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A marca resgatada nas redes sociais da Palmares. (FOTO | Reprodução). |
O
símbolo do machado do orixá Xangô voltou a ser parte da identidade
visual da Fundação Cultural Palmares (FCP), do Ministério da
Cultura, e está na fachada da entidade desde quarta-feira (26). O
anúncio foi feito durante a posse do presidente da entidade, João
Jorge Rodrigues, nesta quinta-feira (27), em Brasília.
A
ferramenta com duas lâminas é o símbolo principal de Xangô, orixá
da Justiça, cultuado na umbanda e no candomblé, religiões de
matriz africana. A arma representa o equilíbrio e a dualidade dos
fatos.
Emocionado,
João Jorge enfatizou que o machado de Xangô é considerado símbolo
da Justiça por vários povos africanos: da África do Sul ao Egito,
do Egito a Camarões, da Gâmbia ao Senegal.
O
machado foi retirado da logomarca da Fundação Cultural Palmares, em
dezembro de 2021 pelo então presidente da entidade, Sérgio Camargo.
No lugar da ferramenta, foi colocada uma figura no formato da
bandeira do Brasil, em verde e amarelo. À época, o site da Palmares
justificou que era uma forma de representar todo o povo brasileiro,
“sem distinção de classe, credo ou cor”. Na ocasião,
movimentos negros consideraram o anúncio um forte ataque ao legado
da Fundação Palmares.
Na
solenidade de posse, o novo presidente da fundação, João Jorge,
lembrou que houve depredações e desrespeito ao órgão. “Quando
cheguei a Brasília, encontrei as fotos dos ex-presidentes da
Fundação Palmares jogadas em um depósito. O quadro com a foto do
ex-presidente Zulu Araújo estava quebrado, e tivemos que trazê-lo
para outra sala.”
João
Jorge ressaltou que os funcionários resistiram à opressão, ao
arbítrio, à perseguição moral e ao assédio na gestão passada.
“Recentemente, um funcionário me entregou os tapetes com a
marca de Xangô, que escondeu para não serem jogados fora”,
revelou o novo presidente da fundação.
“Nós
somos o canto deste país, o som dos tambores deste país, as águas
deste país e demos a nossa civilização para esta nação”,
disse o presidente da FCP, João Jorge Rodrigues.
A
ministra da Cultura, Margareth Menezes, que deu posse a João Jorge,
disse que a nova presidência da Fundação Palmares é uma resposta
ao que ocorreu na gestão passada. “É de um significado
profundo e tem a ver com a justiça do dono do machado [Xangô] para
que a amargura e a ignorância nunca mais se sentem no trono, nem
sobre o legado das políticas públicas desenvolvidas pela Fundação
Palmares.”
“O
movimento negro sonhou com uma sociedade menos desigual, onde o
conceito de raça não fosse critério para desumanizar e escravizar
homens e mulheres, e isso se projetou para o campo da cultura, na
criação da Fundação Palmares”, ressaltou a ministra.
No
fim da cerimônia, João Jorge Rodrigues adiantou que, como parte da
retomada de suas atividades, a Fundação Cultural Palmares terá
nova sede. “Haverá um novo lugar para pregar nossas insígnias,
nossas coisas. Será lindo demais. Este é o futuro que chegou sem
reclamação, olhando para a frente e com Xangô conosco”,
afirmou.
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Com
informações da Agência Brasil.