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Weber se cercou de Jungmann e Etchegoyen. (Foto: José Cruz/Agência Brasil). |
Frustrou-se
quem esperava um posicionamento mais claro e firme do Tribunal Superior
Eleitoral em relação às denúncias de disseminação orquestrada de notícias
falsas nas redes sociais, financiada por empresários apoiadores de Jair
Bolsonaro.
Durante
cerca de três horas, a ministra Rosa Weber, presidente do TSE, e as demais
autoridades que participaram de uma entrevista coletiva neste domingo 21 em
Brasília minimizaram os efeitos da estratégia, que levanta a suspeita de
financiamento ilegal da campanha de Bolsonaro via caixa 2, mostraram-se mais
preocupados em justificar a atuação do poder público e se concentraram em
defender a lisura das urnas eletrônicas e da imparcialidade da Justiça.
“Não houve falha alguma da Justiça eleitoral
no que tange ao que se chama de Fake News”, afirmou a magistrada. Weber
insistiu na tese mesmo quando confrontada com o fato de que o TSE não
demonstrou o empenho prometido anteriormente no combate às mentiras.
Durante
a eleição, o comitê consultivo montado pelo tribunal para este fim não se
reuniu uma única vez. Muito menos as denúncias que se avolumavam foram
analisadas com atenção, até a Folha de S. Paulo estampar a denúncia de que
empresários gastaram até 12 milhões de reais para impulsionar notícias falsas
contra o PT e o candidato do partido à presidência, Fernando Haddad.
Em
defesa própria, a ministra declarou ter uma visão diferente daquela do seu
antecessor no cargo, Luiz Fux. Quando ainda ocupava a presidência do TSE, Fux
chegou a afirmar que a eleição poderia ser anulada caso se comprovasse sua
contaminação por notícias falsas. Weber não explicou a sua posição aos
jornalistas. Prometeu fazê-lo quando o processo para investigar as denúncias
for analisado no TSE.
Na
maior parte do tempo, Weber alegou sigilo das investigações para fugir das
perguntas e garantiu que os inquéritos respeitarão o “tempo da Justiça” e o “devido
processo legal”. A presidente do TSE só se mostrou contundente e preocupada
com as Fake News que atingem a credibilidade da Justiça e a lisura das urnas
eletrônicas, em geral e não por coincidência compartilhadas por apoiadores e
pelo próprio Bolsonaro, que em mais de uma ocasião colocou em dúvida a
inviolabilidade dos votos eletrônicos.
A
juíza classificou de “intoleráveis”
os boatos espalhados nas redes sociais que visam destruir a credibilidade dos
tribunais e a organização das eleições. E prometeu as medidas cabíveis contra
os autores das calúnias. A ministra tem sido alvo de ameaças. Eleitores (para
variar, apoiadores de Bolsonaro) acusam a presidente do TSE de agir para
interferir na "vontade das urnas".
“Confiem na Justiça”, solicitou. “Ela não é nem tem um partido. As criativas
teses que intentam contra a lisura do processo eleitoral não têm base empírica”.
Weber
reuniu um séquito para a coletiva. Representantes do governo, do TSE e do
Ministério Público compuseram a mesa. O presidente da OAB, Carlos Lamachia,
representou a sociedade civil. A presidente do TSE posicionou-se
estrategicamente entre o ministro Raul Jungmann, da Segurança Pública, e o
general Sérgio Etchegoyen, do Gabinete de Segurança Institucional.
Coincidência
ou não, Etchegoyen falou tanto quanto a ministra durante a entrevista. Enquanto
a presidente do TSE escapava dos pontos centrais das perguntas sobre a denúncia
da disseminação de notícias falsas contra o PT e as dúvidas sobre seus efeitos
nos resultados do primeiro turno e nas tendências apontadas pelas pesquisas no
segundo, o general fazia questão de atenuar os efeitos da denúncia.
O
militar criticou os “arautos” do
Apocalipse, sempre dispostos a apontar riscos à democracia, celebrou a
capacidade de "discernimento" do eleitor, negou interferências
externas nas eleições e afirmou que as notícias falsas são a mais inofensiva
das intervenções que poderiam acontecer na disputa deste ano. De quebra, atuou
como garoto-propaganda do WhatsApp. A rede social, disse, tem grande utilidade
para a sociedade e o poder público, inclusive na segurança pública, e “não é a vilã dessa história”.
Apesar
de afirmar que “o primeiro turno
transcorreu em clima de normalidade”, a ministra prefere esperar o
resultado das investigações da Polícia Federal, que abriu um inquérito no
sábado 20 para apurar as denúncias, para formar uma opinião a respeito dos
efeitos das Fake News nas eleições. Etchegoyen, ao contrário, tem uma convicção
formada. Segundo ele, o esquema no WhatsApp não influiu como se imagina na
decisão do eleitorado. (Com informações
de CartaCapital).