplo, vejo que um processo por parte da deputada
poderia não ser deferido, haja vista que há até juízes que não reconhecem a
exploração sexual de crianças e adolescentes femininas por serem profissionais
do sexo”.
Para
a militante feminista Laura Reis, a matéria é machista porque apresenta as
candidatas como adornos. “Vivemos ainda
em uma sociedade que exige beleza das mulheres como uma obrigação e na qual as
mulheres são, sempre e primeiro, avaliadas pela sua aparência para só depois
serem julgadas pelo que têm a dizer”. Ainda analisando a escolha das fotos,
Reis salienta que o padrão de beleza ali representado também evidencia o
racismo no Brasil: “O fato de que o
número esmagador de mulheres que figuram em uma matéria sobre beleza sejam
brancas apenas evidencia a permanência de um padrão racista e eurocêntrico de
beleza, que exclui a real diversidade étnica brasileira”, completa.
Até
o fechamento dessa pauta, o site UOL Eleições 2014 não havia removido a foto da
candidata Isa Penna e nenhuma nota foi publicada a respeito.
A
análise é Jarid Arrais e foi publicado originalmente na Revista Forum