Quem
tinha esperança pode ir tirando o cavalinho da chuva. Embora a pesquisa
CNI-Ibope tenha mostrado Temer no fundo do poço, com apenas 3% de aprovação,
está tudo pronto na Câmara para a rejeição da denúncia que o acusa de
organização criminosa e obstrução da Justiça. Com o relator escolhido, José
Bonifácio de Andrada, aecista e governista empedernido, embora jurista
lustrado, desta vez o governo nem terá o trabalho de aprovar um substitutivo na
Comissão de Constituição e Justiça, como na tramitação da primeira denúncia.
Ele dará um parecer pela rejeição, que será aprovado pela Comissão e
referendado pela maioria do plenário. Tudo na base do jogo rápido. O governo
está “zerando todas as pendências” com os deputados, como diria Joesley
Batista. Quem tem razão é o general Leal Pujol: os deputados e senadores só
ouvirão o Brasil quando (e se) os 77% que rejeitam Temer forem para a rua.
-
Se vocês estão insatisfeitos, vão para a rua se manifestar, mostrar,
ordeiramente. Mas não é para incendiar o país, não é isso -, disse o comandante
militar do Sul em Porto Alegre.
Pujol,
ao que parece, não é da mesma corrente do general Mourão, o que defende a
intervenção militar se os poderes constituídos não resolverem a crise. Se
depender do Congresso, não haverá solução e sim aumento da irritação com os
políticos. O Congresso tornou-se um mundo apartado do Brasil real, do Brasil
dos brasileiros. São mundos incomunicantes. O Senado se encaminha para peitar o
STF e desautorizar o afastamento e o recolhimento noturno do senador Aécio
Neves. A Câmara vai novamente garantir a permanência de Temer no cargo, e a
sobrevivência de seu governo pautado pela corrupção e a pilhagem até janeiro de
2019. Pois com ele também escapam da acusação de formação de organização
criminosa os ministros Moreira e Padilha. Outros membros da organização já
estão presos ou já viraram réus: Henrique Alves, Geddel, Eduardo Cunha e Rodrigo
Loures.
A
expressão que mais ouvi na Câmara esta semana foi a de que a votação da
denúncia já está “precificada”. Ou seja, tudo já foi negociado na votação da
primeira, embora o governo não tenha resgatado as promissórias. Agora, vai
“zerar as pendências” e ganhar de novo. O PSDB, que rachou literalmente ao meio
em agosto, agora dará mais votos a Temer do que da primeira vez. Então, não dá
para ter ilusões. Dou razão novamente ao general Pujol.
-
Se os nossos representantes não estão correspondendo às nossas expectativas,
vamos mudar. Há uma insatisfação geral da Nação, eu também não estou satisfeito
– disse ele ressalvando que,
pessoalmente, como militar, não pode ir
para a rua. Os que podem, entretanto, seguem apenas reclamando, ou com seus botões ou nas conversas
privadas.
É
ilusória também a expectativa de que, se chegarmos sãos e salvos às eleições de
2018, tudo pode mudar num acerto de contas do eleitorado. Fica claro a cada dia
que dificilmente Lula poderá ser candidato. Plano B a esquerda não tem. Haverá
um candidatos da direita, alguém que ainda será inventado. Não Doria, não
Bolsonoro, que são óbvios demais, despreparados demais para dar conta da agenda
que o alto da pirâmide já nos impõe mas quer levar bem mais adiante. A do desmonte
do Estado, da entrega das riquezas, da abdicação da soberania, da radicalização
da pobreza e da desigualdade, transformando o país numa grande pastagem para o
capital predador.
No
ponto em que chegamos, no lugar das palavras de um líder, de um condutor em
tempo de crise, temos as exortações de dois generais. Ou vamos para a rua, como
sugeriu Pujol, ou vamos esperar que se cumpra o desiderato de Mourão, com um
golpe militar que varrerá o sistema político, levando junto o que nos resta de
democracia. (As informações são de Tereza
Cruvinel, colunista do 247).
![]() |
Reprodução/ 247. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!