Após
53 anos de eleições para prefeito, o estado do Acre registrou, no último
domingo (2), a eleição do primeiro prefeito indígena. Isaac Piyãko (PMDB) foi
eleito com 56,52% dos votos em Marechal Thaumaturgo. A informação foi
confirmada pelo coordenador do Centro de Antropologia da Universidade Federal
do Acre (Ufac), Jaco Cesar Piccoli, que avalia a situação como um
"avanço" para os povos indígenas.
Publicado
originalmente no G1
O
historiador Marcus Vinícius afirmou que a primeira eleição para prefeito
ocorreu após o Acre ter uma Constituição, que foi a partir de março de 1963.
Até então, os prefeitos eram nomeados, ou pelo presidente da República ou pelo
governador do território.
"Em 1913 já teve eleição para vereador, que
na época eram chamados de conselho de vogais. Os municípios passaram a existir
a partir de 1913, mas os prefeitos foram ao longo do tempo sendo nomeados. Só
vai passar a ter eleição constitucional para prefeito depois que o Acre tem
Constituição, que é a partir de 1963", afirmou o historiador.
O
antropólogo Piccoli informou que apenas um vice-prefeito indígena havia sido
eleito no município de Santa Rosa do Purus, no interior do Acre, mas para o
cargo de prefeito, Piyãko foi o primeiro da história do estado. O indígena teve
4.094 votos contra o candidato Aldemir Lopes (PT), que teve 3.150 votos, que
corresponde 43,48%.
O
indígena contou que entrou para a política com intuito de fazer o bem para a
sociedade em geral. "Um índio
governar um município e os povos não indígenas é uma alegria e privilégio.
Existe muito o racismo e preconceito contra nós indígenas. Acredito que se eu
fizer um bom governo, parte desse preconceito será eliminado, mas e se fizer um
mau governo, pode continuar existindo esse olhar diferenciado para índios",
afirmou.
O
candidato eleito voltou a falar sobre o preconceito que sofreu ao longo da
campanha e disse conseguiu vencer pelo projeto que apresentou e pelo apoio das
pessoas. "Tentaram usar o fato de eu
ser índio contra mim. Falaram que eu iria dividir as terras do municípios para
os indígenas e outras coisas, mas eu tentava informar a sociedade e
desconstruir essas mentiras", disse.
O
antropólogo afirmou que a participação política é uma questão de cidadania, no
sentido que, tanto indígenas como não indígenas, têm plenos direitos de
participarem e exercerem seus direitos. Piccoli disse que o prefeito eleito
ganhou a chance de mostrar à sociedade que o povo indígena tem total condições
de fazer um bom trabalho.
"É uma vitória do povo indígena que aumenta a
presença em instituições do estado brasileiro, nesse caso no município.
Esperamos que a gestão seja de qualidade, demonstrando que o indígena tem toda
condição de exercer plenamente a participação social e política",
finalizou Piccoli.
Piyãko
está entre os seis prefeitos indígenas eleitos no Brasil
Isaac
Piyãko (PMDB) é um dos seis prefeitos indígenas eleitos no Brasil. Ele foi o
quinto mais bem votado entre os candidatos indígenas eleitos no país, com 4.094
votos válidos. Em primeiro lugar ficou o indígena de Pernambuco Rossine
Blesmany dos Santos Cordeiro (PSD), com 12.454 votos. Os dados são do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE).
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Isaac Paixão foi eleito prefeito de Marechal Thaumaturgo com 56,52% dos votos. Foto: Arquivo Pessoal. |