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A escultura de Marielle tem o tamanho real da vereadora — Foto: Arquivo pessoal/Edgar Duvivier. |
Desde
a criação do Instituto Marielle Franco, um dos primeiros sonhos da família da
vereadora vai ser finalmente realizado: uma estátua dela, no Centro do Rio. Em
tamanho real, a obra de 1,75 metro em bronze vai ser inaugurada no dia em que a
parlamentar, assassinada em 2018, completaria 43 anos: 27 de julho.
Para
Anielle Franco, fundadora do instituto e irmã de Marielle, conquistar esse
momento significa falar sobre memória, justiça e reparação.
“Após esses dois anos em que vimos estátuas
de colonizadores, escravocratas e torturadores sendo derrubadas, é muito
simbólico ter uma estátua da Mari erguida, em especial no ‘Julho das Pretas’ e
no dia do seu aniversário”, descreve. “Isso
é muito importante para gerarmos referências sobre quem realmente construiu e
move esse país, em especial para as novas gerações e para uma população negra e
periférica que precisa ter reconhecimento e ser reverenciada”.
Família de Marielle ao lado da estátua, ainda em construção — Foto: Arquivo pessoal/Edgar Duvivier. |
Criada
pelo artista plástico Edgar Duvivier, a obra vai ser instalada na Praça Mário
Lago, conhecida como o Buraco do Lume, no Centro. Esse era o local onde, todas
as sextas-feiras, Marielle ia prestar contas para a população sobre o trabalho
enquanto vereadora e presidenta da Comissão da Mulher da Câmara Municipal do
Rio.
Para
arrecadar fundos para desenvolver a obra, o instituto fez uma vaquinha virtual,
e o artista plástico produziu e vendeu pequenas esculturas da vereadora. Foram
cerca de 650 doações que arrecadaram quase R$ 40 mil.
O artista plástico com as pequenas esculturas — Foto: Arquivo pessoal/Edgar Duvivier. |
Ao
artista, os familiares contaram sobre a emoção de ver a estátua. Mônica
Benício, vereadora do PSOL e viúva de Marielle, enfatizou a semelhança física
em que, ao mesmo tempo que a escultura traz a imponência que tinha a parlamentar,
tem a alegria marcante dela, sempre com um “sorrisão
largo”.
Tanto
a mãe de Marielle, Marinete da Silva, quanto o pai, Antônio Francisco da Silva
Neto, falaram sobre perpetuar a imagem da filha.
“A gente se emociona porque o trabalho está
perfeito. Eu tenho plena certeza de que as pessoas, quando a virem, também vão
ficar muito emocionadas”, destaca o pai.
Só
que, para a família, a figura de Marielle também simboliza a luta dos que
querem transmitir o legado dela. Anielle descreveu a valorização das vidas
negras.
“Eu sempre bato nessa tecla de que eu sonho
com o dia que a gente vai poder falar da história de mulheres negras enquanto
elas estiverem vivas, e eu espero que a Mari não só represente isso, mas também
deixe esse sentimento nas pessoas que, quando passarem pela estátua, sintam a
força dela”, afirma a irmã ao artista plástico.
Mônica Benício e a estátua de Marielle, ainda em argila — Foto: Arquivo pessoal/Edgar Duvivier. |
“A
gente hoje luta pela preservação da memória, luta para que nada mais parecido
aconteça, mas que muitas Marielles floresçam”, define Mônica.
A escultura de Marielle tem o tamanho real da vereadora — Foto: Arquivo pessoal/Edgar Duvivier. |
'Uma forma de eternizar as ideias da
pessoa'
Para
Edgar Duvivier, fazer uma escultura vai além de replicar a forma de uma pessoa.
O artista plástico conta que vale do apreço que tem por essas pessoas. Ele já
esculpiu figuras de personalidades como os escritores Clarice Lispector e
Nelson Rodrigues e o ex-presidente uruguaio José Mujica, que vai ainda ser inaugurada
no Rio Grande do Sul.
“A escultura é uma forma de você eternizar as
ideias da pessoa, porque, como disse o Mujica: ‘As pessoas vão embora, as
ideias ficam’. Mas, para as ideias daquelas pessoas ficarem e serem lembradas,
se tiver alguma coisa que lembra a pessoa que teve a ideia, é mais fácil”,
define.
Edgar Duvivier ao lado da estátua concluída — Foto: Arquivo pessoal |
E
com a estátua de Marielle não foi diferente. Ao dizer que a vereadora
representava todas as pessoas que votaram nela, o artista plástico definiu a
obra como "necessária".
Todo
o processo levou em torno de três meses. Apesar de estar pronta há um tempo,
Edgar enfatizou que precisaram esperar pela autorização da prefeitura, para
decidir o local, aprovar a placa e marcar a data de inauguração.
Passo a passo
Edgar
contou com os familiares da parlamentar para ajudar a decidir qual pose seria
escolhida. Com o punho para cima, ele usou várias fotos de Marielle para compor
o projeto da estátua.
O
artista então fez uma maquete e mostrou para a família. Depois de aprovada,
chegou a hora de ampliá-la para o tamanho real da vereadora e fazê-la de
argila, em torno de uma armação de metal. Essa etapa também é vista e aprovada
pelos familiares.
Após
o modelo em argila, é feita a forma em gesso, dividida em partes (cabeça,
tronco, braços e pernas), e é levada à fundição.
Estátua em argila — Foto: Arquivo pessoal/Edgar Duvivier. |
A
partir dessa forma, é feito o contorno da estátua com cera. Oca por dentro, a
estrutura é preenchida e coberta com uma espécie de cimento, chamada de material
refratário, para ir ao forno.
O
calor derrete toda a cera. É nesse espaço em que entra o bronze – incandescente
derretido.
Estátua em cera — Foto: Arquivo/Edgar Duvivier |
Depois
de dez dias, a estrutura de cimento é quebrada, revelando a estátua de bronze.
Após tudo isso, ainda falta soldar as partes do corpo para uni-las, fazer o
polimento e deixar a cor da forma desejada.
Evento de inauguração
A
inauguração da estátua de Marielle será no próprio local onde ela será
instalada. Além de ser a data em que a vereadora faria aniversário, o evento
vai ser dois dias depois do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana
e Caribenha.
Estarão
presentes estudantes de cursinhos pré-vestibulares comunitários.
Programação
17h:
"A memória é a semente para novos futuros: legado, justiça e
reparação"
Aula
pública com intelectuais negras
19h:
Batalha de poetisas sobre a defesa da memória de Marielle
Serviço:
Data:
27 de julho (quarta-feira)
Horário:
17h
Endereço:
Praça Mário Lago, Terminal Menezes Cortes, Centro, Rio de Janeiro
_______________
Por Laura Rocha*, originalmente no g1Rio. *Estagiária sob supervisão de João Ricardo Gonçalves.
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