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A liderança do MTST, mas, sobretudo, a campanha à presidência, elevou Guilherme Boulos a ícone da incipiente "resistência". (Foto: Reprodução/Facebook). |
“O
gigante acordou!” A gente viu no que deu. “Não vai ter Copa!” Teve. “Não
vai ter golpe!” Teve. “Fora Temer!”
Temer ficou. “Mexeu com Lula, mexeu
comigo!” Mexeram com Lula. “Lula
livre!” Lula preso. “Não passarão!”
Passaram. “Ele não!” Ele sim. Para os
deprimidos, desalentados, inertes, dragados pelo poço sem fundo da realidade
brasileira, prescreve-se uma dose de Mujica, esse Rivotril da esquerda mundial.
“Os únicos derrotados são os que cruzam os
braços, os que se resignam à derrota”, disse o ex-presidente do Uruguai
acerca da vitória do coiso domingo passado. “Não é o fim do mundo. Aprendemos com os erros e recomeçamos. Não
devemos acreditar que quando vencemos tocamos os céus com as mãos e alcançamos
um mundo maravilhoso, apenas subimos alguns degraus. É preciso ter humildade do
ponto de vista estratégico. Não existe vitória definitiva, mas também não
existe derrota definitiva.”
Remediados
todos, é melhor Jair se acostumando: vai haver resistência, e ela se articula
aqui e agora nos movimentos sociais, entre gestores de universidades,
estudantes e até advogados empenhados em fazer do ofício uma barricada em
defesa da democracia.
A
liderança do MTST, mas, sobretudo, a campanha à Presidência, elevou Guilherme
Boulos a ícone da incipiente “resistência”,
termo que se impôs diante do discurso autoritário do presidente eleito,
esquecido de desembarcar da campanha. Na terça-feira passada, lá estava Boulos
sobre um caminhão de som em frente ao prédio do Masp, na Avenida Paulista, em
protesto convocado pela Frente Povo Sem Medo e que atraiu uma aguerrida
multidão.
“Bolsonaro foi eleito presidente, mas não
imperador”, falou ao microfone, naquela empolgante retórica que transita
entre Lula e Silvio Santos, o pastor de igreja e o sindicalista da CUT. “Ele não pode passar por cima dos valores
democráticos, da liberdade de manifestação e expressão. Precisa respeitar a
oposição e os movimentos sociais. Por isso estaremos nas ruas, pelas liberdades
democráticas e por nossos direitos.”
Há
poucos meses, para andar nas ruas bastava a Guilherme Boulos a companhia de
Batoré, amigo-assessor cooptado nas fileiras da Gaviões da Fiel, onde também
militou, embora secretamente dedicado a criar uma dissidência. Hoje Boulos está
obrigado a acompanhar-se de três seguranças profissionais, porque os tempos são
outros.
Na
quarta-feira, deputados chegaram a colocar na pauta de votação do Congresso
projeto que faz de MST e MTST organizações terroristas, através da inclusão de
ambos na Lei Antiterror, herança maldita do governo Dilma. Guilherme Boulos e
João Pedro Stedile, o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra,
passariam a versões moderadas de Bin Laden, podendo ser presos à revelia de uma
Constituição que prevê a função social da terra e dos imóveis urbanos.
A
criminalização do MST e do MTST é promessa de campanha de Bolsonaro, tão íntimo
do livro da Constituição quanto deve ser do calhamaço a respeito de Churchill
que estava sobre a mesa em sua primeira fala como presidente eleito – mais
fácil que sirvam de aparadores de porta do que efetivamente de objetos de
leitura.