Um
grupo de pessoas do Centro de Estudos de Mídia Barão do Itararé, no Rio, se
reuniu e conseguiu realizar uma manifestação para protestar diante da TV Globo,
na rua Lopes Quintas, Jardim Botânico, por causa da sonegação fiscal de milhões
de reais na compra dos direitos da Copa de 2002 e pela proposta de lei de
iniciativa popular de democratização da mídia. Como já era de se esperar o
evento foi vigiado de perto por seguranças/policiais não identificados, mas não
foi divulgado.
“Foi
uma manifestação pacífica, mas com muito sangue nas veias! Não quebramos nada,
mas xingamos. Ah, como xingamos! Imagine mil pessoas na porta da Globo mandando
o Merval e Jabor pra aquele lugar. Imagine mil pessoas ouvindo discursos sobre
o mensalão que a Globo levou dos Estados Unidos para apoiar o golpe de 64.
Imagina mil pessoas exigindo que o Ministério Público investigue a sonegação
bilionária da Vênus Platinada”, era o que ecoava entre os que protestavam.
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Evento diante da TV Verdes Mares, afiliada da Globo em Fortaleza. Foto divulgada por Daniel Pearl Bezerra |
O microfone era aberto. Qualquer um que se inscrevia, podia falar, caracterizando o caráter genuinamente democrático da manifestação. Diferente de algumas recentes onde só diretores de Ongs tem voz…
Importante: foi uma manifestação com foco. Uma coisa é reunir 20 mil pessoas numa manifestação esquizofrênica, com um grupo pedindo a volta da ditadura, outro pedindo o anarquismo, outro espancando militantes partidários, outro pedindo socialismo, outro pedindo “bolsa Louis Vitton”. Não. Eram mil pessoas com um foco: protestar contra a Globo, contra o monopólio da mídia.
O
refrão mais cantado foi o mesmo que esteve presente nas grandes manifestações,
mas que a grande mídia, naturalmente, escondeu:
“A
verdade é dura! A Globo apoiou a ditadura!”
Claudia
de Abreu, coordenadora da Frente Ampla pela Liberdade de Expressão (Fale-Rio),
um dos movimentos sociais que lideram os debates sobre democratização da mídia
no estado do Rio, fez belíssimos discursos, sempre pontuando que não estávamos
ali para uma catarse emocional, mas preparando ações concretas para acabar com
o monopólio da grande mídia.
Miguel
do Rosário, do O Cafezinho, arguiu que a ficha criminal da Globo vai muito além
dessas estrepulias em paraísos fiscais. “A Globo cometeu crimes históricos
contra o Brasil. Lutou contra a criação da Petrobrás. Fez parte do golpe que
levou ao suicídio de Vargas. Consolidou-se financeiramente, com dinheiro
estrangeiro de um lado, e de golpistas internos, de outro, sobre o cadáver da
nossa democracia. Essas coisas têm de ser ensinadas no colégio, para que nossas
crianças, adolescentes e jovens parem de sofrer lavagem cerebral dos platinados”,
completou.
Quantos
milhões de brasileiros não deixaram de se alimentar porque a Globo patrocinou e
sustentou um golpe de Estado que interrompeu o processo de modernização
democrática que apenas se iniciava com João Goulart?
Quantos
milhões de brasileiros foram humilhados pela miséria, pela fome, pela falta de
escolas, hospitais e emprego, para que a família Marinho se tornasse uma das
mais ricas do mundo!
O
ministro Paulo Bernando também foi alvo dos manifestantes. Todos muito
indignados com a gestão reacionária, entreguista e covarde do Ministério das
Comunicações. Sua recente entrevista a Veja, tentando dar uma facada nas costas
dos movimentos que defendem a democratização da mídia, foi a gota d’água. A
incompetência da ministra Helena Chagas que não propõe à presidenta a abertura
de uma mísera conta de twitter, deixando a direita midiática pautar a agenda
política nacional, também foi muito questionada pelos manifestantes.
