O
ano que ficou marcado pela covardia de Temer foi redimido pela coragem do
estudante Talles de Oliveira Faria.
Por
Kiko Nogueira, no DCM
O
Brasil ganhou com o golpe um presidente que sobrevive de recuos e que não vai a
Olimpíada e velório por medo de vaia.
Um
sujeito que acabou comparecendo ao estádio da Chapecoense apenas depois que o
pai de um zagueiro morto na tragédia pediu-lhe “vergonha na cara”.
![]() |
Estudante Gay. Imagem capturada do vídeo abaixo. |
Deu cano também no funeral de Dom Paulo Evaristo Arns por receio do “ambiente de esquerda”. Um anão moral que demonstra do que é feito ao articular as reformas com um Congresso dominado por tipos como ele.
“Hoje,
no Brasil, se você não tiver coragem, você não consegue governar”, chegou a
dizer. O Brasileiro do Ano, pelo menos
segundo a Istoé, é um poltrão.
A
sorte é que, ao mesmo tempo em que temos Michel se esgueirando do sofá de casa
para o Planalto, olhando para os lados enquanto tenta se salvar, há gente como
Talles.
Aos
24 anos, ele é autor de um gesto corajoso que contrasta com a iniquidade do
governo. Foi à cerimônia de colação de grau no ITA de salto alto e vestido
vermelho estampado com palavras de ordem.
Conta
que sofreu perseguição na honorável instituição por ser homossexual, com
punições diversas que o teriam levado a se desligar da Aeronáutica no meio do
curso.
Em
maio de 2015, ele se vestiu de drag queen no Dia Mundial do Combate à Homofobia
junto com outros colegas. Foi processado por ferir “o decoro da classe”.
Críticas
ao catolicismo no Facebook foram motivo de punição por agressão a símbolos
religiosos. Sua versão da bandeira brasileira também foi censurada.
Sofreu
sanção por causa de um ato de apoio a Dilma. De acordo com Faria, alunos que se
manifestaram a favor de Aécio Neves não sofreram nada.
Formou-se
em engenharia da computação, mas afirma que sua opção original era a carreira
militar. Desistiu por conta de “episódios de constrangimento”. Fala que foi
preso por quatro dias por usar cabelos descoloridos e depois por usar blush.
Tudo com as devidas notificações de oficiais.
Em
seu depoimento no Facebook sobre a repercussão da colação de grau, Talles
escreveu que “a Aeronáutica não é homofóbica, mas não tinha nenhum LGBT
assumido em toda a EPCAR [Escola Preparatória de Cadetes do Ar] quando entrei
em 2009. Mais de 900 alunos, nenhum LGBT. Todos os meninos falavam apenas de
garotas e se apaixonavam apenas por garotas”.
“Não
me aceitaram, violentaram-me, riram de mim, tentaram me tornar invisível. Que a
exposição os mudem porque eu vou continuar me amando e me fazendo muito
presente mundo afora”.
Em
junho, ainda na interinidade, Michel Temer anunciou que estava devolvendo aos
comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica atribuições que lhes foram
retiradas por Dilma relativas a direção e gestão.
A
Reforma da Previdência não inclui os militares.
Michel
e sua corriola de velhos teriam muito a aprender com Talles, não fossem eles
quem são. Coragem, dizia Hemingway, é graça sob pressão.