Com
a lei que instituiu em 2009 a figura jurídica do Microempreendedor Individual
(MEI), o Brasil terminou 2014 com cerca de 4,6 milhões de trabalhadores
autônomos que ingressaram na formalidade nestes cinco anos. Essas pessoas
passaram a ser reconhecidas como pessoa jurídica, a pagar impostos em dia, a
ter direitos previdenciários e, ao poder emitir nota fiscal – cada vez mais
exigida por contratantes de serviços privados e do setor público –, abrem novas
perspectivas de trabalho. A carga tributária é reduzida, e o prestador pode
ainda ter acesso a bancarização e crédito.
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Gelson promove oficinas de artes: "MEI teve vantagens sobre o recibo de pagamentos autônomo (RPA). Tributação é bem menor". |
Segundo
a mais recente pesquisa do Sebrae sobre o perfil dos microempreendedores
individuais, cerca de 88 mil pessoas em média aderem ao sistema por mês no
país. “O nível de formalização obtido é
excelente, essas pessoas estavam à margem da economia e se tornaram
reconhecidas, podem oferecer nota fiscal e têm acesso a direitos”, avalia o
economista Marcio Pochmann, colunista da Rede Brasil Atual. “As políticas de Estado para as empresas
tradicionalmente focaram em organizações médias e grandes. É, portanto, recente
esse foco em pequenas empresas e empresas individuais.”
Nos
anos 1990, as políticas liberais ampliaram a precariedade das relações e das
condições de trabalho. A terceirização, o subemprego e o desemprego foram as
principais marcas desse período. Muitas pessoas eram contratadas à margem da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT); outras, com poucas oportunidades de
trabalho decente, com direitos respeitados e proteção social, optaram por
investir no trabalho “por conta”. O Brasil entrou no século 21 com taxas de
desemprego próximas dos 20% da população economicamente ativa nas regiões
metropolitanas pesquisadas pelo Dieese e pela Fundação Seade, e com 60% de sua
população ocupada na informalidade – portanto, sem nenhuma proteção social. “O segmento dos pequenos empreendedores, que
constitui a maior parte do sistema produtivo, estava à margem da economia e do
Estado”, lembra Pochmann.
De
acordo com o Sebrae, os níveis de satisfação com a condição de MEI chegam a
94%, e 84% dos empreendedores mantêm expectativa de crescer nos negócios e
superar o teto de faturamento do MEI, que é de R$ 60 mil por ano. “Vale a
pena”, afirma a técnica de prevenção contra incêndio Cíntia Fel, que atua em
Viamão (RS), município da região metropolitana de Porto Alegre. “Não tenho
reclamação. Só vejo vantagem”, avalia José Edvaldo de Oliveira Costa, dono de
um salão de beleza masculino em Juazeirinho, interior da Paraíba.
Pesquisa
do IBGE mostra que o emprego formal atingiu o maior nível em dez anos,
alcançando 58% da população ocupada, estimada em 95,4 milhões de pessoas,
enquanto a quantidade de informais, ainda alta (40 milhões), caiu 10,1% (4,5
milhões a menos). Segundo o consultor Júlio César Durante, do Sebrae-SP, o
número de adesões ao sistema torna-se ainda mais expressivo frente a esse
recuo. “O que temos formalizado é bem expressivo, é uma política de longo
prazo. Trata-se de um instrumento de desenvolvimento para o país”, afirma
Durante, observando que passos fundamentais para o sucesso da formalização
foram a inclusão do conceito de pequena empresa no Código Civil, em 2002, e o
Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte – Lei 9.841, de 1999.