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Uma ilustração de 1551 mostra um rato preto; a autoria é de Conrad Gesner, naturalista que morreu pela peste bubônica em 1565. Ilustração: Science Photo Library. |
Os
ratos não foram os culpados pela propagação da peste bubônica na Europa do
século 14, no surto que ficou conhecido como peste negra.
Até
então, acreditava-se que os roedores e suas pulgas tivessem sido responsáveis
pela transmissão da praga, levando a uma série de surtos no Velho Continente
dos séculos 14 a 19.
Mas
uma equipe das universidades de Oslo, na Noruega, e Ferrara, na Itália, agora
diz que o primeiro destes surtos, a peste negra, pode ser "largamente atribuído a pulgas e piolhos
humanos".
O
estudo, publicado no periódico científico Proceedings of the National Academy
of Science, utiliza registros sobre os padrões de disseminação e a dimensão da
epidemia.
Estima-se
que a peste negra tenha matado 25 milhões de pessoas, mais de um terço da
população da Europa, entre 1347 e 1351.
"Temos bons dados da mortalidade pelos surtos
em nove cidades da Europa", disse Nils Stenseth, da Universidade de
Oslo, à BBC.
"Então, fomos capazes de
construir modelos da dinâmica da doença (naqueles cenários)."
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Peste bubônica afeta os nódulos linfáticos e causa grangrena. Foto: Science Photo Library. |
Explicação mais plausível
Stenseth
e seus colegas fizeram simulações de surtos da doença em cada uma dessas
cidades, criando três modelos onde a praga era disseminada por:
-
Ratos
-
Transmissão aérea
-
Pulgas e piolhos que vivem em seres humanos e suas roupas
Em
sete das nove cidades estudadas, o "modelo
do parasita humano" se mostrou uma explicação muito mais adequada para
o surto.
O
modelo refletiu a rapidez com que a praga se espalhou e o volume de pessoas
afetadas.
"A conclusão foi muito clara", diz
Stenseth. "O modelo dos piolhos se
encaixa melhor."
"Seria improvável que (a doença) tivesse se
espalhado tão rápido com a transmissão por ratos", acrescenta.
"Teria que ter passado por ciclos extras nos
roedores, em vez de se espalhar de pessoa para pessoa."
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Pulgas de roedores tem sido historicamente culpadas pela transmissão da peste bubônica. Foto: Science Photo Library. |
Transmissões na atualidade
O
professor diz que o interesse prioritário do estudo foi histórico, ou seja, de
forma a usar os conhecimentos modernos sobre a doença para entender uma das
mais devastadoras pandemias da história humana.
No
entanto, ele ressalta, "entender o
máximo possível sobre o que se passa durante uma epidemia é sempre bom para
reduzir a mortalidade (no futuro)".
A
praga ainda é endêmica em alguns países da Ásia, África e Américas, onde
persiste em "reservatórios"
de roedores infectados.
De
acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), de 2010 a 2015 houve 3.248
casos da doença registrados em todo o mundo, incluindo 584 óbitos.
Se
não for tratada, a doença tem um índice de mortalidade de 30% a 60%.
Antibióticos, contudo, são efetivos se há diagnóstico precoce.
O
mal pode ser difícil de identificar em seus estágios iniciais, porque os
sintomas, que normalmente se desenvolvem após sete dias, parecem com o de uma
gripe comum - um teste de laboratório pode confirmar o diagnóstico. A peste
afeta os nódulos linfáticos e causa gangrena.
Em
2001, um estudo que decodificou o genoma da peste usou uma bactéria que havia infectado
um veterinário nos Estados Unidos.
O
homem, morto em 1992, tentava resgatar um gato preso sob a estrutura de uma
casa quando o animal espirrou, transmitindo a doença.
"Nosso estudo sugere que, para evitar uma
eventual nova transmissão, a higiene é o mais importante", alerta
Stenseth.
"Também sugere que, se você está doente, deve
evitar ter contato com muitas pessoas. Então, se você está doente, fique em
casa." (Com informações da BBC Brasil).