A
polêmica proposta de emenda à Constituição (PEC) 241/2016, que trata da
limitação dos gastos públicos e integra o pacote de medidas econômicas do
governo interino de Michel Temer, foi alvo de ataques durante a sessão da
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara na terça-feira (9). De
acordo com a equipe econômica, a PEC tem o objetivo de controlar a despesa
pública da União. A admissibilidade da proposta foi aprovada depois de seis
horas de reunião na CCJ. Agora, uma comissão especial será instalada para
analisar o mérito. Depois, caberá ao plenário aprovar, em dois turnos, o teor
da matéria.
Publicado
originalmente Agência Pública
Anunciada
em maio, a PEC 241 estabelece regras que valem para os três poderes, além do
Ministério Público da União, da Defensoria Pública da União e do Tribunal de
Contas da União. Todos esses órgãos deverão limitar os gastos seguindo a
variação inflacionária do ano anterior. O ponto gerou grande atrito entre os
parlamentares. Ou seja, se a PEC for aprovada neste ano pelo Congresso, o gasto
de 2017 se limitará às despesas de 2016, corrigidas pela inflação deste ano. A
preocupação gerou contestações também de movimentos sociais e sindicatos
ligados aos trabalhadores.
O
Truco no Congresso – projeto de fact-checking da Agência Pública, feito em
parceria com o Congresso em Foco – checou a frase do deputado Aliel Machado
(Rede-PR), que acusa a PEC 241 de retroceder “direitos constitucionais já garantidos”. Concluímos que isso
realmente vai ocorrer se a proposta não for modificada. Isso porque o texto
define que acaba a atual vinculação de receitas para gastos com saúde pública e
educação, já previstas na Constituição.
Estão
preservados apenas os gastos destinados à Justiça Eleitoral para a realização
de eleições, as transferências constitucionais a estados e municípios, recursos
de complementação do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e
despesas de capitalização de estatais não dependentes.
Na
época do anúncio da medida, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou
que as despesas com saúde e educação seriam preservadas e defendeu que passarão
a obedecer o mesmo critério dos demais gastos. Serão reajustadas de acordo com
a variação da inflação no ano anterior, não mais de acordo com o crescimento da
arrecadação – como é atualmente. “O total
de gastos com educação em 2016 tem um limite mínimo fixado pela Constituição.
Esse limite mínimo será corrigido pela inflação para 2017”, explicou o
ministro, ao destacar que nada impede que o Congresso destine mais recursos
para as áreas de saúde e educação, se julgar necessário.
Mesmo
assim, um estudo técnico realizado pela Câmara dos Deputados avalia que os
impactos na educação, por exemplo, podem gerar perdas na ordem de R$ 17 bilhões
para o setor em 2025. Já no acumulado dos primeiros 10 anos, a perspectiva é de
aproximadamente R$ 58,5 bilhões, o que comprometeria todas as metas do Plano
Nacional de Educação (PNE). O estudo também avalia que a PEC vai impedir
qualquer aumento de matrículas na educação infantil e em qualquer outra etapa
da educação básica, como a construção e a abertura de novas escolas, novas
turmas e contratações de profissionais da área. Em artigo recente, a assessora
política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Grazielle David,
avalia que a “PEC 241 é uma bomba contra
os direitos constitucionais da população brasileira”. Ela explica que para
garantir os direitos à saúde, à Previdência e Assistência Social, foi definida
a Seguridade Social no artigo 194 da Constituição, que “representa uma forma de organizar a sociedade com base no princípio da
fraternidade e na garantia constitucional dos direitos”. Para Grazielle, a
PEC faz com que as despesas primárias, aquelas realizadas com as políticas
públicas que garantem os direitos, tenham seu planejamento orçamentário com
base apenas na variação inflacionária, desconsiderando o que deveria ser sua
base: as necessidades da população brasileira.
“Para piorar o cenário, a PEC 241/16 prevê
também que não haverá aumento real do que é investido nos direitos sociais, nas
políticas públicas e na seguridade social por 20 anos. Tomando a saúde como
exemplo: como a população brasileira crescerá 9% e dobrará sua população idosa
em 20 anos, de acordo com as previsões do IBGE, isso exigiria um aumento real
do valor destinado para a saúde; entretanto, isso não ocorrerá. Em valores
reais, o mesmo montante de recursos aplicado em 2017 será aplicado em 2037,
havendo apenas uma correção monetária. O resultado será uma aplicação per
capita cada vez menor no SUS, já que a demanda por serviços aumentará e o
financiamento não, o que implicará uma piora da oferta e da qualidade dos
direitos à saúde para os brasileiros. Esse exemplo da saúde é real para todos
os demais direitos: educação, previdência, assistência, transporte, todos serão
cada vez mais sucateados. Se a PEC 241/16 estivesse em vigor desde 2003, por
exemplo, a saúde teria sofrido uma perda acumulada de R$ 318 bilhões”,
detalha a assessora política no documento.
Outra
preocupação gira em torno das sanções estabelecidas pelo texto da PEC 241 aos
estados e municípios que descumprirem o teto. Entre elas estão a proibição de
criação de cargos, emprego ou função que implique aumento de despesa, a
proibição da concessão de reajustes de salários de servidores públicos (com
exceção daqueles derivados de sentença judicial ou de determinação legal
anteriores à publicação da PEC) e o impedimento de realização de concursos
públicos e da alteração de estruturas de carreiras que se traduzam em aumento
de despesa.
Para
o poder Executivo, as sanções incluem ainda a proibição da concessão de
subsídios, subvenções superiores aos do ano anterior, além do impedimento de
concessão ou ampliação de incentivos fiscais.
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Proposta é defendida por Michel Temer e sua equipe. Foto: Lula Marques/Agência PT. |
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