Ao centro LuizaMahin; à esquerda Maria Felipa e à direita Tereza de Benguela. (FOTOS | site do Banco do Brasil).
O
projeto “Faces Negras Importam” lançado através do Banco do Brasil, tem
chamado atenção ao propor um resgate das narrativas de mulheres negras que
marcaram a história, com o apoio da tecnologia. A iniciativa surgiu pois, ao
utilizar a ferramenta de pesquisa do Google para buscar imagens de Maria
Felipa, Luiza Mahin e Tereza de Benguela, o mesmo retrato de uma mulher utilizando
turbante era apresentado.
No Brasil o Dia 25 de julho também homenageia Tereza de Benguela. (FOTO | Reprodução | Fundação Palmares).
Um
novo projeto audiovisual está em fase de produção, com foco contar
a narrativa e realizar uma correção histórica sobre Tereza de
Benguela, uma líder quilombola que faleceu em 25 de julho de 1770. O
filme foi concebido para ser realizado em Vila Bela da Santíssima
Trindade e nas regiões adjacentes, no estado de Mato Grosso, com a
finalidade de resgatar a terra de Tereza.
Um
abaixo-assinado organizado pela vereadora Luana (PSOL-SP) propõe a substituição
da estátua de Borba Gato que foi queimada durante a manifestação pelo "Fora Bolsonaro" no último dia 24 de julho, em São Paulo, por uma da líder quilombola Tereza de
Benguela.
Na
descrição do documento, há a justificativa de que a estátua do colono,
bandeirante e escravagista é uma homenagem absurda e desde então os “movimentos
sociais, negros e indígenas, à técnicos de preservação do patrimônio, juristas,
historiadores e outros profissionais defendem que a história deve ser contada
como ela realmente foi, e não com homenagens em praça pública aos algozes do
povo brasileiro” e que por isso a defesa da substituição se faz necessária.
“Rainha Tereza foi uma mulher negra
escravizada que se tornou líder quilombola. No século XVIII, enfrentou os
genocidas e escravocratas para acolher e defender negros e indígenas
perseguidos e escravizados, até ser morta pelo Exército Colonial em 1770. O
Quilombo do Piolho (também conhecido como Quariterê), abrigava mais de 100
pessoas, sendo este apenas uma das diversas experiências de resistência
afro-indígena do nosso país”, diz o abaixo-assinado. “Tereza de Benguela ficou eternizada como símbolo da força das mulheres
deste território, relembrada nacional e internacionalmente no dia 25 de julho,
dia das mulheres negras, latinas e caribenhas”, complementa.
Na petição
que está disponível para assinatura (clique aqui para assinar), tem ainda a
defesa do debate que é “falar da vida do
povo trabalhador que construiu esse país nas costas e não aceitar mais que os
assassinos do nosso povo sejam homenageados em praça pública.”
Desde
2014, o Brasil celebra, no dia 25 de julho, o Dia Nacional de Tereza de
Benguela e da Mulher Negra. Conhecida também como Rainha Tereza, a líder
quilombola representa um símbolo na luta contra o racismo e o patriarcado do
século 18.
Assim
como parte do apagamento da contribuição dos povos africanos no Brasil, há
poucos dados históricos sobre a vida de Tereza. Historiadores acreditam que ela
tenha nascido na Angola, outros apontam o Brasil como o seu local de
nascimento. O que se sabe é que Tereza foi uma mulher escravizada que, junto
com o marido José Piolho, eram os representantes do Quilombo do Quariterê,
(1730-1795), no Vale do Guaporé, atual estado do Mato Grosso.
Há
quem acredite que ela só comandou o quilombo após a morte do marido, que foi
assassinado por colonizadores. O fato é que Tereza foi uma revolucionária e
adotou um sistema de organização responsável por manter o quilombo, que abrigou
negros e indígenas por duas décadas. Informações do Anal de Vila Bela, de 1770,
indica que o Quilombo do Quariterê funcionava em modo de Parlamento, tendo uma
divisão política destinada para a administração, manutenção e segurança dos
mais de três mil moradores da comunidade.
“Governava esse quilombo a modo de
parlamento, tendo para o conselho uma casa destinada, para a qual, em dias
assinalados de todas as semanas, entrava os deputados, sendo o de maior
autoridade, tipo por conselheiro, José Piolho, escravo da herança do defunto
Antônio Pacheco de Morais, Isso faziam, tanto que eram chamados pela rainha,
que era a que presidia e que naquele negral Senado se assentava, e se executava
à risca, sem apelação nem agravo", diz um trecho do documento.
Sob
o comando da Rainha Tereza, o sustento dos quilombolas vinha da agricultura. A
comunidade também produzia algodão para a confecção de tecidos, que eram
trocados em feiras por armas e equipamentos utilizados na proteção da
comunidade contra os invasores colonizadores.
Visionária,
Tereza sabia que essa estrutura seria responsável por manter o Quilombo, que
resistiu sob a sua liderança até 1770, quando ela foi presa e morta pelos
colonizadores Bandeirantes. Uma outra versão é de que ela teria se matado após
a prisão. O que não muda é que o final trágico marca a trajetória de uma mulher
que morreu sob as terras do Brasil Colônia com um único objetivo: proteger os
seus na busca pela liberdade.
O
legado de Tereza de Benguela mostra como a organização de uma mulher preta é
capaz de inverter toda uma estrutura sociopolítica. A história dessa mulher
negra, líder e guerreira, se traduz na fala da filósofa norte-americana Angela
Davis, que diz: "Quando a mulher
negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela".
