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Professor Nicolau Neto ao lado de Valéria e Verônica, duas das fundadoras do GRUNEC. (FOTO | Acervo Pessoal). |
Por Nicolau Neto, editor
Neste
sexta-feira, 21 de abril, o coletivo vanguarda na luta antirracista na região
caririense celebra 22 anos. O Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC)
foi, sem dúvida, um dos pioneiros enquanto força coletiva na luta contra o
racismo nesta região e em nota divulgada na rede social Instagram, conta que
embora a data é formal, mas que a gestação é de meses antes.
“Nessa longa trajetória de mais de duas
décadas temos o orgulho de dizer que resistimos, multiplicamos, transformamos,
lutamos, crescemos”, destaca trecho da nota que traz para o público mais
jovem as mais diversas ações encampadas pelo grupo, como a edição do 1° jornal
de imprensa negra do Cariri, intitulado "Afrocariri" e a “incidência
em questões ligadas à educação, saúde, mulheres negras, convivência com o
semiárido, juventudes negras, acolhimento e integração de imigrantes, cotas,
segurança pública, cultura, entre muitas outras…”.
Foi
frisado ainda as honrarias recebidas, como por exemplo, o “Prêmio Frei Tito de Alencar de Direitos Humanos da Assembleia
Legislativa do Estado do Ceará e Comissão de Direitos Humanos e Cidadania”,
o “ Prêmio Fórum Justiça de Direitos
Humanos Maria Amélia Leite”, além da “Comenda
de mérito defensorial da Defensoria Pública do Ceará, entre outros”.
Foram muitas realizações! E serão quantas mais forem necessárias e nossos braços conseguirem construir para continuar a transformar a realidade em que vivemos. Queremos Bem Viver! Vida longa ao GRUNEC. (Nota do GRUNEC).
Quando
da passagem das duas décadas, o blog trouxe a cena um pequeno histórico da luta
negra por direitos e pelo bem viver ancorado pelo GRUNEC.
Abaixo você confere:
O
ano era 2001. Um grupo constituído por cerca de cinco pessoas se reuniram
depois de uma aula de natação na garagem da casa de uma delas e passaram a
dialogar sobre as mazelas que afligiam a sociedade brasileira e, de forma mais especifica, aqueles grupos que
sempre estiveram e ainda estão a margem – negros e negras.
Destes
diálogos sobre desigualdades surgiu a ideia de transformar discursos
individuais em ação coletiva e em luta organizada visando, sobretudo, promover
a igualdade étnica/racial e a autoestima da população negra do cariri e
difundir a consciência quanto a afrodescendência. O que caminha no sentido de
valorizar a nossa história. Com esse ideal nascia o Grupo de Valorização Negra
do Cariri (GRUNEC) que oficialmente (com registro) está com 19 anos, mas de atuação
já possui duas décadas.
O
GRUNEC se constituiu ao longo desses 20 anos como um coletivo que escolheu o
caminho da luta, da resistência e da persistência ao trabalhar de forma
comunitária e saindo da zona de conforto para visitar as comunidades de base,
as comunidades tradicionais, como o povo indígena e os grupos remanescentes de
quilombolas.
Enquanto
entidade organizativa, de combate a toda forma de discriminação, preconceito e
de racismo, tem atuado na proporção em que essas injustiças ocorrem. Como
exemplo, seja tendo sua organização, colaboração ou idealização, pode-se citar
a Caminhada contra a Intolerância Religiosa realizada anualmente em Juazeiro do
Norte, a Marcha Regional de Mulheres Negras do Cariri que visa denunciar formas
de discriminação, opressão e aniquilamento, além do Congresso Artefatos da
Cultura Negra que em 2019 chegou a sua décima edição e que tem se consagrado
como o maior evento de pesquisa sobre a população negra do país.
Nesta
ambiência de atuação, não se pode esquecer também de um dos trabalhos mais
colaborativos em que pese a educação voltada para as relações étnico-raciais: o
Mapeamento das Comunidades Rurais Negras e Quilombolas do Cariri feito junto a
Cáritas Diocesana de Crato – CE, tendo como resultado o lançamento da “Cartilha Caminhos, Mapeamento
das Comunidades Negras e Quilombolas do Cariri Cearense”. Este trabalho
contou com a participação de cerca de 25 comunidades. Seis delas se
autoreconheceram remanescentes de quilombolas. Note-se ainda que comunidades
como as de Arruda (Araripe), Sousa (Porteiras) e Serra dos Chagas (Salitre) já
contam com certificado de remanescentes de quilombolas adquirido junto da
Fundação Cultural Palmares.
Outras
atuações colocam este coletivo negro como protagonista. Cita-se aqui a 1ª
Audiência Pública Federal no ano de 2007, onde discutiram a implementação da
Lei nº 10.639/03 ao reunirem representantes de 42 municípios da Região do
Cariri, o 1º Seminário no Crato em 2005, para discutir a Igualdade Racial e a
realização anualmente da Semana da Consciência Negra.
O
Grunec reúne sem seus quadros professores e professoras universitários/as, docentes
da educação básica, estudantes, pesquisadores/as, líderes religiosos/as e
ativistas sociais, dentre outros e continua firme e forte, principalmente agora
em tempos de cortes de direitos, legitimação desenfreada do racismo, do
machismo e de ofensas sem barreiras a comunidades LGBTs. Por isso, os lemas
mais apregoados do grupo são “Aquilombar
é Preciso” e “Pelo Bem Viver”.
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