Independente,
revolucionária e feminista negra. Antropóloga, filósofa e intelectual, Lélia
d’Almeida Gonzalez, se estivesse viva, completaria 83 anos nesta quinta-feira
(1º).
Nascida
em Belo Horizonte (MG), Gonzalez colocou sua intelectualidade a serviço da luta
das mulheres no Brasil. De origem pobre, ainda jovem, trabalhou como babá. Se
graduou em História e Filosofia, passando a lecionar na rede pública de ensino
e, posteriormente, já na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-RJ), lecionou Antropologia e Cultura Popular Brasileira, chegando a ser
diretora do departamento de Sociologia e Política.
"Ela foi uma das grandes
revolucionárias desse país. Sua crítica evidenciou que as mulheres negras
tinham uma posição estratégica, tanto no movimento negro, quanto no feminista"
diz a arquiteta e urbanista Joice Berth, integrante do Coletivo Imprensa
Feminista.
Por
meio da psicanálise, do Candomblé e do contato com a cultura brasileira, Lélia
assumiu sua condição de mulher negra. Em sua militância, trouxe reflexões sobre
a realidade das mulheres, principalmente negras e indígenas.
"Ela despertou para a questão
do espaço físico e urbano, em Lugar de Negro, ela critica o problema racial que
está impregnado na superfície da cidade e na formação da periferia"
ressalta Berth.
A
autora foi além de seu tempo e conseguiu apontar o racismo e o sexismo
existentes na sociedade brasileira, como comenta a jornalista, integrante da
Marcha das Mulheres Negras Juliana Gonçalves: “É uma figura de importância ímpar para toda a sociedade, inclusive para
as mulheres brancas. Foi uma das primeiras mulheres negras que conseguiu ter
voz e vez em seminários e encontros internacionais de mulheres aqui na América
Latina”.
Lélia
participou do Instituto de Pesquisa das culturas negras (IPCN-RJ), do Movimento
Negro Unificado (MNU) e do Nzinga Coletivo de Mulheres Negras. Sua produção
intelectual também é vasta. É autora de obras como Festas populares no Brasil,
premiado na feira de Frankfurt, e da já mencionada Lugar de negro, feita em
parceria com Carlos Hasenbalg. “O nível
de elaboração da Lélia era muito refinado, ao mesmo tempo em que era fácil
compreender o que ela estava falando”, observa Gonçalves.
Com
base em seus estudos, deu origem ao conceito de Amefricanidade, enfocando a
questão do negro da diáspora. “Ela bebeu
muito dos EUA, mas nunca perdeu o vínculo do que é ser mulher negra,
brasileira, da América Latina”, completa Gonçalves.
Para
além da academia, Lélia também teve importante atuação política. Nos anos 1980,
foi indicada para o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) e, em duas
ocasiões — em 1982 e 1986 — foi candidata a deputada federal, conquistando a
suplência em ambas as oportunidades.
Faleceu
aos 59 anos, no Rio de Janeiro, em 10 de Julho de 1994, vítima de problemas
cardiorrespiratórios. Lélia Gonzalez é considerada um dos grandes nomes do
movimento negro contemporâneo. (Por Letícia
Fialho, no Brasil de Fato).
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Lélia deu origem ao conceito de Amerifricanidade, enfocando a questão do negro da diáspora. (Foto: Reprodução). |
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