A
vida e morte da Rainha reverbera até os dias atuais, tanto que, em 1992, mulheres
negras latinas e caribenhas se reuniram, pela primeira vez, na República
Dominicana como um levante contra todo tipo de opressão e racismo que atingem a
comunidade negra. O Brasil, local da vida e morte de Tereza de Benguela, só
incluiu o dia 25 de julho, data da celebração de Tereza, na agenda nacional em
junho de 2014, durante o governo da presidenta Dilma Rousseff.
Em
1994, a escola de samba Unidos do Viradouro fez uma homenagem a Tereza de
Benguela durante o desfile de Carnaval, que teve como tema: "Tereza de Benguela: Uma Rainha Negra no
Pantanal". No ano passado, a Barroca Zona Sul fez um volta triunfal
após 15 anos com a história da líder quilombola no enredo "Benguela… A Barroca Clama a ti,Tereza".
Escute abaixo:
A
presidente Dilma Rousseff sancionou, no dia 2 (dois) de junho, a Lei Nº 12.987,
que instituiu o 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e também
da Mulher Negra. A lei que já tinha sido aprovada em caráter conclusivo pela
Comissão de Constituição e Justiça – CCJ da Câmara dos Deputados em 1º de junho
teve sua publicação no Diário Oficial da União no dia 3 (três).
“Rainha Tereza”, como ficou conhecida
em seu tempo, viveu na década de XVIII no Vale do Guaporé, no Mato Grosso. Ela
liderou o Quilombo de Quariterê após a morte de seu companheiro, José Piolho,
morto por soldados. Segundo documentos da época, o lugar abrigava mais de 100
pessoas, com aproximadamente 79 negros e 30 índios. O quilombo resistiu da
década de 1730 ao final do século. Tereza foi morta após ser capturada por
soldados em 1770 – alguns dizem que a causa foi suicídio; outros, execução ou
doença.
Sua
liderança se destacou com a criação de uma espécie de Parlamento e de um
sistema de defesa. Ali, era cultivado o algodão, que servia posteriormente para
a produção de tecidos. Havia também plantações de milho, feijão, mandioca,
banana, entre outros.
“Governava esse quilombo a modo de
parlamento, tendo para o conselho uma casa destinada, para a qual, em dias
assinalados de todas as semanas, entravam os deputados, sendo o de maior
autoridade, tido por conselheiro, José Piolho, escravo da herança do defunto
Antônio Pacheco de Morais. Isso faziam, tanto que eram chamados pela rainha,
que era a que presidia e que naquele negral Senado se assentava, e se
executavam à risca, sem apelação nem agravo” (Anal de Vila Bela do ano de
1770)
Após
ser capturada em 1770, o documento afirma: “em poucos dias expirou de pasmo. Morta ela, se lhe cortou a cabeça e se
pôs no meio da praça daquele quilombo, em um alto poste, onde ficou para
memória e exemplo dos que a vissem”. Alguns quilombolas conseguiram fugir
ao ataque e o reconstruíram – mesmo assim, em 1777 foi novamente atacado pelo
exército, sendo finalmente extinto em 1795.
Injustiças centenárias
Números
do IBGE apontam que ser mulher negra no Brasil significa sofrer com uma intensa
desigualdade, como no campo profissional por exemplo. 71% das mulheres negras
estão em ocupações precárias e informais, contra 54% das mulheres brancas e 48%
dos homens brancos. O salário médio da trabalhadora negra continua sendo a
metade do salário da trabalhadora branca. Mesmo quando sua escolaridade é
similar à escolaridade de uma mulher branca, a diferença salarial gira em trono
de 40% a mais para esta.
A história da “Rainha” foi relembrada em 1994
pela escola de samba Unidos da Viradouro no samba-enredo “Tereza de Benguela, uma rainha negra no Pantanal”.
A
presidente Dilma Rousseff sancionou, no último dia 2 (dois) de junho, a Lei Nº
12.987, que instituiu o 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e
também da Mulher Negra. A lei que já tinha sido aprovada em caráter conclusivo
pela Comissão de Constituição e Justiça – CCJ da Câmara dos Deputados em 1º
deste mês teve sua publicação no Diário Oficial da União no dia 3 (três).
Segundo
informações da Agência Câmara de Notícias, o deputado Evandro Milhomen (PCdoB –
AP), relator do projeto, sustentou que “Tereza
de Benguela foi uma líder quilombola que viveu no Mato Grosso do Sul. Sob sua
liderança, o Quilombo Quariterê resistiu à escravidão por duas décadas, e
sobreviveu até 1770.
A
ex-senadora e autora do texto Serys Slhessarenko destacou, conforme a Agência
que, o Brasil era o único país da América Latina que ainda não comemora o Dia
Internacional da Mulher Negra em 25 de julho. “É preciso criar um símbolo para a mulher negra, tal como existe o mito
Zumbi dos Palmares. As mulheres carecem de heroínas negras que reforcem o
orgulho de sua raça e de sua história”, frisou.
A
comissão aprovou também o PL 5371/09, da deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP), em
análise conjunta, que inclui, no calendário comemorativo nacional, o dia 25 de
julho como Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
Conheça um pouco de Tereza de
Benguela
Teresa
de Benguela chegou a liderar durante o século XVIII o quilombo Quariterê,
localizado no Mato Grosso e agregou negros, brancos e indígenas para defender
esse espaço por muitos anos. Ela é tida como uma rainha e heroína em virtude de
sua bravura na luta pela causa negra
No
momento em que o Movimento Negro se revigora nessa luta constante, não se pode
deixar de reconhecer as grandes contribuições de outrem. Então, viva Teresa de
Benguela! Viva a mulher negra.