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PSL defende 'social-liberalismo' contra 'autoritarismo' e rejeita violência contra liberdade individuais. (Foto: Alex Ferreira/ Ag. Câmara). |
“A violência se combate com energia ou mais
violência”. A frase foi uma das muitas afirmações feitas pelo deputado federal
Jair Bolsonaro no ato de filiação ao nanico Partido Social Liberal (PSL) na
semana passada. Mas se o pré-candidato do PSL à Presidência da República é
conhecido por falas polêmicas - e, por vezes, pelas tentativas de negá-las -, a
declaração revela falta de conexão entre o parlamentar e os princípios teóricos
de seu novo partido.
O
PSL se afirma como agremiação defensora da liberdade individual contra o
“autoritarismo, a imposição e a violência”. Já Bolsonaro, capitão da reserva do
Exército, exalta em diversos momentos a ditadura civil-militar (1964-1985) e
figuras consideradas por ele como “heróis”.
O
termo foi usado pelo presidenciável diversas vezes para exaltar o ex-coronel
Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo
(TJ-SP) por crime de tortura quando chefiou o Destacamento de Operações de Informações
do Centro de Operação de Defesa Interna (Doi-Codi) do 2º Exército, em São
Paulo.
Na
área econômica, o PSL se define em site como “social-liberalista”. É defensor
da redução do papel do Estado na economia, a “cooperação social através do
mercado” e de “trocas voluntárias entre os agentes privados”. Já no estatuto
oficial, a legenda defende o Estado como "regulador" da economia.
Guinadas
ideológicas
O
presidente do PSL, o deputado federal Luciano Bivar (PE), concorreu ao Palácio
do Planalto em 2006, recebendo 0,06% dos votos válidos (62.064). Na época,
defendeu valores similares aos de Bolsonaro, mas opostos ao estatuto que o PSL
viria a registrar na Justiça Eleitoral em 2011.
O
partido registrou quatro diferentes estatutos no TSE desde sua criação, em
1998. Nos três primeiros não havia menção aos direitos humanos. Isso permitiu a
Bivar concorrer ao Planalto com uma agenda conservadora: pena de morte,
instalação de “miniquartéis” em favelas para conter a violência e a criação do
imposto único.
A
partir de 2011, com a mudança do estatuto, o PSL se aproximou do campo da
esquerda. Em 2014, a legenda apoiou Eduardo Campos (PSB) para a Presidência e,
após a morte do socialista em acidente aéreo, se aliou a Aécio Neves (PSDB).
A
dança de cadeiras ideológica revela o estilo de gestão do partido por Bivar, um
empresário e ex-cartola do futebol cujas manobras no comando do nanico PSL são
tomadas apenas por ele há 20 anos. É ele quem decide o destino de recursos do
Fundo Partidário, que somou cerca de R$ 5,6 milhões em 2017.
O
controle partidário, contudo, deve mudar. A chegada de Bolsonaro se baseou numa
conversa para que o poder seja dividido dentro do PSL. Não à toa, em seu
discurso de filiação, Bolsonaro disse que Bivar “ainda é presidente” da
legenda.
Nem
direita nem esquerda
Embora
o PSL tenha se aproximado de setores da esquerda e Bolsonaro desponte como
catalisador de votos de eleitores conservadores, o partido diz rejeitar a
polarização que coloca seu presidenciável em segundo lugar nas pesquisas.
“Pode
parecer clichê, mas não acreditamos no eixo ‘direita vs [versus] esquerda’ como
o mais elucidativo para definir uma posição política. Preferimos o eixo
‘liberdade vs [versus] autoritarismo’. E nesse eixo, sem dúvidas, estamos do
lado da liberdade.”
O
afirmação consta na sessão de perguntas e respostas publicada pelo partido em
sua página oficial. O questionário é um suplemento de informações ao minguado
estatuto de 27 páginas registrado pelo PSL em cartório no final de 2011.
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Bivar criou o PSL em 1998 e preside o partido desde então. (Foto: Reprodução/ Facebook). |
Em
apenas sete linhas do documento, que representou uma guinada em relação ao
posicionamento de Bivar em 2006, o partido define seus fundamentos arrogando-se
como “forte defensor dos direitos humanos”. Já o agora pré-candidato do PSL
defendeu a saída do Brasil de tratados internacionais de direitos humanos. Logo
depois, Bolsonaro disse que os direitos humanos são “esterco da vagabundagem”.
O
restante do estatuto versa sobre temas da burocracia partidária. Entre eles, a
regulamentação do repasse para o partido de 5% do salário bruto recebido por
filiados eleitos para cargos públicos ou por filiados à legenda que ocupem
cargos comissionados.
Cartolagem
A
chegada de Bolsonaro ao PSL recoloca Bivar no cenário político com chances de
melhorar seu próprio desempenho eleitoral. Dono de um patrimônio declarado à
Justiça Eleitoral de R$ 14,7 milhões em 2014, ele disputou uma vaga na Câmara
dos Deputados. Não foi eleito. Mas é deputado federal como suplemente por
Pernambuco.
Ex-presidente
do Sport Recife, Bivar compõe a Bancada da Bola – como é conhecido o núcleo
parlamentar ligados a times de futebol. Em 2001, ele foi um dos responsáveis
por enterrar a Comissão Mista de Investigação (CPI) criada para investigar
irregularidades envolvendo a parceria entre a Confederação Brasileira de
Futebol (CBF) e a multinacional de material esportivo Nike.
A
CPI CBF/Nike apontou o novelo da rede internacional de propina a dirigentes
esportivos que viria a ser revelada pelo Fifagate. A operação comandada pela
Justiça dos Estados Unidos, desde 2015, levou à prisão do ex-presidente da CBF
José Maria Marin.
A
CPI terminou sem resultado e contou com uma encenação comandada por Bivar e o
ex-presidente do Vasco Eurico Miranda, então deputado federal. Eles tentaram
aprovar um relatório paralelo ao preparado pelo relator, mas não conseguiram.
A
CPI comanda pelo ex-deputado Aldo Rebelo (PSB) terminou sem ser concluída. O
relatório original da comissão teve sua publicação proibida Supremo Tribunal
Federal (STF) e só veio a público em 2015. (Com
informações de CartaCapital).
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