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Leonardo Boff aguarda autorização para poder visitar Lula na sede da PF em Curitiba. (Foto: Joka Madruga/ Agência PT) |
O
escritor e teólogo Leonardo Boff está em Curitiba junto com o ativista
argentino Adolfo Pérez Esquivel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz. Eles foram à
unidade da Polícia Federal onde está preso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva nesta quinta-feira (19), na tentativa de fazer uma visita de caráter
humanitário e religioso. Já há uma decisão negativa de uma juíza de Curitiba
para o caráter de inspeção às dependências.
A
juíza da 12ª Vara Federal de Curitiba, Carolina Lebbos, ainda não respondeu a
um requerimento anterior a esse, de autorização de visita em caráter pessoal em
função da amizade. A advogada Tânia Mandarino, que presta apoio jurídico a
Esquivel no Brasil, diz que chama a atenção o fato de que o pedido para a
visita pessoal do argentino à Lula ter sido protocolado antes e ainda não ter
sido apreciado.
"É
preocupante essa conduta, porque Esquivel é apenas a primeira de muitas visitas
internacionais que irão ocorrer ao ex-presidente Lula, como estadista. Sem
contar o caráter de perversidade". diz a advogada, referindo-se à idade
avançada de ambos. Esquivel tem 87 anos e Boff, 79. "Pela sua relação de
aconselhamento espiritual com Lula, o Leonardo Boff deveria ter, inclusive, sua
entrada franqueada. É lamentável."
A
advogada viu componentes de sadismo na conduta da juíza Carolina Lebbos.
"Absurdo dos absurdos, quando a juíza apreciou primeiro o pedido que foi
posto depois, opusemos embargos de declaração pedindo que antecipasse o pedido
de visita. Ela só respondeu sadicamente os embargos e não comentou sobre o
pedido de visitas. Disse que não há urgência e, resumindo, 'problema do
Esquivel se ele está só de passagem'."
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Adolfo Pérez Esquivel viaja amanhã de volta para a Argentina. (Foto: Joka Madruga/ Agência PT). |
Ao
conversar diretamente com a Superintendência da PF, o ativista argentino teve o
acesso mais vez negado. "Vamos ter de esperar se até amanhã (quando volta
à Argentina) para ver se sai a autorização. Espero poder encontra o Lula,
abraçá-lo e levar-lhe toda a solidariedade internacional que temos recebido, de
Portugal, Alemanha, França, Noruega, vários países. Essa prisão tem causado uma
apreensão de dimensão mundial", disse Esquivel.
“Eu
que sou velho amigo de Lula vim em uma missão espiritual. Como uma lei divina
pode ser negada por uma juíza terrena?”, provocou Boff. O teólogo afirmou que o
Brasil atual é uma nau sem rumo, e que Lula é o único que "brilha"
aos olhos do povo com poder de reverter as "iniquidades" cometidas
pelo governo Temer.
"Brasil está como uma nau perdida, um avião
sem piloto, voando não sabemos em que direção ou em que montanha vai bater. Não
há líder nenhum que aglutine pessoas, não há luz no fim do túnel. Estamos
realmente em uma situação que nunca ocorreu em nosso país. A única pessoa que
brilha nas estatísticas e no agrado popular é Lula. O portador do poder é o
povo, e o povo quer Lula como presidente para desmontar as iniquidades que o
governo Temer fez contra os trabalhadores, aposentados, contra a Saúde, a
Educação", disse.
O
teólogo disse ainda que o golpe para retirar lideranças populares da política
não vem sendo aplicado apenas no Brasil, e foi gestado externamente. Essas
forças estrangeiras teriam se aliado aqui com o que Boff chama de "elite do atraso, os herdeiros da Casa Grande".
"Esses grupos milionários se aliaram com
interesses estrangeiros e deram um golpe. Não mais com baionetas e tanques, mas
um golpe de venalidade, comprando literalmente senadores e deputados,
pervertendo a Justiça, partes do MP e da PF. Se criou uma coligação de forças
que primeiro depôs Dilma, mas ela não era o objeto principal. O principal é
Lula, e em segundo lugar é desmontar as políticas sociais que ele fez em função
do povo e, se possível, liquidar a base popular do PT e fazer com que
desapareça o partido", detalhou o teólogo.
A
presidenta do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes, participou da abertura
das atividades da vigília na manhã de hoje aponta para todos os elementos que
evidenciam atropelos à Constituição brasileira, configurando um Estado de
exceção. "O Supremo Tribunal
Federal, corte máxima da Justiça e responsável pelo zelo à ordem constitucional
acabou contribuindo para esse Estado de exceção ao permitir a prisão política
de um ex-presidente, já que o processo contra ele não tem provas nem
consistência", disse Socorro.
Ela
afirma que a comunidade internacional está perplexa por essa prisão sem
processo transitado e julgado, portanto com cerceamento de defesa e violação do
princípio da presunção da inocência. "Trata-se
de uma perseguição política, movida a ódio, a preconceito de classe e com
objetivo de impedir que Lula esteja livre e possa ser candidato. Todo o mundo
está percebendo isso. Temos uma elite empenhada em garantir seus privilégios."
Socorro estava acompanhada do senador Ignácio Bernal e da deputada Natália
Sanchez, ambos do Congresso espanhol.
Na
saída do prédio da Polícia Federal, representantes do Movimento Nacional dos
Catadores de Material Reciclável e do Movimento dos Atingidos por Barragens
entregaram duas cartas ao argentino em apoio à indicação de Lula ao Nobel da
Paz. (Com informações da RBA).