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Bolsonaro e Ciro Nogueira: aliança da velha política pensando em 2022. (FOTO/ Marcos Corrêa/ PR). |
As
reiteradas ameaças – claras ou veladas – do presidente Jair Bolsonaro e do
ministro da Defesa, general Braga Netto, à democracia e as eleições provocam
rumores e reações da oposição, mas, pelo menos no momento, são uma tentativa do
governo de conturbar o cenário e desviar o foco da crise sanitária e da CPI da
Covid. Enquanto o militar e o chefe do Executivo alimentam manchetes e provocam
a necessária reação da oposição, o trem das gigantescas verbas federais
destinadas a emendas parlamentares alimentam a ambição dos políticos do
Centrão, que só pensam em 2022. O poder de Arthur Lira (PP-AL) não é pequeno.
Ele comanda o destino de nada menos que R$ 11 bilhões a serem distribuídos, na
forma de emendas parlamentares, de acordo com seus interesses políticos e do
bloco informal que comanda.
A
escolha do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para ocupar o lugar do general Luiz
Eduardo Ramos na Casa Civil acomoda os interesses de Bolsonaro e do Centrão. “O que esses parlamentares querem é o
dinheiro das emendas, para agradar suas bases e seus cabos eleitorais,
principalmente prefeitos e vereadores das cidades. Simples assim. O que Ciro
Nogueira vai fazer é justamente isso, garantir o acesso aos recursos”,
destaca Oswaldo Amaral, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E o presidente da República,
que chefia um governo sem projeto, tenta se garantir, evitando qualquer
tentativa de impeachment.
Recuo
Por
isso, Lira – a quem, como presidente da Câmara, cabe a decisão de dar andamento
ou não aos pedidos de impeachment contra Bolsonaro –, costuma dar declarações
evasivas e superficiais quando questionado sobre os mais de 120 pedidos que a
Casa já recebeu. Em vez disso, celebrou a manobra de Bolsonaro em reação ao
fechamento do cerco. “As últimas decisões
do governo foram pelo reconhecimento da política e da articulação como único
meio de fazer o País avançar”, escreveu Lira no Twitter nesta quinta-feira
(22), sobre a reconfiguração da Casa Civil e da rendição de Bolsonaro à “velha política“. Após as manifestações
de rua contra o presidente no #3J, o deputado usou um velho chavão. “Não podemos institucionalizar impeachment no
Brasil”, declarou.
Emendas
parlamentares são legalmente legítimas, desde que não são objeto de corrupção,
propina e favorecimentos, como aconteceu no final dos anos 1980 e parte da
década seguinte, no chamado escândalo dos “anões
do orçamento”.
Custo-benefício
Para ele, porém, o preço que o Centrão está disposto a cobrar para manter o governo Bolsonaro de pé ainda não chegou ao limite, o que ocorreria se a ligação com o presidente ameaçasse projetos eleitorais de deputados e senadores. Isso, no momento, não acontece. Se o desemprego não ceder e a inflação continuar subindo, o custo de apoiar Bolsonaro pode começar a ficar caro demais. “Precisaria ser muito alto, por exemplo um grande escândalo de corrupção. Pode ser que os desdobramentos da CPI da Covid tragam isso. Aí as coisas podem mudar.”
Na
cabeça do eleitor, o voto dado ao presidente e aos parlamentares não se
misturam. Ele julga o governo federal no voto para presidente, mas vota no
deputado por razões locais. Com os bilhões que Lira tem nas mãos para alimentar
as bases de aliados, por enquanto a situação está confortável para o Centrão. E
Bolsonaro pode seguir confiante de que o presidente da Câmara continuará
sentado em cima dos pedidos de impeachment.
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Com informações da RBA. Clique aqui e
confira íntegra do texto.