No
pacote da reforma política sem participação da sociedade que está sendo votado
na Câmara dos Deputados, sob o comando do presidente da Casa, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), foi aprovado o texto-base com um artigo que eliminará candidatos do
Psol dos debates na TV.
Por
esse artigo, as emissoras de rádio e TV só são obrigadas a convidar para
debates candidatos de partidos com pelo menos nove deputados federais. Antes a
regra obrigava a convidar todos os candidatos de partidos que tinham pelo menos
um deputado na Câmara. É uma cláusula de barreira aplicada apenas aos debates
na TV.
Atinge
muitos partidos, mas o caso do Psol chama atenção porque retira dos debates
candidaturas fortes para o próximo ano, bem posicionadas nas pesquisas e com
representatividade junto aos movimentos sociais.
Luciana
Genro (Psol) foi candidata à presidenta da República e ficou em quarto lugar
com 1,6 milhão de votos. Vai se candidatar à prefeitura de Porto Alegre e
aparece em segundo lugar em uma pesquisa recente, atrás apenas de Manuela d’Ávila
(PCdoB).
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Cunha com o seu pacote prejudica partidos com base em movimentos sociais. |
Na
cidade do Rio de Janeiro, essa restrição ganha ares de casuísmo, por ser a base
eleitoral do presidente da Câmara e seu partido, o PMDB, governa a prefeitura
com Eduardo Paes no segundo mandato. O plano peemedebista é lançar o deputado
federal licenciado e secretário da Casa Civil, Pedro Paulo. É um “poste” de
Paes, ou seja, um nome que precisa ser construído, desconhecido da maioria da
população. Enquanto o Psol lançará o deputado estadual Marcelo Freixo, que
obteve 28% dos votos na eleição municipal de 2012 fazendo uma campanha modesta,
com pouco horário na TV, enfrentando o prefeito que concorreu à reeleição. Em
2016, Freixo virá mais competitivo, tanto por já ser bem conhecido como pela
conjuntura adversa do PMDB de não ter uma liderança já popular como candidato.
Por
mais que a máquina da prefeitura e do estado esteja nas mãos do PMDB, e do
atual prefeito ter um conjunto de obras relacionadas às Olimpíadas e ao legado
de mobilidade urbana da Copa do Mundo como bons cabos eleitorais, aliado ao
tempo de TV maior e ao apoio do poder econômico e midiático, é sempre um risco
lançar um “poste”. Nem toda novidade é bem aceita pelo eleitorado, e quem quer
novidade tende a votar em candidatos de oposição. Nessa conjuntura, eliminar o
oponente dos debates na TV vem a calhar.
Se
este artigo da lei se mantiver até o final da tramitação no Congresso, 12
partidos não poderão exigir participar dos debates entre candidatos na TV no
primeiro turno. São eles: PV, Psol, PHS, PTN, PRP, PMN, PEN, PSDC, PTC, PTdoB,
PSL e PRTB.
Os
outros 16 partidos, que tem bancadas maiores do que nove deputados na Câmara,
poderão exigir das emissoras participar dos debates. Isso caso lancem
candidatos, já que muitos fazem coligações e não lançam candidatura própria.
São eles: PT, PMDB, PSDB, PP, PSD, PSB, PR, PTB, PRB, DEM, PDT, SD, PSC, Pros,
PPS e PCdoB.
Há
prós e contras na cláusula de barreira aplicada a debates. Por um lado evita a
presença de candidatos “laranjas” de partidos nanicos, usados apenas como linha
auxiliar de outra candidatura mais forte para poluir o debate – cuja atuação
poderia ser limitada pela mediação do debate. Por outro, prejudica candidaturas
representativas, como os exemplos citados, e dificulta o surgimento de novas
lideranças para renovação política. Melhor faria a Câmara se debatesse mais o
tema em vez de votar de forma açodada. Mas parece que debates aprofundados,
ouvindo a sociedade, não cabem no projeto de poder de Eduardo Cunha, preferindo
passar o rolo compressor para atingir seus objetivos.
Hoje
(14), o plenário da Câmara retoma a votação dos destaques e emendas ao projeto
de lei da minirreforma eleitoral (PLs 2259/15 e 5735/13), que trata da
legislação infra-constitucional. A votação em segundo turno da Proposta de
Emenda à Constituição da reforma política (PEC 182/07) também está em pauta
para ser votada. Parlamentares do PCdoB, PT e Psol farão nova tentativa de
apresentar destaque para proibir empresas de financiarem campanhas eleitoras e
partidos.
Pelo
resultado das votações até agora, a reforma política comandada por Cunha tem
mais feição de antirreforma, já que consolida na lei regras para que as mazelas
políticas continuem como são hoje e até piorem, em vez de atender aos anseios
populares por modificações profundas no sistema político e na participação
popular. O caso mais gritante é a constitucionalização do financiamento
empresarial de campanha, rejeitado por 74% da população segundo uma pesquisa
recente encomendada pela OAB, e julgada como inconstitucional pela maioria dos
ministros do Supremo Tribunal Federal – tópico que levou a proposta a receber
dos movimentos sociais o apelido de PEC da Corrupção.
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