O
ensino de História, área que foi alvo de críticas durante a elaboração da Base
Nacional Comum Curricular (BNCC), deverá ocorrer na ordem cronológica. Nas
discussões, venceu o chamado método tradicionalista.
Estadão
- Hoje, como o Brasil não tem um currículo nacional, as escolas seguem
diretrizes municipais e estaduais e material didático de livre escolha. Alguns
colégios também consideram conteúdos cobrados em avaliações como o Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem).
Para
a consultora em educação Ilona Becskehazy, a linha cronológica faz sentido. “O mundo antigo, com mitologias, castelos e
príncipes, atrai as crianças pequenas. Conforme elas crescem, vão ganhando
maturidade para entender melhor a realidade atual. Quanto mais moderna e
contemporânea é a história, mais ferramentas são necessárias para entendê-la.”
A
proposta, porém, também recebeu críticas. “No
fundo, o novo documento reproduz muito do que, nos últimos anos, os currículos,
as propostas pedagógicas e os livros didáticos mais tradicionais sugerem para
os alunos. É uma perspectiva cronológica, mais preocupada com exemplos
convencionais do que com uma formação e conhecimentos mais amplos”, afirmou
Roberto Catelli, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).
De
acordo com ele, faltou ousadia para pensar em outra forma de trabalhar a
disciplina, valorizando conceitos importantes para a formação do cidadão. “Sinto falta de uma abordagem que permita
formular e refletir sobre períodos históricos. Não adianta apenas conhecer um
conjunto de informações.”
Quando
a primeira versão da base foi lançada, em setembro de 2015, a área de História
recebeu críticas. As Revoluções Industrial e Francesa e a história das
civilizações grega e egípcia não constavam no texto, e o modelo dava maior
ênfase na história da África e das Américas.
Agora,
parte das questões foi resolvida e, por outro lado, a história africada aparece
de maneira mais tímida. Desde 2003, o ensino de história e cultura africana e
indígena é obrigatório nas escolas brasileiras. Catelli destaca que há
referência às sociedades africanas, mas na forma tradicional em que costumam
aparecer. “A relação com a cultura
brasileira surge de forma muito eventual”, apontou.
A
cultura africana está novamente no documento na parte de Educação Física, com
brincadeiras, jogos e danças a serem aprendidos pelos alunos do 1.º ao 9.º ano
do fundamental.
A
expectativa é de que o currículo de História incorpore o maior porcentual de
parte diversificada. Isso porque a base deixa livre para que Estados e
municípios complementem 40% do conteúdo a ser ensinado na educação básica. O
Rio Grande do Sul, por exemplo, pode priorizar a Revolução Farroupilha,
enquanto São Paulo pode dar mais ênfase à Revolução Constitucionalista.
Mudanças.
Outra alteração é a exclusão do ensino religioso nesta terceira versão da base.
O Ministério da Educação alegou respeitar a legislação que determina que o tema
seja optativo nas escolas e destacou que é competência das secretarias
estaduais e municipais definir a regulamentação.
A
versão anterior estabelecia diretrizes para o ensino religioso em todo o
fundamental e defendia que a escola poderia “contribuir para a promoção da liberdade religiosa e dos direitos
humanos, com práticas pedagógicas”.
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Terceira versão da base foi apresentada pelo MEC nesta quinta. Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil |