Em
pleno processo de impeachment, e de julgamento no Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), das ações envolvendo a chapa vitoriosa nas últimas eleições, a situação
da República tem sido marcada pela espetacularização de um permanente “pega
para capar” jurídico-policial, a ascensão da “antipolítica”, o aprofundamento
da radicalização e a fascistização do país.
![]() |
A defesa do mandato conferido pelas urnas e da institucionalidade é a proteção da democracia contra o imponderável. Foto: ato em defesa da democracia, na Avenida Paulista, em SP: 16/12/2015. |
Políticos
e empresários têm sido presos – muitos por ilações frágeis ou exagerado rigor
cautelar –, enquanto outros homens públicos e bandidos e delatores premiados
apanhados com milhões de dólares na Suíça circulam livremente ou estão em
prisão domiciliar.
Milhares
de brasileiros acreditam piamente que o Brasil é um país quebrado e destruído,
quando temos as sextas maiores reservas internacionais do mundo e somos o
terceiro maior credor individual externo dos Estados Unidos.
Que um perigoso “bolivarianismo” pretende implementar uma ditadura de esquerda na
América Latina, quando, seguindo os ritos democráticos normais, e sob amplo
acompanhamento de observadores internacionais, a oposição liberal acaba de
ganhar, pelo voto, as eleições na Venezuela e na Argentina.
Que
o Brasil é um país comunista quando pagamos juros altíssimos, e somos,
historicamente, dominados, na economia e na política, por um dos mais poderosos
sistemas financeiros do mundo, pelo agronegócio e o latifúndio, por bancos e
empresas multinacionais.
Discutindo
na mesa de pôquer da sala de jogos do Titanic, envolvidos por suas disputas, e
por uma rápida sucessão de fatos e acontecimentos, que têm cada vez mais
dificuldade em digerir e acompanhar, os homens públicos brasileiros ainda não
entenderam que a criminalização da política, criada por eles mesmos, como parte
de uma encarniçada e deletéria disputa pelo poder, há muito extrapolou o meio
político tradicional, espalhando-se, como o diabo que escapa da garrafa, como
uma peste pela sociedade brasileira, na forma de uma profunda ojeriza,
preconceito e desqualificação do sistema político, e daqueles que disputam e
detêm o voto popular.
Se
não se convocar a razão e o bom senso, para reagir ao que está acontecendo, e
se estabelecer um patamar mínimo de normalidade político-institucional, tudo o
que restará será o confronto, o arbítrio e o caos.
Está
muito enganado quem acha que o mero impedimento de Dilma Rousseff resolverá a
questão.
No
final da década de 20, os judeus conservadores comemoravam, da varanda de suas
mansões, na Alemanha, o espancamento, nas ruas, de esquerdistas e socialistas,
pelos guardas de grupos paramilitares nazistas como as SS e as SA, e se
regozijavam, em seu íntimo, por eles os estarem livrando da ameaça bolchevista.
Depois
também viram, passivamente – achando que estariam resguardados por suas
fortunas –, passar sob suas janelas, as filas de operários e pequenos
comerciantes judeus a caminho dos campos de concentração.
Poucas
vezes, na história, o efeito bumerangue costuma poupar aqueles que, como
aprendizes de feiticeiro, se atrevem a cutucar o que está dentro da caixa de
Pandora.
Depois
de Dilma e do PT, seria a vez de Temer, e depois de Temer viriam os outros –
todos os partidos e lideranças que tenham alguma possibilidade de alcançar o
poder, por via normal.
Parafraseando
Milton Nascimento, na política brasileira “nada
será como antes amanhã”.
O
Brasil que se seguirá à batalha sem quartel e sem piedade, levada a cabo pela
oposição nos últimos anos e meses tendo como fim a destruição e total
aniquilamento do PT – cujas principais vítimas não serão esse partido, mas o
Estado de Direito, o presidencialismo de coalizão, a governabilidade e a
própria Democracia – não terá a cara do Brasil do PSDB de Serra, de Aécio, ou de
FHC, mas, sim, a de Moro e a de Bolsonaro.
A
do messianismo, da vaidade, da onipotência e do imponderável, e a do
oportunismo e do fascismo – e aqui não nos referimos ao velho fascio italiano –
em seu estado mais puro, ensandecido e visceral.
Frase
Poucas
vezes, na história, o efeito bumerangue costuma poupar aqueles que, como
aprendizes de feiticeiro, se atrevem a cutucar o que está dentro da caixa de
Pandora
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!