O
momento alto do evento foi quando centenas de pessoas levaram uma fita listrada
e “lacraram” a Rede Globo, numa alusão ao que a Polícia Federal costuma fazer
com as pequenas rádios comunitárias acusadas de alguma mísera irregularidade
burocrática. A Globo pode dever bilhões, pode fraudar, e ninguém faz nada. Os manifestantes
fizeram simbolicamente. Lacraram a TV Globo.
A
quantidade de policiais era impressionante. Havia mais PM na porta da Rede
Globo do que protegendo a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro naquela
manifestação que terminou em depredação da Alerj. Mais do que em frente à sede
do governo. A gente conversou com o major, explicamos o programa da nossa
manifestação e nos comprometemos a não deixar nenhum “infiltrado” cometer atos
de violência. Mas fizemos questão de pontuar, ao microfone, que o pior
vandalismo no Brasil vem das Organizações Globo. Um vandalismo informativo,
moral e político. Alguns garotos irresponsáveis quebraram alguns vidros da
Alerj. Depredaram uma ou duas cadeiras. A Globo, ao apoiar o golpe de 64,
ajudou a destruir os alicerces de todas as assembléias legislativas do país,
inclusive da principal, em Brasília.
Houve
muitas cantorias. Uma das mais fortes, mais emocionantes, foi “Amanhã vem mais!
Amanhã vem mais! Amanhã vem mais!”, que deve ter feito os platinados tremerem
com a possibilidade de trazermos dezenas ou mesmo centenas de milhares de
pessoas para protestar à sua porta, e à porta de todas as suas filiadas Brasil
à fora.
Foram
distribuídas quase quinhentos exemplares da revista Retrato do Brasil, do
jornalista Raimundo Pereira, que denuncia, com fartura de documentos, a farsa
do mensalão, outro golpe patrocinado pela Globo. Vale lembrar que a Globo,
aliada a forças obscuras, tem procurado manipular o sentido dos protestos para
pressionar o Supremo Tribunal Federal a agir ao arrepio da Constituição. A
Globo, além de sonegadora, é adepta de linchamentos – de seus adversários, é
claro.
Os
manifestantes saíram satisfeitos com o resultado do ato. O deputado Protógenes
Queiroz deu as caras e se dispôs a criar uma CPI da Globo e os presentes afirmaram
que dariam apoio, mas que, dessa vez, tinha que ser pra valer. Não adianta só
colher assinaturas. Tem de ser efetivamente criada e conduzida com coragem, não
por nenhum “Odarelo”.
Mais
importante que tudo, porém, é que foi produzido um ato político que por si só
pode ajudar a conscientizar as pessoas de que a concentração da mídia, do jeito
que existe no Brasil, representa um perigo à estabilidade democrática. Porque a
mídia é golpista, reacionária e anti-trabalhista, de um lado; e detêm um poder
financeiro monstruoso, de outro. A concentração apavorante da mídia brasileira
em mãos de meia dúzia de herdeiros da ditadura é uma anomalia que os amantes da
democracia devem combater com todas as suas forças.
A
presidenta Dilma tem de entender que, se não combater a mídia golpista, não vai
conseguir fazer o Brasil avançar. A mídia já está patrocinando greves patronais
de caminhoneiros, possivelmente está em conluio com alguns industriais para
sabotar a economia, tenta manipular o sentido das manifestações, tudo para
trazer a direita de volta ao poder em 2014. O plebiscito proposto pela
presidenta, por exemplo, pode vir a se tornar um tiro no pé sem uma nova e mais
ousada estratégia de comunicação, e sem um contraponto decente à Globo. A Vênus
Platinada, que é a líder do principal partido conservador, quer enterrar o
plebiscito, para desmoralizar o governo. Ou então levá-lo adiante, mas dominar
o debate, fazendo aprovar seus itens mais nocivos ao povo, como o voto
distrital.
Veja mais:
Democratização da Mídia: Movimentos de comunicação marcam ato na sede da Rede Globo
Via
Viomundo/O Cafezinho com adaptações