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Ciro sobre Lula: "Deus sabe o quanto eu gostaria de não ter de testemunhar esse momento". (Foto: Reprodução/ Wikimedia). |
Com
Lula preso em Curitiba, grupos “protofascistas”
passaram a canalizar seu ódio em direção ao presidenciável Ciro Gomes, do PDT.
Um dessas organizações ofereceu mil reais a quem dirigisse impropérios ao
ex-ministro em um restaurante em São Paulo.
Um
youtuber reacionário, responsável por um programa de gosto duvidoso chamado “Mamãe, falei!”, famoso por supostamente
confrontar seus entrevistados, espalhou a falsa notícia de que teria sido
agredido pelo pedetista, boato rapidamente desmentido pelas cenas do
encontro.
“Considero isso tudo um sinal dos tempos”,
minimiza o presidenciável.
Sobre
as críticas a sua ausência nos atos contrários à prisão de Lula, Ciro Gomes
pede “refúgio na história”. Nos 16 anos
em que Lula exerceu o poder, diretamente ou por meio de aliados, afirma, “eu o
apoiei”. A detenção do ex-presidente, diz, lhe causa “angústia e aflição”.
Segundo
o ex-ministro, engana-se quem espera dele um alinhamento automático e acrítico
por afinidade ideológica ou simpatia. “Tenho obrigação com o País. Isso guia
minhas iniciativas e meu comportamento”.
CartaCapital: Após a prisão do Lula,
o senhor parece ter se tornado o novo alvo de movimentos como o MBL e
quejandos...
Ciro Gomes:
Isso não começou após a prisão do Lula. Está anunciado faz tempo que a tática
desses grupos protofascistas é me provocar e tentar insuflar o pessoal contra
mim. Vou ser obrigado a tornar mais cuidado daqui para frente. Eu viajava
displicentemente, sem segurança, e gostaria de continuar assim, mas percebo
que, de agora em diante, até por conta da minha crescente responsabilidade para
com o País, terei de me proteger. Continuarei a viajar de avião de carreira,
mas tomarei maiores cuidados. Considero isso tudo um sinal dos tempos.
CC: O senhor também foi cobrado,
desta vez pelo chamado campo progressista, por supostamente não sair em defesa
do ex-presidente de Lula de forma mais contundente. Como responde a essas
críticas?
CG: Tem de ter muita paciência para entender o
que o PT e o ex-presidente Lula passam neste momento. Isso tudo me causa muita
angústia e aflição. Deus sabe o quanto eu gostaria de não ter de testemunhar
esse momento, mas sou candidato à presidência da República, caso, no tempo
certo, o PDT aceitar essa candidatura, e tenho obrigação com o País. Isso guia
minhas iniciativas e meu comportamento. Sobre a minha relação com o Lula, peço
refúgio na história. Por 16 anos, Lula, diretamente ou por meio de aliados,
exerceu o poder. E neste período, sem faltar nenhum dia, eu o apoiei.
CC: O senhor teme que as eleições não
aconteçam?
CG: Não. Acho que
elas vão acontecer. Não há força organizada no Brasil para estabelecer uma
ruptura da Constituição a ponto de suspender o calendário eleitoral. Por mais
que haja impertinências e manifestações de comandantes militares, não vejo
senão um profundo profissionalismo nas Forças Armadas. Elas sabem que não é seu
papel romper com a Constituição.
CC: O que o senhor espera do Supremo
Tribunal Federal em relação às prisões em segunda instância?
CG: O Brasil trava
um debate mal sistematizado, mal esclarecido, a respeito da escola do direito
em vigor na nossa tradição. No nosso caso, que herdamos a tradição lusitana,
vale o que está escrito. E o que está escrito é de uma clareza meridiana: é
presumida a inocência de qualquer paciente cujo transito em julgado de sentença
condenatória não tenha se consumado. E ainda está escrito que sentença
transitado em julgado é aquela contra a qual não se pode mais levantar nenhum
recurso. Portanto, se for a escola tradicional, é flagrante que a prisão em
segunda instância é um violação.
No
direito moderno, consuetudinário, principalmente amparado pelo pensamento
anglo-saxão e que parece influenciar uma ala dos ministros do STF, diz que em
nenhum país moderno existem quatro graus de jurisdição a um julgamento por
crime comum. Todos exaurem a condenação em segunda instância. Só chegam à
terceira temas de indagação constitucional ou principiológica, o que não é o
caso em questão.
CC: Qual discurso será capaz de
alcançar os eleitores em um país tão conflagrado como o nosso?
CG: Escolhi o caminho
do equilíbrio e desconsidero toda e qualquer conveniência oportunista, mesmo
aquelas que tão somente me beneficiem. Em momentos de insegurança jurídica e
política, é preciso apostar na inteligência do povo. A franqueza e a
sinceridade são fundamentais. Dizer sem medo se A é A ou B é B, mesmo se isso
desagradar os amigos ou favorecer os inimigos. (Com informações de CartaCapital).
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