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(Foto: Reprodução/RBA). |
História,
avanços e retrocessos no Brasil e no mundo foram temas do debate sobre a
desconstrução dos direitos humanos, realizado na Universidade Federal do Paraná
(UFPR), na noite de sexta-feira (18), que contou com a presença dos
ex-ministros Paulo Vannuchi e Nilma Lino Gomes.
Nilma,
que foi ministra da Igualdade Racial e Direitos Humanos de Dilma Rousseff,
avalia que os ataques aos direitos humanos ocorrem não apenas no Brasil, sendo
uma onda internacional. "Principalmente
em países latino-americanos e africanos", exemplificou.
Segundo
ela, nestas nações há uma tentativa de manutenção de determinado status quo.
"Existem forças colonizadoras
dominantes que nunca aceitaram sair deste lugar, sempre tentaram manter um laço
colonial, mas hoje um laço colonial do século 21", afirmou.
Estes
ataques, embora tenham crescido no Brasil após o golpe de 2016, já existiam, ou
ao menos ocorreram tentativas, conforme lembra a ex-ministra. "Também vivemos tensões durante todo o tempo
em que estive no ministério. Existia muita pressão de setores conservadores e
fundamentalistas para não aprofundarmos pautas como questões quilombolas,
raciais, LGBTI, entre tantas outras", recordou.
Os
avanços obtidos ao longo dos últimos anos, segundo ela, são frutos de ações de
um governo "democrático e popular".
"Estes temas são considerados
questões sociais que demandavam resposta do estado, tornavam-se temas
propositivos. Hoje estas pautas são vistas como entraves", disse a
ex-ministra.
Embora
ações de desconstrução dos direitos humanos sejam políticas de governo, de um
projeto de Estado, elas igualmente encontram apoio em setores da sociedade,
como explica Nilma. "Quando esta
leitura conservadora é implantada, estas análises que demonizam os direitos
humanos encontram eco em uma parcela da sociedade, em setores da classe média,
na elite e inclusive em alguns setores populares", lamentou.
O
retorno do Brasil ao Mapa da Fome, a aprovação da "Reforma"
Trabalhista, que fragiliza ainda mais as relações de trabalho e atinge
diretamente mulheres e jovens, a PEC do Teto de Gastos Públicos e a própria
intervenção militar no Rio de Janeiro, são golpes nos direitos humanos, avalia
a ex-ministra.
No
caso da presença do Exército nas ruas da capital fluminense, especialmente,
Nilma avalia os reflexos sociais. "Não
é apenas o direito de ir e vir, mas o reforço da ideia de que os sujeitos
considerados suspeitos são os que estão nas vilas e favelas onde o Exército
está. Quando se faz isso, reforça-se a ideia de que esses sujeitos são
considerados 'suspeitos número um' e eles devem ser exterminados",
exemplificou.
Assassinatos
de lideranças como a (vereadora) Marielle (Franco, do Psol-RJ, assassinada em
14 de março), segundo a ex-ministra, são reflexos destas políticas e também são
um recado. "É uma mensagem para quem
luta pelos direitos humanos. Esta mensagem está sendo transmitida das formas
mais diversas para nós neste momento. É uma mensagem de morte",
completou.
Modelo em xeque
O
ex-ministro dos Direitos Humanos de Lula, Paulo Vannuchi, por sua vez, recordou
as lutas que envolvem o tema ao longo da história. Desde Zumbi dos Palmares,
passando pela resistência contra a ditadura e o movimento pelas Diretas Já,
lembrando também a morte da vereadora carioca.
Vannuchi
também citou o movimento estudantil durante a ditadura civil-militar, do qual
identificou José Dirceu como uma das principais lideranças. O ex-ministro
recordou, no momento do debate, que Dirceu poderia estar a caminho de Curitiba,
um dos possíveis locais de sua detenção. "Foi condenado a 30 anos de prisão, pena que nenhum serial killer teve
no Brasil, nenhum torturador do DOI-CODI que violentou mulheres. Aliás, o
discurso para o prender foi de 'para não favorecer a impunidade'. Mas vem,
coincidentemente, de quem sempre se opôs à punição destes torturadores."
O
ex-ministro também analisou os avanços dos direitos humanos ao longo dos
últimos governos desde a redemocratização e aproveitou para comentar a
afirmação de que "não há liberdade
sem igualdade e não há igualdade sem liberdade".
Segundo
Vannuchi, é impossível uma sociedade com liberdade, igualdade e fraternidade em
um modelo capitalista. "Caso teu
tenha uma empregada e entregue para ela metade do meu salário, ainda assim não
seremos iguais. Eu serei patrão. Uma sociedade assim só poderá ser construída
desde que deixe de existir a exploração da força de trabalho de um ser humano
por outro", concluiu. (Com
informações do Porem.net e RBA).
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