![]() |
(FOTO | Carl de Souza/AFP). |
As
relações sociais no Brasil são atravessadas pelo racismo e pela discriminação
racial contra negros e indígenas, e é esta realidade responsável pela
perpetuação do racismo. A persistência desta realidade se deve a um ideário
extremamente articulado, que dá suporte ao racismo que estrutura esta
sociedade. Este ideário tem muitos pontos, mas um dos mais importantes é o
apagamento, encobrimento, distorção da história, da contribuição negra para o
processo civilizatório da humanidade e do Brasil.
Este
fator colabora em diversas frentes: na baixa auto-estima da população negra,
por desconhecer as lutas de resistência à escravização, por desconhecer a
elaboração intelectual de negros, por desconhecer ícones negros nas diversas
áreas de produção de conhecimento.
A
população negra em geral compra pra si a idéia de que é menos, de que não é
capaz, de que não merece outro lugar a não ser o que a branquitude lhe
destinou. Também colabora para o que costumamos chamar de racismo por ignorância,
que é a pessoa que é racista sem ser beneficiário direto do racismo,
simplesmente por ter introjetado em si esteriótipos racistas por
desconhecimento desta construção imensa de negras e negros na história da
humanidade, além de empobrecer as relações sociais roubando-lhe uma
enriquecedora diversidade.
Já
passamos na militância por episódios que demonstram que conhecer nossa história
muda tanto o comportamento de negras e negros, quanto de operadores de saúde,
do direito, da educação, gestores públicos em geral. Ter o conhecimento da
história negra implica em ter sensibilidade, empatia com as mazelas que o
racismo coloca cotidianamente nas relações sociais que foram estabelecidas
secularmente. Por isso tarefa que se impõe ao movimento negro neste momento é
imprimir um ritmo de informação que leve letramento racial a toda sociedade brasileira,
negros e não negros.
Temos
certeza que faz muita diferença às crianças o acesso a contos e histórias da
literatura negra africana ou brasileira. Que estudantes do ensino médio teriam
outra visão sobre a estética negra se tivessem informação nas aulas de biologia
sobre a existência de poros que fazem serem diferentes cabelos lisos e crespos
ou porque do nariz largo em países quentes. Estudantes de psiquiatria ou psicologia
se beneficiariam imensamente conhecendo Juliano Moreira, Frantz Fanon, Virgínia
Bicudo ou mesmo a contribuição de Dona Ivone Lara, isso mesmo, a sambista, para
as terapias alternativas no tratamento de doenças mentais. Para estudantes de
direito também seria um ganho imenso conhecer a produção de Luiz Gama ou de
outros tantos nas diversas áreas de produção cultural.
Enfim
é imensa a contribuição, a produção negra que pode ser trazida para o
conhecimento geral que poderiam provocar mudanças substantivas nas relações
sociais estabelecidas.
________
Texto de Regina Lúcia dos Santos, coordenadora estadual do MNU-SP e Milton Barbosa, um dos fundadores e coordenador nacional de honra do MNU, originalmente no Alma Preta.